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    Com inflação alta, BC deve acelerar aumento de juros; decisão sai nesta quarta

    Taxa Selic, hoje em 4,25%, pode subir a 5,25% já nesta semana e chegar aos 7% até o final do ano

    Sede do Banco Central, em Brasília (29.out.2020)
    Sede do Banco Central, em Brasília (29.out.2020) Foto: Adriano Machado/Reuters

    Juliana Elias, do CNN Brasil Business, em São Paulo*

    Com uma inflação muito acima do que deveria no país, o Banco Central (BC) deve ser mais duro no aumento dos juros. O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC anuncia nesta quarta-feira (4) qual deve ser a nova Selic, a taxa de referência do país, hoje em 4,25% ao ano.    

    A expectativa do mercado financeiro é de que, após ter elevado a Selic em 0,75 ponto porcentual por três reuniões consecutivas neste ano, o Copom deve agora promover um aumento de 1 ponto porcentual. Se isso ocorrer, a Selic atingirá os 5,25% ao ano, o maior nível desde outubro de 2019.

    Os aumentos sucessivos da Selic são uma tentativa do BC de segurar a inflação no Brasil. A escalada dos preços de alimentos combustíveis e energia elétrica fez com que os economistas do mercado financeiro já projetem inflação de 6,79% para 2021, conforme o Relatório de Mercado Focus. O documento é uma compilação feita pelo BC das projeções do mercado para os principais indicadores da economia.

    Inflação acima da meta

    O problema é que este índice de 6,79% está bem acima da meta de inflação, de 3,75% para o ano. Como possui uma margem de tolerância de 1,5 ponto porcentual, o BC poderia, em tese, deixar a inflação ir até 5,25% este ano – mas as projeções do mercado sugerem que a batalha está perdida.

    Desde o segundo semestre de 2020, os preços de commodities internacionais, como soja e milho, tem aumentado, o que impacta o custo de alimentos também no Brasil.

    Além disso, combustíveis e gás de cozinha têm pressionado o orçamento das famílias, assim como o custo da energia elétrica. Mais recentemente, a geada em algumas regiões do país prejudicou a produção de alimentos, com impactos nos preços ao consumidor final.

    Neste cenário, restou ao BC iniciar em março deste ano o processo de alta da Selic, para que a inflação não dispare em 2022. O ano de 2021 já é considerado perdido para o cumprimento da meta.

    A gota d’água mais recente foi a divulgação na sexta-feira (28) do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), prévia da inflação de julho, que subiu 0,7%, acumulou 8,6% em 12 meses e foi o maior resultado para o mês em 17 anos.

    Dali em diante, houve uma leva de revisões nas projeções de bancos, consultorias e casas de análise, que esperam tanto inflação quanto juros maiores em 2021 do que o imaginado inicialmente.

    De um total de 51 instituições consultadas pelo Projeções Broadcast, 44 esperam pela elevação da Selic em 1 ponto nesta quarta-feira, para 5,25% ao ano. Apenas sete casas aguardam aumento de 0,75 ponto porcentual, com a Selic chegando a 5%. Para o fim de 2021, a mediana das projeções indica uma Selic a 7%.

    “A inflação surpreendeu a todos não só porque veio alta, mas também pelos detalhes”, disse o economista-chefe do banco BNP Paribas no Brasil, Gustavo Arruda. “Às vezes há uma surpresa inflacionária, mas é possível identificar o principal componente responsável, como energia elétrica ou passagens aéreas. Não foi o caso. A inflação está subindo de maneira generalizada.”

    Entre os mais agressivos, o BNP revisou suas projeções e já fala em IPCA a 7% até o fim deste ano e, a Selic, a 7,5%. As projeções anteriores eram de 6,5% para ambos. Em 2022, os juros seguem subindo até estacionar nos 8,5%, de acordo com o banco. 

    Risco fiscal

    Além de ter que lidar com a alta de preços em vários setores, o BC precisará ponderar amanhã o tamanho do risco fiscal para a inflação futura. Com dificuldades para fechar as contas nos últimos anos, o governo viu o risco subir desde o início da pandemia do novo coronavírus, em função das despesas para sustentar programas emergenciais e gastos não previstos.

    Economistas de dentro e fora do governo sempre lembram que o equilíbrio fiscal é pré-requisito para o controle da inflação e o crescimento sustentável da economia. Se o governo gastar demais, a tarefa do BC de segurar a inflação via juros torna-se ainda mais difícil.

    Nos últimos dias, este equilíbrio foi novamente colocado em xeque, após o governo disparar o alarme em torno do pagamento de precatórios previsto para 2022.

    Como informou o Broadcast no dia 30, o governo Bolsonaro discute mudanças nas regras de pagamento de precatórios – os valores devidos a empresas e pessoas físicas após sentença definitiva da Justiça.

    O valor das sentenças para 2022 é calculado em R$ 90 bilhões, acima dos R$ 54,75 bilhões previstos no Orçamento. Em sua proposta, o governo estuda pagar à vista precatórios de até R$ 66 mil e parcelar o restante. As mudanças, no entanto, dependem da aprovação pelo Congresso de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC).

    *Com Estadão Conteúdo