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Carla Araújo

REPORTAGEM

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Bolsonaro vai tirar poder de Guedes para recriar Ministério do Trabalho

Do UOL, em Brasília

21/07/2021 10h00Atualizada em 21/07/2021 19h11

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O presidente Jair Bolsonaro disse nesta quarta-feira (21) que vai anunciar mudanças em ministérios. Ao menos uma decisão já está tomada: a superpasta de Paulo Guedes, ministro da Economia, será esvaziada.

Segundo fontes do primeiro escalão do governo, a ideia é criar um novo Ministério do Trabalho, que deverá ser chamado Ministério do Emprego e da Previdência Social. O Ministério do Trabalho foi extinto logo no início do governo Jair Bolsonaro (sem partido), em janeiro de 2019, junto com outros ministérios da área econômica. As pastas foram fundidas para dar origem ao superministério da Economia.

No início da tarde desta quarta-feira, em coletiva para comentar os resultados de arrecadação do governo, Guedes confirmou que haverá mudança em sua pasta. "Tem novidade chegando. Tem novidade até na nossa organização estrutural. Vamos fazer uma mudança organizacional. E essas novidades são justamente na direção de emprego e renda", disse Guedes.

O nome mais cotado para comandar a pasta recriada é o atual ministro da Secretaria Geral, Onyx Lorenzoni. O ministro da Economia já teve uma reunião nesta manhã com Onyx para tratar da nova pasta.

Para o lugar de Onyx no ministério palaciano, seria escolhido o ministro Luiz Eduardo Ramos, que hoje ocupa a Casa Civil.

A pressão para o desmembramento da pasta de Guedes não é de hoje, mas o ministro sempre resistiu à ideia e afirmava que a separação atrapalharia a lógica de seu plano de governo.

Acordo com Guedes

Segundo fontes do governo, no acordo do presidente Bolsonaro com Guedes para que ele concordasse em perder um braço do superministério foi colocada pelo menos uma condição: a manutenção do atual secretário da Previdência, Bruno Bianco, na nova pasta.

Guedes também cedeu a pasta do Trabalho para evitar perdas maiores em sua estrutura, como o antigo ministério do Planejamento ou do Comércio. A avaliação, segundo fontes próximas ao ministro, é que foi melhor "entregar os anéis para não perder os dedos".

Apesar do acordo entre Guedes e o presidente, a continuação de Bianco deve ser apenas temporária, já que Onyx costuma levar a sua equipe por ministérios onde já passou e vai querer deixar "sua marca" na nova gestão.

A aposta é que Bianco permaneça pelo menos durante o que seria uma transição para a equipe de Onyx tocar o novo Ministério do Emprego e Previdência. O secretário conquistou a confiança do ministro e do presidente e há quem cogite inclusive que, caso não continue com a Previdência, ele ocupe outro cargo no governo.

Mudanças abrem mais espaço para o centrão

O posto de Ramos na Casa Civil deve ser ocupado por um integrante do centrão. O nome apontado hoje é do senador Ciro Nogueira (PP-PI). Nogueira é presidente do PP (Partido Progressistas), um dos principais partidos do bloco de parlamentares do centrão, que dá sustentação parlamentar ao governo. Apesar de compor a tropa de defensores do governo na CPI da Covid, no Senado, Ciro tem evitado embates mais duros e o governo temia um desembarque do aliado.

O PP também é o partido do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Lira vem segurando as pressões para a abertura de um processo de impeachment do presidente Bolsonaro. Há mais de cem pedidos protocolados na Câmara, mas a decisão de abrir um processo depende do presidente da Casa.

CPI da Covid, reprovação ao governo e Lula

A reforma ministerial acontece em um momento de pressões sobre o presidente Bolsonaro. As investigações da CPI sobre supostas irregularidades nas negociações de vacinas pelo Ministério da Saúde levaram à abertura de um inquérito, pela Polícia Federal, para apurar se Bolsonaro prevaricou, ou seja, se deixou de comunicar às autoridades competentes uma denúncia de suposto crime no caso da vacina indiana Covaxin.

Pesquisas de opinião têm mostrado baixa popularidade do presidente. Segundo Datafolha, no início de julho, a reprovação a Bolsonaro havia subido e atingido 51%, o maior índice nos 13 levantamentos feitos pelo instituto desde que ele assumiu o governo, em 2019.

Também no início de julho, o Datafolha mostrou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ampliou sua vantagem sobre Bolsonaro em pesquisas de intenção de voto nas eleições de 2022. Lula lidera nos dois cenários apresentados para o eleitor e em todas as simulações de disputa de segundo turno —naquela em que enfrenta o presidente, ganha por 58% a 31%.