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Complexo de mineração da Vale em Canaã dos Carajás, no sudeste do Pará: demanda aquecida e busca por rendimentos jogou para cima os preços de commodities como o minério de ferro.| Foto: Ricardo Teles/Agência Vale

Após o estrago da pandemia na atividade econômica em 2020, o mercado financeiro vem enxergando 2021 com um pouco mais de confiança. As previsões de crescimento do PIB neste ano estão em alta, com a mediana de estimativas coletadas no boletim Focus, do Banco Central, crescendo meio ponto porcentual nas últimas cinco semanas e chegando a 3,52%. No entanto, há instituições avaliando que o país deve crescer acima de 4%, e já há um banco entre os pesquisados pelo BC que trabalha com um avanço de 5%. O governo também aumentou sua previsão, para 3,5%. Caso as expectativas mais otimistas se confirmem, seria o maior crescimento desde o “pibão” de 2010, quando o Brasil cresceu 7,5%, puxado pela forte demanda global por commodities.

E os motivos que levaram ao desempenho daquele ano também são parte da equação do crescimento em 2021, já que especialmente soja e minério de ferro estão especialmente valorizados. O real fraco favorece as exportações não só dessas, mas também de outras matérias-primas e alimentos, cuja demanda é puxada pela recuperação das economias desenvolvidas, em ritmo ainda mais forte que a retomada brasileira. Entre outros fatores apontados por bancos e centros de pesquisa como propulsores da economia brasileira em 2021 estão a baixa taxa de juros (apesar das altas recentes na Selic), a recuperação do mercado de trabalho formal, o desempenho da indústria de transformação e o aumento nos investimentos. As instituições ainda avaliam que os efeitos negativos das novas ondas da Covid-19 não têm sido tão intensos quanto se imaginava, embora ainda estejamos no meio da tempestade.

O Brasil desperdiçou o “pibão” de 2010 em inchaço estatal e gastança desenfreada. A recuperação brasileira em 2021 não pode ter o mesmo destino

O otimismo quanto ao PIB não vem dissociado de algumas ressalvas. O ministro Paulo Guedes vem repetindo que a vacinação é a chave para destravar o crescimento do país, pois permitirá que as atividades econômicas e sociais voltem ao “antigo normal”, sem restrições – um cenário que já vem ocorrendo em alguns países e regiões. O Brasil é o quarto país do mundo em número total de doses aplicadas, mas ainda assim apenas nesta terça-feira o país superou a marca de 20% da população a receber pelo menos uma dose do imunizante; considerando os que receberam as duas doses, a proporção cai para 9,9%, segundo a base de dados Our World in Data. Ainda estamos longe da porcentagem que nos permitirá vencer definitivamente a pandemia.

E antes o ritmo de vacinação fosse nossa única grande preocupação. Ainda está na memória recente do brasileiro o fim da história que teve o “pibão” de 7,5% em 2010 como um de seus capítulos. O PT surfou na onda das commodities, colocou Dilma Rousseff no Planalto, e ela manteve a “nova matriz econômica” iniciada no segundo mandato Lula e conduzida pelo ministro Guido Mantega. Inchaço do Estado, gastança desenfreada e estímulo total ao consumo em vez da poupança cobraram sua fatura cinco anos depois, e mesmo que não tivesse havido Covid-19 ainda estaríamos lidando com as consequências daquele descalabro.

É este erro que o Brasil não pode, de maneira alguma, repetir caso estejamos diante de uma nova chance de crescer de forma significativa, mas há sinais preocupantes no horizonte quanto à saúde fiscal do país, como aponta a Fundação Getúlio Vargas. Esses sinais já vinham desde que a reforma da Previdência e a PEC Emergencial foram desidratadas, atenuando sua capacidade de realizar um verdadeiro ajuste fiscal; as recentes discussões sobre o Orçamento da União, com suas tentativas de contornar o teto de gastos, apenas reafirmaram a força da ala gastadora no governo e no Congresso. O crescimento de agora tem de ser usado como base para mais crescimento futuro; será um crime desperdiçá-lo novamente nos sorvedouros do gasto público ilimitado.

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