Descrição de chapéu mercado de trabalho

Desemprego recua, mas renda é a menor da década no Brasil

Desocupação vai a 11,1% no quarto trimestre de 2021, enquanto rendimento cai a R$ 2.447

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Rio de Janeiro

Com o impacto da reabertura da economia, a taxa de desemprego recuou para 11,1% no quarto trimestre de 2021, informou nesta quinta-feira (24) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Isso significa que o indicador atingiu o mesmo patamar do quarto trimestre de 2019, antes da pandemia.

A volta ao mercado de trabalho, contudo, foi marcada mais uma vez pela queda na renda da população ocupada.

Segundo o IBGE, o rendimento real habitual foi estimado em R$ 2.447 no quarto trimestre, baixa de 3,6% frente ao trimestre anterior e de 10,7% em relação a igual período de 2020.

Trata-se da menor renda média do trabalho de toda a série histórica, iniciada em 2012. Os dados integram a Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), que completou 10 anos com estatísticas.

"Temos mais pessoas trabalhando [em relação ao período inicial da crise]. No entanto, o rendimento está mais baixo, tanto é que alcançou o menor nível da série histórica", disse a coordenadora de trabalho e rendimento do IBGE, Adriana Beringuy.

A taxa de desemprego de 11,1% veio em linha com as projeções do mercado financeiro. Analistas ouvidos pela agência Reuters projetavam marca de 11,2% no período.

O indicador estava em 12,6% no terceiro trimestre de 2021. Entre outubro e dezembro de 2020, era de 14,2%.

"Essa queda no quarto trimestre foi bastante expressiva. Nos últimos meses do ano, há uma tendência de redução desse indicador por causa da sazonalidade", disse Beringuy.

"Nesse período, costuma haver redução da desocupação devido à maior absorção de trabalhadores em atividades como comércio e alojamento e alimentação. Somado a isso, há um processo de recuperação da ocupação em curso desde agosto do ano passado", completou.

O número de desempregados foi estimado em 12 milhões no quarto trimestre de 2021. Diminuiu 10,7% (menos 1,4 milhão de pessoas) frente ao trimestre terminado em setembro e caiu 16,7% (menos 2,4 milhões) ante o mesmo período de 2020.

No quarto trimestre de 2019, antes do coronavírus, o Brasil tinha 11,9 milhões de desocupados.

"Ao que tudo indica, compensamos o impacto da Covid-19, mas voltamos à mesma situação dramática em que o emprego se encontrava antes da pandemia", apontou relatório do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).

"Vale enfatizar mais uma vez: já são seis anos de elevadas taxas de desemprego e, a contar pela expectativa de estagnação do PIB [Produto Interno Bruto] em 2022, pode haver pouco progresso deste quadro no presente ano", acrescentou.

Já a população ocupada com algum tipo de trabalho foi estimada em 95,7 milhões de pessoas no último trimestre do ano passado. É o maior contingente da série histórica.

Cresceu 3% (mais 2,8 milhões de pessoas) ante o trimestre anterior e subiu 9,8% (mais 8,5 milhões) frente ao mesmo intervalo de 2020.

Taxa anual segue acima do pré-pandemia

O IBGE também divulgou a taxa média de desemprego no ano. Em 2021, o indicador recuou para 13,2%.

Apesar da baixa frente a 2020, quando alcançou 13,8% com os efeitos da chegada da pandemia, o indicador ainda continuou acima do pré-coronavírus —era de 12% em 2019.

Conforme o IBGE, o número médio de desocupados foi estimado em 13,9 milhões em 2021. O contingente ficou relativamente estável frente ao ano anterior.

Pelas estatísticas oficiais, uma pessoa está desempregada quando não tem trabalho e segue à procura de novas oportunidades. O levantamento do IBGE considera tanto o mercado formal quanto o informal.

Já o número de ocupados com algum tipo de trabalho cresceu 5% na média anual, entre 2020 e 2021, chegando a 91,3 milhões.

"Em 2021, com o avanço da vacinação e a melhora no cenário, houve crescimento do número de trabalhadores, mas ainda persiste um elevado contingente de pessoas em busca de ocupação", apontou Beringuy.

Na média do ano passado, o rendimento real habitual foi de R$ 2.587 no país. A quantia representa baixa de 7% frente a 2020 (ou menos R$ 195).

Em parte, o rendimento menor reflete a escalada da inflação no Brasil. Outros fatores que ajudam a explicar o quadro são a abertura de postos de trabalho com salários inferiores e o retorno de informais ao mercado, segundo analistas.

"No começo da pandemia, quem mais sofreu foram os trabalhadores de menor qualificação. Agora, eles voltam ao mercado, mas os salários estão menores. Isso puxa a renda média para baixo", afirma o professor de economia Sergio Firpo, do Insper.

"A inflação bateu de maneira pesada em itens básicos para o consumo da população. Entre ficar sem receber ou ganhar menos, parte das pessoas está se inserindo no mercado com uma renda menor. Elas precisam pagar suas contas no curto prazo", diz o economista Bruno Imaizumi, da LCA Consultores.

Pessoas observam anúncios de vagas em SP - Mathilde Missioneiro - 30 set.2020/Folhapress

A diarista Andreia Pereira de Moura, 44, sentiu os reflexos da crise. Com a chegada da pandemia, a moradora de Belford Roxo (RJ), na Baixada Fluminense, ficou sem trabalho ao longo de 2020.

À época, passou a depender do auxílio emergencial e da ajuda da mãe, que é aposentada, para conseguir pagar as contas.

Com o avanço da vacinação contra a Covid-19 e o menor nível de restrições a atividades, Andreia relata que voltou a trabalhar em 2021, mas ganhando menos do que no pré-pandemia.

"Perdi muito trabalho com a pandemia. Foi horrível. A situação até deu uma amenizada, mas segue difícil", conta.

Andreia, que é informal, deseja encontrar um emprego em uma nova área. Gostaria de migrar para profissões como merendeira de escola ou babá, embora evite fechar a porta para outras oportunidades.

"A gente não está podendo escolher."

Diarista Andreia Pereira de Moura, de Belford Roxo (RJ), voltou a trabalhar, mas lamenta renda menor na pandemia - Eduardo Anizelli/Folhapress

Trabalho por conta própria e empregados sem carteira batem recorde

O trabalho por conta própria voltou a bater recorde no Brasil. Chegou a 25,9 milhões de pessoas no quarto trimestre de 2021.

Durante a pandemia, esse grupo teve acréscimo de 1,6 milhão de profissionais. Ao fim de 2019, antes da crise sanitária, era estimado em 24,3 milhões.

O trabalho por conta própria reúne tanto quem faz os populares bicos quanto microempreendedores individuais.

Os trabalhadores por conta própria sem CNPJ, mais associados aos bicos, passaram de 19,3 milhões para 19,5 milhões entre dezembro de 2019 e dezembro de 2021. A marca mais recente é a maior da série.

Já os profissionais por conta própria com CNPJ, mais relacionados aos microempreendedores, subiram de 5,1 milhões para 6,4 milhões no mesmo período. Esse segmento também bateu recorde. A Pnad começou em 2012, mas divide os autônomos com e sem CNPJ só a partir de 2015.

No setor privado, além dos autônomos, apenas os empregados sem carteira assinada (informais) já ultrapassaram o nível pré-crise. No quarto trimestre de 2021, o grupo foi estimado em 12,4 milhões, recorde da série iniciada em 2012.

Já os empregados com carteira no setor privado (formais) somaram 34,5 milhões de pessoas, abaixo dos quase 35 milhões de antes da Covid-19.

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