Para presidente da Stellantis, redução do IPI é alívio, não a solução

Segundo Antonio Filosa, medida deverá segurar os preços dos veículos e garantir mais volumes de vendas no curto-prazo

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Bruno de Oliveira
  • 04/03/2022 - 19:03
  • 2 minutos de leitura

    A redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), promovido pelo governo federal na semana passada via decreto, é considerada um alívio pela Stellantis, conforme apontou Antonio Filosa, diretor de operações da companhia na América do Sul, durante coletiva de imprensa na sexta-feira, 4. Mas a medida, entretanto, está longe de ser a solução para um quadro adverso que existe hoje no mercado de veículos, entende o executivo.


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    “É um alívio, não a verdadeira solução. A redução do IPI vai segurar os preços e nos garantir volume no curto prazo, mas há outras questões que surgem no momento para aumentar o nosso custo operacional, como a escalada do preço das commodities provocada pelo conflito na Europa”, disse Filosa, em transmissão online.

    A situação parece preocupar a maior montadora do país, que fincou sua bandeira no posto de líder do mercado nacional com o suporte de um sistema logístico que conseguiu entregar componentes à operação brasileira, enquanto outras fabricantes de veículos não tiveram tanta sorte e, por isso, deixaram de entregar veículos nas concessionárias, perdendo participação no mercado.

    Conflito na Ucrânia eleva custos

    Desta vez, apontou Filosa, existem questões que escapam ao alcance das estratégias da Stellantis, como o preço do petróleo e do aço, por exemplo, que passaram a subir ainda mais após a eclosão do conflito entre Rússia e Ucrânia. Diante da alta dos preços, a redução do IPI sob a ótica da montadora será eficaz no controle dos preços dos veículos, que devem, portanto, deixar de subir e não cair, como o consumidor poderia esperar.

    “O governo deu um excelente passo para reduzir a carga tributária, mas é preciso entender o contexto [a respeito da instabilidade dos preços]. A operação ficou muito mais cara. Primeiro veio a covid-19, depois os semicondutores, agora a alta das commodities. O cobre está sendo vendido a US$ 4 mil/tonelada, há cinco anos custava US$ 1 mil. Tudo está muito inflacionado e isso reflete na empresa”, contou o executivo.

    As consequências desse contexto, segundo ele, acontecem basicamente na produção e na cadeia de fornecedores – com os custos mais altos, torna-se ainda mais desafiador entregar veículos para o setor de distribuição, que também acaba enfrentando dificuldades para reter clientes diante do tempo de espera que existe hoje para comprar um carro novo.

    “Neste momento não está faltando cliente, o grande problema ainda é a cadeia de produção. Temos a ambição de colocar a fábrica de Betim (MG) na máxima capacidade, pois há demanda, mas dados os eventos recentes isso ainda não é possível”, afirmou Filosa.

    Maior força produtiva

    A Stellantis teve de promover na unidade instalada em Minas Gerais, onde é produzida parte da sua oferta Fiat, lay-off (susppenção temporária do contrato de trabalho) para 1,8 mil funcionários por causa da falta de componentes. Em dezembro, no entanto, metade do quadro que estava com os contratos suspensos regressou às linhas porque a montadora e seus fornecedores conseguiram reestabelecer o abastecimento de componentes e, assim, atender aos pedidos pendentes.

    A respeito da metade restante dos funcionários que ainda estão em lay-off, a montadora afirma estar “monitorando os eventos” para avaliar o momento certo de chamar o quadro de volta às atividades, algo que deverá acontecer em algum momento este ano. A Stellantis manteve suas projeções acerca do mercado brasileiro alinhadas com a Anfavea, com crescimento de 8,5% nos licenciamentos no comparativo 2021-2022. Para acompanhar a alta, a empresa afirma que precisará, portanto, de mais braços trabalhando nas linhas de montagem.