Geraldo Bubniak/Arquivo BP – A partir de março de 2020

O preço do feijão não cabe no poema. O preço do arroz, idem. E está cada vez mais difícil também conseguir fazer com que o preço dos alimentos caiba no bolso do cidadão. É que desde que a pandemia do novo coronavírus passou a afetar o mundo, em março de 2020, o preço de alguns alimentos básicos chegaram a mais que dobrar nos mercados de Curitiba, que foi ainda a capital brasileira com maior aumento no preço da cesta básica em 2021.

Para estimar o quanto variou nos últimos tempos o preço de alimentos básicos para o prato do curitibano, o Bem Paraná utilizou as informações de dois bancos de dados diferentes, ambos da Prefeitura de Curitiba. Um deles é o Disque Economia, atualizado até março de 2020 e que consultava e registrava o preço de 302 itens que eram coletados em diferentes supermercados de Curitiba. O outro é o Clique Economia, lançado no começo de março do ano passado e que, na prática, veio para substituir o serviço anterior do município.

Assim, foram levantados os preços, nos dias 28 de fevereiro de 2020, 22 de junho de 2021 e 24 de janeiro de 2022, de oito produtos diferentes que compõem a cesta básica. São eles: óleo de soja, arroz parboilizado, leite longa vida integral, carne bovina, feijão preto, açúcar refinado, farinha de trigo, café e ovos. Para estabelecer o comparativo entre os dois períodos, analisou-se os dados coletados de supermercados pesquisados nas datas referidas, sempre se considerando os menores preços, independentemente da marca.

Os resultados mostram que produtos como óleo de soja (+113,26%), café (+95,94%) e carne bovina (+74,58%) foram aqueles com as variações mais expressivas de preço desde o início da pandemia. A lata de 900 ml de óleo de soja, por exemplo, era comercializada a um preço médio de R$ 3,77 nos supermercados de Curitiba no final de fevereiro de 2020, valor que já estava em R$ 8,04 ontem. O pacote de 500 gramas de café, por outro lado, saltou de R$ 6,89 para R$ 13,50, enquanto a carne bovina (valor do quilo de patinho sem osso) passou de R$ 26,40 para R$ 46,08.

Todos os produtos analisados, inclusive, ficaram nominalmente mais caros de 2020 para cá, com altas variando entre 8,04% (caixa com uma dúzia de ovos) e 113,26% (óleo de soja). Por outro lado, quando analisamos os dados de junho do ano passado com os de janeiro de 2022, é possível notar que alguns produtos (casos do arroz, do leite e do feijão) registraram uma variação negativa de preço nos últimos meses, ou seja, ficaram mais baratos.

O pacote de 5 quilos de arroz, por exemplo, era vendido a um valor médio de R$ 11,35 em fevereiro 2020 e chegou a custar R$ 20,89 em junho de 2021. Já em 2022, o preço médio estava em R$ 17,85 ontem, o que aponta para uma redução de 14,55% nos últimos meses.
O pacote de um quilo de feijão preto teve queda ainda mais expressiva, de 24,29%. Em 2020, o produto custava R$ 4,35 e em 2021 chegou a R$ 8,49. Ontem, saía por R$ 6,43 nos mercados pesquisados. Por fim, o leite longa vida integral, cuja caixa de 1 litro custava R$ 2,71 antes da pandemia, valor que subiu para R$ 3,81 no final de junho do ano passado e que ontem já estava em R$ 3,34 – uma redução de 12,26% em aproximadamente sete meses.

Capital paranaense teve o maior aumento na cesta básica em 2021

Entre todas as capitais brasileiras, Curitiba despontou como aquela com maior aumento no custo da cesta básica ao longo do ano passado. Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a alta ao longo do ano foi de 16,3%, com o valor da cesta básica variando de R$ 540,36 em dezembro de 2020 para R$ 628,46 no mesmo mês do ano passado. Além do maior aumento no preço da cesta, Curitiba também se destacou como a capital que mais viu encarecer o preço de produtos como açúcar (+73,25%), farinha de trigo (+33,82%) e pão francês (+14,14%) ao longo de 2021.

Para piorar, as perspectivas para 2022 no que diz respeito ao preço dos alimentos não são positivas, como explica a economia Leide Albergoni, professora da Universidade Positivo (UP). “Temos muitos desafios para 2022, um dos principais deles é a questão da energia elétrica, crise hídrica, que não tem previsão de melhora. Isso continua pressionando os gastos do consumidor. Combustível também tem previsão de aumento e os alimentos, de modo geral, dependem do fator clima, das condições climáticas. Se continuar a crise hídrica [no país], tende a encarecer o preço dos alimentos”.

Preço dos combustíveis apresenta tendência de queda

Se os alimentos ficam mais caros, via de regra, por outro lado os combustíveis estão num momento de queda no preço, acumulando reduções consecutivas em Curitiba no valor médio dos últimos três meses (novembro, dezembro e janeiro), conforme o Sistema de Levantamento de Preços (SLP), da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

Em novembro de 2020, por exemplo, o litro da gasolina na capital paranaense era comercializado por R$ 6,316, em média. Em janeiro, esse valor médio já estava em R$ 6,159, uma redução de 2,49%. Já o etanol hidratado teve uma queda ainda mais expressiva, passando de R$ 5,331 em novembro para R$ 4,911 neste começo de 2022, acumulando uma variação de -7,88% nos últimos três meses.

Oito itens da cesta básica com maior alta no período
ProdutoUnidadePreço médio 2022Preço médio 2021Preço médio 2020
Óleo de sojaLata de 900 mlR$ 8,04R$ 7,42R$ 3,77
Arroz parboilizadoPacote de 5 quilosR$ 17,85R$ 20,89R$ 11,35
Leite longa vida integralCaixa de 1 litroR$ 3,34R$ 3,81R$ 2,71
Carne bovinaGranel 1 kgR$ 46,08R$ 42,10R$ 26,40
Feijão pretoPacote de 1 quiloR$ 6,43R$ 8,49R$ 4,35
Açúcar refinadoPacote de 1 quiloR$ 3,97R$ 3,30R$ 2,40
Farinha de trigoPacote de 1 quiloR$ 3,80R$ 3,41R$ 2,71
CaféPacote de 500gR$ 13,50R$ 8,29R$ 6,89