Franklin de Freitas – Comércio curitibano também sofreu com a pandemia e as incertezas do ano passado

Após um período de crise mais aguda por conta da pandemia do novo coronavírus, com forte perda de receitas, necessidade de corte de gastos, readequações de carga horária e até da forma de se trabalhar (presencial ou remoto), as empresas de Curitiba dão sinais de estarem se adaptando ao chamado ‘novo normal’. É isso o que mostra a Pesquisa de Impactos Empresariais da Covid-19, realizada pela Agência Curitiba de Desenvolvimento SA, em parceria com o SEBRAE-PR e com o apoio técnico da Realize Hub.

Em sua segunda edição, divulgada ontem com base em dados coletados entre outubro e novembro do ano passado, o estudo identificou uma melhora no ânimo dos empresários, que estão menos preocupados e mais esperançosos com relação ao futuro. Essa melhora no humor dos empreendedores vem na esteira de um arrefecimento dos impactos econômicos (perda de faturamento) decorrentes da crise sanitária.

Na primeira investigação realizada entre os meses de maio e junho, por exemplo, 50,79% dos empresários entrevistados disseram acreditar que iriam superar as dificuldades, enquanto apenas 21,58% se preocupavam com as incertezas e 19,21% relataram preocupação com dificuldades. Já no segundo semestre (outubro e novembro), a confiança de superação das adversidades subiu para 62,9%, e consequentemente a incerteza (8,61%) e as dificuldades (10,6%) apresentaram queda.

Quando se analisam os impactos da pandemia no faturamento das empresas, é possível notar um dos principais motivos para otimismo No primeiro levantamento, 64,8% das empresas haviam relatado uma perda de pelo menos 40% do faturamento, sendo que 19% registrou queda superior a 80% e 7,9% tiveram de suspender as atividades. Já no segundo semestre, o porcentual de empresas que perdeu mais de 40% do faturamento caiu para 52,5%, com 5,7% dos entrevistados sem faturar nada (atividade suspensa) e 15,6% sobrevivendo com menos de 20% do faturamento habitual.

Além das empresas estarem “perdendo menos”, porém, o estudo da Agência Curitiba também identifica que já há mais gente (no caso, pessoas jurídicas) conseguindo recuperar a renda ou até mesmo retomar o crescimento. No primeiro semestre, 10,9% das empresas haviam tido alguma alta no faturamento, mas nenhuma das entrevistadas havia dobrado o montante que entra no negócio. No segundo semestre, 16,2% já estavam faturando mais, com 2,1% das empresas tendo registrado crescimento superior a 100%.

Divulgada ontem, a Pesquisa de Impactos Empresariais da Covid-19 contou com a participação de 159 empresas curitibanas, que responderam um formulário eletrônico com 41 questões. Entre as participantes, a maioria era de micro porte (52,6%) ou MEI (26,9%). Com relação ao perfil da atividade, comércio varejista (24%), prestação de serviços (que não em tecnologia, com 21,3%) e prestação de serviços em tecnologia (14,3%) lideram entre os entrevistados.

Empresas que optaram pelo ‘home office’ buscam menos crédito

Um dado curioso revelado pelo estudo da Agência Curitiba de Desenvolvimento é que as empresas que optaram pelo home office total estão em busca de menor crédito do que as que estão parcial ou que não alteraram as operações. Já as que não alteraram as operações, solicitam menos crédito do que aquelas que optaram pela operação mista, ou seja, mantiveram operação física mas também estão em home office. Resumindo, quem pôde manter sentiu menos e quem topou mudar para valer sentiu ainda menos. Já quem está em cima do muro foi mais impactado.

Também foi demonstrado que, nos dois períodos da mensuração, mais de 60% das empresas realizaram alterações nas jornadas de trabalho. Quanto aos desligamentos, ocorreram 27,9% entre os colaboradores em regime CLT no primeiro período da pesquisa e 29% no segundo período. Sendo que também ocorreram mais de 33% de desligamentos de terceirizados nos dois períodos do levantamento.

Resposta

Pesquisa deu origem a produtos

O estudo deu origem a dois produtos, dashboard estratégico e um infográfico que estão disponíveis no site do Invest Curitiba. São dados que oferecem um panorama geral de um cenário econômico influenciado por diversos fatores tais como legislações, restrições de atividades, apoios emergenciais, planos de suporte público, finanças privadas e públicas, desenvolvimento tecnológico, entre outros fatores.

“Não buscamos uma validação estatística tangencial ao tempo e sim conhecer e acompanhar a evolução dos impactos sentidos pelos empresários, de forma agregada e num contexto pré-pós pesquisa”, disse o gestor de incentivos à inovação e startups da Agência Curitiba, Marlon Cardoso.

Vitor Hugo Domingues, CEO da Realize Hub, destaca possibilidades que o dashboard oferece como mapear e analisar individualmente cada dado e extrair deles informações importantes para cada empreendedor, como verificar como se comportaram as empresas que tiveram crescimento no o período, que mudanças elas adotaram.

“Mais do que dados abertos, este estudo evidencia como Curitiba é de fato uma smart city”, disse Domingues.

Para Lucas Hahn, coordenador estadual de mercado e varejo do Sebrae/Pr, a pesquisa aponta dados relevantes para ações articuladas em diferentes setores.

“Agora temos uma massa de dados para trabalhar de forma coordenada e unida para promovermos ainda mais rapidamente a retomada econômica e de qualidade de vida que a cidade precisa, embora muito já esteja sendo feito”, destacou Hahn.