Marcos Mendes

Pesquisador associado do Insper, é organizador do livro 'Para não esquecer: políticas públicas que empobrecem o Brasil'

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Para sair da estagnação, é preciso entender o que gera crescimento

Não basta construir fábricas, é preciso que sucessivas inovações

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O livro “O Poder da Destruição Criativa”, de Philippe Aghion e coautores, faz uma excelente síntese da teoria de crescimento econômico. O argumento central é que as economias prosperam devido à inovação tecnológica.

Inovar é um processo contínuo. A invenção do smartphone, por exemplo, foi sucedida pela criação de aplicativos diversos e pelo aumento da capacidade de processamento dos aparelhos. Cada inovação adicional ampliou as possibilidades de uso do aparelho, criando mais produtos, negócios e empresas.

Para que um país atinja a alta renda, não basta construir fábricas. É preciso que sucessivas inovações tornem as máquinas e trabalhadores dessas fábricas cada vez mais produtivos. Ficando obsoleta, a fábrica tem que sair do mercado.

Países tecnologicamente atrasados podem acelerar seu crescimento copiando inovações já existentes. Quanto mais distantes da fronteira tecnológica, mais espaço têm para crescer. Já os países desenvolvidos, para continuar crescendo, têm a tarefa mais complexa de expandir a fronteira de inovação.

Inovação de fronteira requer muitos cientistas, centros tecnológicos, integração entre a pesquisa básica e a aplicada. Inovar é atividade de retorno incerto, o que demanda sistema financeiro e de capitais sofisticado, capaz de mitigar riscos. Essencial, também, a proteção dos direitos de propriedade, para garantir retorno financeiro aos inovadores.

Homem trabalha em montagem de motores - Bruno Santos-1.jul.21/Folhapress

Países de renda média e baixa dificilmente têm essa capacidade econômica e institucional. Podem até fazer alguma inovação de fronteira, mas a absorção de tecnologia se torna mais atraente.

Para tanto, é preciso dar ênfase ao ensino básico, que cria uma força de trabalho capaz de entender e operar as inovações absorvidas, bem como permite a formação de profissionais de gerência, apta a identificar e adotar novas tecnologias.

Também importante é a abertura da economia, para ter acesso à tecnologia e aos melhores insumos. Em ambiente amigável à absorção tecnológica, países em desenvolvimento caminham em direção à fronteira, criando condições para o difícil salto de se tornarem inovadores. Nem todos conseguem, ficando presos na armadilha da renda média.

O livro cita o caso da Coreia do Sul, que seguiu a cartilha e cresceu muito até o fim dos anos 1990, quando entrou em estagnação. Os “chaebols”, conglomerados formados por política de “campeões nacionais” da fase inicial de industrialização, pressionavam o governo e impediam a entrada de concorrentes e a inovação.

Com a crise financeira de 1997, a Coreia do Sul recorreu ao FMI (Fundo Monetário Internacional), que condicionou a ajuda à abertura da economia e a medidas de reforço de direitos de propriedade e de defesa da concorrência. Os chaebols se enfraqueceram, empresas inovadoras entraram no mercado e a Coreia do Sul se transformou em uma economia de inovação de fronteira.

No Brasil, que não foi analisado pelos autores, não escolhemos o rumo da absorção de tecnologia. Em alguns casos, como na lei de informática, tentamos criá-la do zero, reinventando a roda.

Acreditamos que crescer era construir fábricas e depois protegê-las da concorrência. Criamos barreiras comerciais, oferecendo mercado cativo a quem aqui colocasse sua produção. Elas sobrevivem e ganham dinheiro sem precisar aumentar sua produtividade. Um veneno para a inovação.
Descuidamos da qualidade da educação básica. O aumento do gasto no setor, nos anos recentes, não resultou em mais aprendizado. Continuamos com uma força de trabalho incapaz de entender e lidar com inovações.

Tentamos copiar o modelo de inovação de fronteira dos países desenvolvidos, criando uma rede de universidades federais e subsídios à pesquisa, que custa caro, mas não prospera, por não termos rede de pesquisa com intensidade suficiente, segurança jurídica ou parceria privada.

A Embraer, citada como exemplo de sucesso de nossa política industrial, na verdade deu certo por não seguir o padrão protecionista. Sempre competiu no mercado externo e teve liberdade para importar insumos e tecnologia. Apoiou-se no Instituto de Tecnologia Aeronáutica, uma exceção em termos de qualidade acadêmica, difícil de reproduzir em larga escala.

Em vez de destruição criativa, optamos pela proteção destrutiva.​

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