Crise da água

Por Jéssica Sant’Ana, g1 — Brasília


O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) informou que suspendeu o programa que incentiva a indústria a reduzir ou deslocar seu consumo de energia para fora dos horários de maior demanda do sistema elétrico. O comunicado foi emitido na sexta-feira (5).

O programa voltado para a indústria começou em setembro e poderia durar até abril de 2022, conforme portaria do Ministério de Minas e Energia (MME). O objetivo era evitar sobrecarga no sistema elétrico, o que poderia levar a apagões pontuais, já que o país estava no auge da crise energética, com reservatórios das hidrelétricas em níveis baixíssimos.

"A melhora das condições hidroenergéticas, a efetividade dessas ações emergenciais e a garantia de suprimento de energia em 2021 são os principais motivadores da decisão do Operador", diz o ONS em nota.

Início da época de chuvas melhora nível de água dos reservatórios

Início da época de chuvas melhora nível de água dos reservatórios

O operador não descartou a retomada do programa em 2022, “caso seja identificada a necessidade de recursos adicionais para atendimento à demanda por energia elétrica no país”.

Segundo a última previsão divulgada pelo ONS, os reservatórios das regiões Sudeste e Centro-Oeste -- considerados a caixa d´água do país -- devem chegar a 19,2% da sua capacidade no fim de novembro. Até domingo, estavam em 18,66%. A previsão no auge da crise hídrica era um nível de 10% no fim deste mês.

Chuvas

Em nota, o operador afirma que o início das chuvas dentro do prazo esperado, "além da participação dos diversos agentes e da sociedade na adoção das medidas propostas", foram fatores fundamentais para garantir que, em 2021, o período de pico de energia seja atendido sem a necessidade de utilização da reserva operativa.

A reserva operativa, como o próprio nome já diz, só é acionada para garantir o fornecimento de energia em momentos críticos.

O ONS informou que recebeu a oferta de redução de 442 megawatts-médios (MWm) por hora em setembro e mais de 600 MWm/h em outubro. Os setores da indústria que mais participaram do programa foram o da metalurgia e de produtos de metal.

Para efeitos de comparação, o consumo industrial registrado em julho foi de 20.521MW médios, segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).

Questionado sobre o número de empresas participantes do programa e o valor pago às empresas, o ONS disse que " trimestralmente, será feito um relatório com a divulgação dos números".

Indústria 'pega de surpresa'

O setor industrial diz ter sido pego de surpresa com a decisão do ONS de suspender o programa.

"Para a gente foi uma grande surpresa. Eles colocaram no site, numa sexta-feira à noite, o comunicado suspendendo o programa. O comunicado ocorreu depois do prazo final da oferta para novembro", diz Victor Iocca, gerente de Energia Elétrica da Associação dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace).

Para Iocca, houve uma "quebra de confiança" porque diversas indústrias apresentaram ofertas para reduzir ou deslocar o consumo de energia em novembro.

"Várias dessas plantas industriais operam no prejuízo justamente porque, para participar do programa, há todo um planejamento para readequar a sua produção", relata.

O gerente da Abrace cita como exemplo indústrias que instituíram terceiro turno na madrugada e que transferiram parte da sua produção para outras localidades não abarcadas pelo programa.

Ainda segundo Iocca, o ONS vem preferindo despachar usinas termelétricas que custam até R$ 2,5 mil por MWh ao invés de aceitar as ofertas de redução do consumo da indústria, que ficam entre R$ 1 mil a R$ 1,3 mil por MWh, em média.

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