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Covid-19: o que é deltacron e outras 3 questões-chave sobre a pandemia em 2022

A atenção mundial está focada na Ucrânia, mas a pandemia continua a ameaçar o planeta. O que aconteceu com o coronavírus nessas três semanas de guerra?

18 mar 2022 - 12h02
(atualizado às 12h14)
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Amostras de laboratório com variantes
Amostras de laboratório com variantes
Foto: EPA / BBC News Brasil

A atenção mundial está voltada para o conflito entre Ucrânia e Rússia. Durante essas semanas, a dura realidade de uma guerra no meio do continente europeu tirou a pandemia do coronavírus das manchetes, mas ela segue impactando a saúde pública.

Embora muitos países já tenham altas taxas de vacinação e imunidade natural, continuamos expostos a novos surtos do patógeno, à ameaça de novas variantes e à incerteza se precisaremos de mais vacinas.

Grande parte do mundo está experimentando um novo aumento nos casos. A China, por exemplo, esta semana restabeleceu bloqueios severos não vistos desde o início de 2020.

Este 11 de março marca dois anos desde que a pandemia foi declarada.

A BBC Mundo, serviço em espanhol da BBC, explica três desenvolvimentos importantes sobre o coronavírus até este momento em 2022.

1. O que é a deltacron?

O termo apareceu com frequência em vários sites de notícias nas últimas semanas.

É usado para referir-se a uma "recombinação" das variantes delta e ômicron, mas não de trata de uma nova variante.

"Gostaria de esclarecer que não existe uma nova variante chamada 'deltacron'. O uso dessa terminologia deve ser evitado", diz Sylvain Aldighieri, médico da Organização Pan-Americana da Saúde.

"A recombinação é um fenômeno natural descrito em diferentes vírus como um mecanismo de mutação para trocar material genômico. Isso pode ocorrer quando dois vírus da mesma espécie, mas geneticamente diferentes, infectam a mesma célula no mesmo indivíduo", explica Aldighieri.

Deltacron não é uma nova variante do coronavírus, nem causa preocupação, embora os cientistas continuem monitorando
Deltacron não é uma nova variante do coronavírus, nem causa preocupação, embora os cientistas continuem monitorando
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Os primeiros casos de deltacron foram detectados na França em janeiro de 2022.

Desde então, o fenômeno foi registrado na Bélgica, Alemanha, Dinamarca, Holanda e, mais recentemente, no Reino Unido, Estados Unidos e Brasil.

O número total de casos permanece baixo.

"Atualmente, não há evidências de aumento dos padrões de transmissão ou mudanças nos resultados clínicos devido a esse evento de recombinação. Embora nenhuma ameaça específica à saúde pública seja esperada, a vigilância genômica deve ser mantida e fortalecida para detectar precocemente quaisquer mudanças no comportamento", diz Aldighieri.

2. Por que os casos estão aumentando globalmente?

Após mais de um mês de declínio, os casos de covid voltaram a aumentar no mundo desde a semana passada.

Novas infecções aumentaram 8% na semana de 7 a 13 de março em relação à semana anterior. No total, foram registrados 11 milhões de novos casos.

O maior aumento foi na região do Pacífico Ocidental, incluindo Coréia do Sul e China, onde os casos cresceram 25% e as mortes 27%.

A África, por sua vez, também registrou um aumento de 12% nas novas infecções e um aumento de 14% nas mortes.

Testagem na China
Testagem na China
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Na Europa, embora um aumento de mortes não tenha sido registrado, vários especialistas expressaram preocupação de que o continente possa estar enfrentando uma nova onda, com número de casos aumentando desde o início de março em países como Áustria, Alemanha, Suíça, Holanda e Reino Unido.

Os Estados Unidos e a América Latina continuam a ver números de infecções diminuindo, embora alguns especialistas pensem que o que acontece em outras regiões do mundo pode em breve se generalizar para os demais continentes.

E isso, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), pode ser apenas a ponta do iceberg, já que muitos países pararam de testar massivamente suas populações enquanto suspendiam as restrições.

"O aumento de casos em todo o mundo é preocupante. Isso nos lembra que ainda não estamos em uma situação endêmica com número estável de casos ou em um cenário em que os níveis de infecção sejam explicados pela sazonalidade", disse à BBC Mundo o professor Aris Katzourakis, da Universidade de Oxford, no Reino Unido.

"Concordo com o relaxamento das restrições porque você não pode pensar nisso como uma emergência depois de dois anos", diz Antonella Viola, professora de imunologia da Universidade de Pádua, na Itália.

Estação de Waterloo em Londres.
Estação de Waterloo em Londres.
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

"Só temos que evitar pensar que a covid não existe mais. E, consequentemente, manter as medidas rigorosas necessárias, essenciais para o monitoramento e rastreamento contínuo dos casos, e manter a obrigação de usar máscaras em locais fechados ou lotados."

Entre os fatores que explicam o aumento de casos estão a flexibilização das medidas de controle, o abandono dos testes em massa, a diminuição da proteção das vacinas e a alta prevalência da ômicron e sua subvariante BA.2, a mais transmissível até o momento.

3. Que variante é atualmente dominante?

A variante ômicron causou alerta global ao desencadear uma explosão de novos casos em todo o mundo no final de 2021 e início de 2022.

Agora, sua ação conjunta com a subvariante BA.2 continua a explicar em parte esse novo aumento de casos.

"A dominância de BA.2 indica uma alta probabilidade de que sua alta transmissibilidade e evasão imunológica façam parte desse aumento global", diz Katzourakis.

Não há evidências de que BA.2 cause doença mais grave ou que alguma outra variante esteja levando ao aumento global de casos.

No final de fevereiro, a OMS esclareceu que a sublinhagem BA.2 deve continuar a ser considerada uma variante de preocupação e permanecer classificada como ômicron.

Ômicron e sua sublinhagem BA.2 continua sendo a variante dominante no mundo
Ômicron e sua sublinhagem BA.2 continua sendo a variante dominante no mundo
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

4. Serão necessárias mais vacinas ou doses?

O declínio na proteção vacinal parece ser outra causa por trás do aumento global de casos.

Já está bastante claro que a imunidade diminui com o tempo. Existem pessoas que foram infectadas mesmo tendo três vacinas ou já tendo sido infectadas anteriormente com covid.

Isso ocorre porque a proteção contra a infecção desaparece antes, mas as defesas contra ficar gravemente doente ou morrer duram muito mais.

"As vacinas disponíveis têm eficácia limitada e transitória contra infecções assintomáticas e leves, mas oferecem proteção muito maior e mais duradoura contra doenças graves", explica o professor Adam Finn, da Universidade de Bristol, no Reino Unido.

Da mesma forma, essa diminuição na proteção gera incerteza sobre se precisaremos de mais doses de reforço ou novas vacinas no curto ou médio prazo.

"O declínio no efeito protetor das vacinas terá um papel cada vez maior, pois mais pessoas perderão a proteção contra a infecção e, em certa medida, contra casos mais severos", diz Katzurakis.

Uma diminuição significativa da imunidade pode levar a novas ondas de covid e, a longo prazo, a uma maior pressão hospitalar.

Dibujo de hombre usando un escudo contra el coronavirus.
Dibujo de hombre usando un escudo contra el coronavirus.
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Podemos ter períodos "tranquilos" de covid e outros em que ela nos ataque novamente, quando a imunidade suficiente diminuir.

O quão protegidos estamos é algo que os cientistas verificam com frequência.

"Alguns países já estão mobilizando uma quarta dose para determinados grupos de pacientes. É fundamental analisar os dados para decidir com que rapidez e até onde estender essa estratégia", diz Katzourakis.

No Brasil, por exemplo, o Estado de São Paulo começará a aplicar a quarta dose em idosos acima de 80 anos a partir de 21 de março.

"É muito provável que vejamos a necessidade de outra dose da vacina contra a covid-19 este ano, seja outro reforço com a fórmula original ou uma nova. Resta saber o intervalo de tempo desde a última dose", acrescenta John O'Horo, médico especialista em doenças infecciosas da Clínica Mayo, nos Estados Unidos.

"As decisões políticas futuras sobre doses de reforço provavelmente serão guiadas pela necessidade de atingir aqueles com maior risco de doenças graves, principalmente os idosos, mas também aqueles com condições subjacentes que resultam em um prognóstico pior", completa o professor Finn, da Universidade de Bristol.

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