BID lança iniciativas para financiar projetos sustentáveis na Amazônia

Banco de fomento sinalizou aporte de US$ 20 milhões e informou estar em contato com possíveis investidores

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Washington e Brasília

O BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) lançou nesta quinta-feira (18) uma iniciativa para desenvolver projetos sustentáveis na Amazônia, celebrada pelo governo brasileiro em meio a críticas da comunidade internacional sobre as políticas negligentes de Jair Bolsonaro em relação ao meio ambiente.

Indicado por Donald Trump para o posto no ano passado, o presidente do BID, Mauricio Claver-Carone, disse que a instituição está disposta a comprometer US$ 20 milhões em recursos para a elaboração de projetos sustentáveis na região da floresta —que, pela primeira vez, foi tema de um encontro do BID.

Além disso, o chefe da instituição afirmou que o banco acolheu a sugestão do governo brasileiro de criar um fundo de bioeconomia para a Amazônia, e já está em contato com investidores para a arrecadação de recursos, ainda sem valores detalhados, neste caso.

"Os países amazônicos pediram que o BID desenvolvesse uma iniciativa, um marco financeiro e cooperativo para os próximos cinco anos", disse Carone. "Há vontade política e interesse do setor privado para isso", completou, acrescentando que o banco quer ver "resultados e não diagnósticos", dentro de prazos mais plausíveis.

Após o discurso de Carone, o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, falou por cerca de cinco minutos em um pronunciamento gravado em vídeo.

Bolsonaro agradeceu pela iniciativa de criação do fundo e afirmou que os países da região têm compromisso com a conservação e o uso sustentável da floresta.

De acordo com o presidente, nos últimos seis meses, por iniciativa do governo, houve uma queda de 20% nos alertas de desmatamento em comparação com o mesmo período do ano anterior. Segundo ele, foi evitado o desmatamento de uma área equivalente a mil quilômetros quadrados.

“O desenvolvimento sustentável e o fim do desmatamento ilegal dependem da valorização da economia amazônica e da melhoria da qualidade de vida da população local. Por isso, estamos trabalhando para criar empregos, produtos e serviços que utilizem de modo sustentável os recursos da floresta”, disse.

Essa foi a segunda vez que Bolsonaro falou sobre Amazônia para um público internacional desde a posse de Joe Biden, em 20 de janeiro. Na terça (16), ele defendeu o desenvolvimento sustentável em reunião com outros líderes da América do Sul, integrantes do Prosul, mas também sem apresentar detalhes ou metas específicas do Brasil para alcançar os objetivos da agenda ambiental.

O discurso já estava agendado e foi gravado, mas acontece no mesmo dia em que o Planalto divulgou trechos de uma carta do presidente americano, datada de 26 de fevereiro, em que Biden cobra comprometimento do Brasil com as questões ambientais e disse esperar ações conjuntas com o líder brasileiro para combater as crises.

Biden já deixou claro que as mudanças climáticas estão no centro de seu governo —e a preservação da floresta permeou conversas bilaterais entre autoridades dos governos brasileiro e americano que aconteceram até agora.

O ministro Paulo Guedes (Economia) também participou do evento. Segundo ele, a pasta tem como prioridade estabelecer bases para uma agenda de crescimento verde. Entre as iniciativas citadas, afirmou que o governo tem feito regularização fundiária e destinação de terras na Amazônia, sob a justificativa de que isso gera segurança jurídica e leva os produtores rurais para a legalidade.

“A floresta é um patrimônio que deve ser cuidado para usufruto das gerações atuais e futuras, produzindo bens e serviços ambientais que beneficiem a população local, o Brasil e o mundo. A exploração insustentável da floresta é um sintoma de sistema econômico de baixa produtividade, à margem da lei e com perspectivas limitadas a curto prazo”, disse.

Na reunião desta quinta, foi debatida a iniciativa do BID para priorizar a Amazônia em suas atividades. Clima e diversidade, por exemplo, já eram assuntos preferenciais do banco na alocação de recursos, mas agora, com a Amazônia de volta ao centro do palco mundial, a floresta também entrou na lista da instituição.

De acordo com números divulgados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o desmatamento na Amazônia voltou a bater recorde e cresceu 9,5% de 2019 a 2020. No total, a área derrubada na floresta foi de 11 mil quilômetros quadrados, a maior da última década.

Biden e Bolsonaro ainda não se falaram diretamente, mas o ministro Paulo Guedes (Economia) já conversou por telefone com a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, enquanto o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, falou com o secretário de Estado americano, Anthony Blinken, e, depois, ao lado do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, teve uma reunião virtual com o chamado czar do clima do governo Biden, John Kerry.

Como revelou a Folha, a ordem na Casa Branca é que as primeiras ações do governo americano em relação à Amazônia devem ser tratadas com diálogo e não envolvam sanções contra o Brasil. Uma das ideias é que haja um fundo de financiamento —com aportes públicos e privados— em troca do comprometimento do Brasil com metas de preservação da floresta.

No sábado (20) e domingo (21), acontecem as reuniões fechadas do BID, que devem ter caráter mais decisório entre os acionistas.

Carone tenta aumentar o capital da instituição em US$ 80 milhões, mas não deve ter sucesso na empreitada. Sem apoio de Biden e dos democratas no Congresso, será difícil para o presidente do banco aprovar a ampliação de empréstimos para a América Latina.

Ele diz que, em meio à pandemia, será preciso cortar despesas, e é apoiado pelo Brasil em suas decisões --os EUA são os maiores acionistas do BID, com 30% de participação, enquanto o Brasil tem 11,4%.

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