Ajuste de contas, política industrial e cadeia produtiva são destaques do primeiro dia do ENAI

Encontro Nacional da Indústria acontece de forma virtual até esta quarta (18). Retomada econômica e instrumentos de incentivo ao desenvolvimento industrial dominam primeiro dia.

O Brasil precisa ajustar as contas públicas se quiser ter crescimento econômico sustentável e saudável nos próximos anos. Essa foi a mensagem principal do painel Perspectivas para a Economia Brasileira (veja como foi), que contou com a participação da economista-chefe do Santander, Ana Paula Vescovi, do economista Eduardo Gianetti, e com moderação do gerente-executivo de Economia da CNI, Renato da Fonseca. 

Segundo os especialistas, as medidas emergenciais adotadas pelo governo para o enfrentamento à pandemia foram importantes para reduzir os impactos negativos na economia, mas não podem se perpetuar por muito tempo sem conter outras despesas dentro do teto de gastos.

Entre as prioridades para o país recuperar a sustentabilidade das contas públicas é aprovar uma ampla reforma administrativa que reduza o engessamento do orçamento público, em especial com salários elevados de servidores.  

Economista-chefe do Santander, Ana Paula Vescovi, economista Eduardo Gianetti e gerente-executivo de Economia da CNI, Renato da Fonseca no primeiro painel do ENAI

De acordo com Gianetti, a questão do ajuste das contas públicas é fundamental ainda mais porque há muitas incertezas em relação à dinâmica da pandemia, o momento em que sairá a vacina para combater o coronavírus e o comportamento de consumidores e investidores.

“Precisamos recuperar a confiança na economia brasileira precisamos dessa ancoragem fiscal, por meio de uma reforma administrativa, reajuste no salário-mínimo sem aumentar o poder de compra, privatizações e concessões e manutenção de taxa de juros baixa”, destacou o economista. 

Outro ponto prioritário é a retomada das discussões sobre a reforma tributária para tornar o ambiente mais favorável aos negócios. Na visão de Ana Paula, não é necessário aumentar a carga tributária se a sociedade desejar um Estado menor. “Trazer eficiência nesse campo onde temos ineficiência poderá trazer aumento da arrecadação via uma economia mais pujante”, disse.

Política industrial para reforçar a participação do Brasil mercado global

Especialista miram nos exemplos que vêm de fora para reforçar a importância do Brasil definir uma política industrial com o objetivo de dar musculatura suficiente para o país competir no mercado internacional. Com a participação do presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), José Ricardo Roriz Coelho, e do economista CEO da Fator Administração de Recursos (FAR), Paulo Gala, o painel mediado pelo gerente de Políticas Industriais da CNI, João Emilio Gonçalves, tratou dos componentes que devem integrar uma política industrial eficiente.

Os especialistas enfatizaram que a política industrial voltou com força à agenda dos países mais competitivos do mundo. Destacaram que com o surgimento da Indústria 4.0, os governos das principais nações industriais têm trabalhado em políticas robustas para fomentar o desenvolvimento e incorporação de tecnologias digitais nas empresas.

“Sem uma política industrial adequada não teremos condições de competir no mercado global. É como colocar o boxeador peso pena para lutar com o Mike Tyson no auge da sua forma”, comparou o economista Paulo Gala. Ele defendeu que uma política industrial eficiente deve ter uma meta clara, com um espaço de tempo bem definido e a missão objetiva de conquistas mercados internacionais.


“Basta olhar para os países mais desenvolvidos como os EUA, a Alemanha, China ou Coréia do Sul. Empresas como Samsung ou Hyundai não nasceram do espírito empreendedor de um coreano, mas de uma política bem desenvolvida e articulada entre governo e iniciativa privada”, comentou.


Gala destacou que o Brasil está atrasado inclusive no debate sobre o tema. “Essas são questões totalmente superadas em outros países. Se pegarmos os planos de governo do Trump e do Biden, no quesito política industrial são iguais”, explicou.

José Ricardo Roriz Coelho defendeu a importância do desenvolvimento da indústria por meio de uma política coordenada entre o governo e iniciativa privada para alavancar os demais setores da economia.

“A cada real produzido pela, são gerados R$ 2,32 para a economia brasileira como um todo. Para se ter uma ideia, a agricultura gera R$ 1,67 e, o setor de serviços, R$ 1,51 a cada real produzido, de acordo com cálculos da CNI”, comentou Roriz. Ele enfatizou que a política industrial é fundamental o Brasil voltar a ter relevância no comércio exterior.

Integração nas cadeias de valor abre oportunidade para pequenos negócios

A competição hoje no mundo de negócios se dá não apenas entre indústrias, mas cada vez mais entre cadeias de produção de empresas de pequeno, médio e grande portes. Durante o painel “Redefinindo o Supply Chain”, o gerente da Unidade de Competitividade do Sebrae Nacional, César Rissete, afirmou que essa integração entre as cadeias de produção abre cada vez mais oportunidade para os pequenos negócios.

“As pequenas empresas precisam adquirir novas competências, como processos e tecnologias, para conseguir ingressar nas cadeias das médias e grandes empresas”, afirmou Rissete.  

João Pedro Branco, partner na McKinsey & Company, ressaltou o ganho que as empresas de diferentes portes têm, ao precisar integrar suas cadeias de produção, em três pontos: a compreensão de seu modelo de abastecimento; a melhoria de seus processos de gestão e planejamento; e a eficácia e eficiência dos processos produtivos.

A seu ver, de um lado, as pequenas e médias empresas têm muito ensinar sobre agilidade e inovação. De outro, as grandes, sobre a importância do processo e do planejamento. “É impossível dissociar a grande empresa da pequena e média”, afirmou. 

Sebastian Pereira, sócio-diretor da Sebanella Reciclagem de Gesso, explicou que o processo de produção de sua empresa vai desde o recolhimento de resíduos da construção civil, em 94 pontos, passando pelo armazenamento e industrialização do produto, até a distribuição.  

“Fazemos tudo isso com base em indicadores, com uma interligação forte na empresa. Precisamos saber, por exemplo, da quantidade de gesso que o cliente precisa por dia, para mantermos nossa produção abastecida e interligar essas informações com os nossos 94 pontos de recolhimento”, disse Pereira.

Acompanhe os grandes temas em discussão no ENAI 

Em dois dias de evento, o ENAI debaterá os grandes temas associados ao desenvolvimento da indústria brasileira e da economia nacional. Representantes de setores industriais, especialistas, pesquisadores e empresários vão debater temas como reformas estruturantes – tributária e administrativa – a necessidade de formulação de uma política industrial em sintonia com as tendências do século 21, a indústria 4.0 e os processos de transformação digital a sustentabilidade e as novas formas de trabalho. Confira!

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