Descrição de chapéu Selic juros copom

BC indica 'ajustes adicionais em ritmo menor' nos juros

Em ata, Copom não sinaliza a magnitude da próxima alta da Selic; mercado revê expectativas

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Brasília

Para as próximas reuniões, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central indicou que fará "ajustes adicionais em ritmo menor" na taxa básica de juros (Selic), conforme ata da última reunião divulgada nesta terça-feira (8). Em reação, o mercado já projeta elevação de suas expectativas.

"Um novo ajuste de 1,5 ponto percentual, seguido de ajustes adicionais em ritmo menor nas próximas reuniões, é a estratégia mais adequada para atingir aperto monetário suficiente e garantir a convergência da inflação ao longo do horizonte relevante, assim como a ancoragem das expectativas de prazos mais longos", detalhou a autoridade monetária.

Sede do Banco Central em Brasília - Adriano Machado - 29.out.2019/Reuters

O BC sinalizou que o ciclo de aperto monetário não chegou ao fim e o ritmo de ajuste da taxa básica de juros será reduzido a partir do próximo encontro, marcado para os dias 15 e 16 de março. Mas o passo dessa desaceleração continua em aberto.

"A incerteza particularmente elevada sobre preços de importantes ativos e commodities, assim como o estágio do ciclo, fez o Comitê considerar mais adequado, neste momento, não sinalizar a magnitude dos seus próximos ajustes", explicou a autarquia, na ata.

O mercado reagiu ao tom ‘hawkish’, termo referente a uma política contracionista de alta de juros, usado pelo BC na ata do Copom, enquanto o comunicado divulgado após o encontro da última semana havia sido lido pela maioria dos analistas financeiros como de neutro à 'dovish' (mais brando).

Segundo Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos, o discurso mais rígido "coloca um viés inequívoco de alta para a taxa Selic terminal", projetada pela instituição, até então, em 11,75%. "Vamos avaliar o fluxo de dados adiante para calibrar melhor nossas projeções para a política monetária de curto prazo", disse.

O Bank of America também recalculou suas projeções para as próximas reuniões. O banco elevou sua expectativa para a Selic até maio deste ano para 12,25%, prevendo uma alta de 1 ponto percentual em março e 0,5 ponto percentual no encontro seguinte. A estimativa anterior da instituição era de 11,25%.

O patamar terminal da taxa básica de juros, antes apontado como 11,75% pelo Itaú Unibanco, também foi revisado. "Passamos a esperar agora que o ciclo de aperto monetário termine com a taxa Selic em 12,5% ao ano. Seguimos esperando um movimento de 1 ponto percentual na próxima decisão, em março", projetou Mario Mesquita, economista-chefe, em relatório.

Na avaliação de Alberto Ramos, diretor do grupo de pesquisa macroeconômica para América Latina do Goldman Sachs, o Copom sinalizou tanto que o ciclo de aperto não terminará em março, como a Selic terminal ficará provavelmente acima de 12% ao ano.

Em relatório, o especialista disse esperar um aumento de 1 ponto percentual na reunião de março (com risco de 1,25 ponto percentual dependendo da evolução da inflação e do respectivo balanço de riscos), além de outro aumento em maio a depender dos dados.

Na última semana, o Copom elevou a taxa básica de juros em 1,5 ponto percentual, a 10,75% ao ano. Com isso, a Selic voltou aos dois dígitos pela primeira vez após quase cinco anos, a última vez havia sido em julho de 2017.

A taxa Selic agora está no maior patamar desde maio de 2017, ainda no governo de Michel Temer (MDB), quando os juros eram de 11,25% ao ano.

O ciclo de aumento dos juros no Brasil —oito altas seguidas, totalizando 8,75%— terá a maior elevação desde a introdução do sistema de metas de inflação, em 1999. Houve altas comparáveis somente entre 2002 e 2003 (8,5%, com ritmo mais veloz) e entre 2013 e 2015 (7%). Em março de 2021, a Selic estava em 2% ao ano, menor patamar histórico.

A ata do Copom também apontou que o Banco Central demonstrou preocupação com a adoção de políticas fiscais visando controlar a inflação no curto prazo, pontuando que as medidas podem gerar efeito de alta na inflação —as projeções já se encontram acima da meta tanto para 2022 quanto para 2023.

"O Comitê nota que mesmo políticas fiscais que tenham efeitos baixistas sobre a inflação no curto prazo podem causar deterioração nos prêmios de risco, aumento das expectativas de inflação e, consequentemente, um efeito altista na inflação prospectiva", indicou.

A inquietação da autoridade monetária ocorre em meio à discussão sobre PEC dos Combustíveis.

"A incerteza em relação ao futuro do arcabouço fiscal atual resulta em elevação dos prêmios de risco e eleva o risco de desancoragem das expectativas de inflação", diz a ata. "Isso implica atribuir maior probabilidade para cenários alternativos que considerem taxas neutras de juros mais elevadas."

"O Banco Central parece reconhecer o potencial impacto negativo de iniciativas relacionadas a isenções fiscais, como as relativas aos preços dos combustíveis que vêm sendo discutidas nas últimas semanas", analisou Megale.

As expectativas de inflação apuradas pela pesquisa Focus para 2022 e 2023 estavam, na semana do encontro, em 5,4% e 3,5%, respectivamente. Ambas estavam acima do centro das metas para os períodos, de 3,5% e 3,25%. Esse foi o cenário utilizado na simulação do BC.

A pesquisa Focus é feita pela autoridade monetária semanalmente. Nela, o BC coleta as projeções de economistas de instituições financeiras e casas de análise para os principais indicadores da economia, como inflação, PIB (Produto Interno Bruto) e taxa de juros, para os próximos quatro anos.

As projeções de inflação do Copom situam-se em 5,4% para 2022 e 3,2% para 2023. Para este ano, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) já é superior ao máximo permitido no intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual, que é de 5%. Isso representará, se confirmado, o estouro da meta de inflação pelo segundo ano consecutivo.

"O Copom considera que, diante do aumento de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário avance significativamente em território contracionista. O Comitê enfatiza que irá perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas."

Durante o último encontro, o colegiado avaliou diversos ritmos de ajuste e duração do ciclo do aperto monetário em suas simulações, assim como diferentes taxas terminais para a Selic.

O documento também pontuou que, no cenário externo, o ambiente continua menos favorável, com preços mais pressionados.

O Copom considera que o risco de um aperto monetário mais célere nos Estados Unidos aumenta diante da persistência inflacionária, tornando as condições financeiras mais desafiadoras para economias emergentes. Além disso, a nova onda de Covid-19 adiciona incerteza à conjuntura.

No cenário nacional, enquanto a elevação dos prêmios de risco e o aperto mais intenso das condições financeiras atuam desestimulando a atividade econômica brasileira, o desempenho da agropecuária, a retomada dos serviços e a recuperação do mercado de trabalho são fatores que ajudam a sustentá-la.

Mas a ata trouxe outros fatores que podem atrapalhar o crescimento da atividade: "Os índices de confiança divulgados desde a última reunião seguem mostrando deterioração, e desenvolvimentos climáticos afetaram as projeções de importantes culturas agrícolas."

O colegiado constatou que a inflação ao consumidor continua elevada, com alta disseminada entre vários componentes. "A alta nos preços dos bens industriais não arrefeceu e deve persistir no curto prazo, enquanto a inflação de serviços acelerou, ainda refletindo a gradual normalização da atividade no setor", diz a ata.

As projeções para a inflação de preços administrados são de 6,6% para 2022, ante previsão de 3,8% feita em dezembro, e 5,4% para 2023.

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