O desenho definido pelo governo para o novo programa social, o Auxílio Brasil, prevê a criação de um programa temporário, até dezembro de 2022, para substituir o Bolsa Família.
A avaliação é que o presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores ganham um trunfo eleitoral para a campanha do ano que vem, mas deixam o desgaste para o próximo governo, que terá a responsabilidade de criar recursos ou retornar ao Bolsa Família como é hoje.
O formato definido até o momento, com parte paga dentro da regra do teto de gastos e parte fora, chegou pronta para integrantes da equipe econômica.
A engenharia complexa desenhada dentro do Palácio do Planalto pode até não ferir regras da Lei de Responsabilidade Fiscal, mas passa uma péssima mensagem a investidores e ao mercado financeiro, de que o vale-tudo para a reeleição de Bolsonaro já começou, além de atropelar a imagem liberal, chancelada por Paulo Guedes, que se tentou vender desde a campanha de 2018.
No fim de semana, assim que chegou de Washington (EUA), onde estava para reuniões no Fundo Monetário Internacional (FMI), o ministro da Economia foi chamado pelo presidente e auxiliares para apresentar as bases do novo programa, que atende desejo antigo e Bolsonaro.
O ministro foi avisado que há muitas resistências ao projeto de reforma do Imposto de Renda, em especial à taxação de dividendos, e que não se podia contar com aqueles recursos para o novo programa social.
Sem as mudanças permanentes na arrecadação via taxação de dividendos, Guedes afirmou que não havia garantia para tornar o novo programa social permanente.
No valor de R$ 400 entram sobras do Bolsa Família de 2021, crédito extraordinário (fora do teto) e o novo valor do vale gás, que já passou pela Câmara dos Deputados e que deve ser aprovado pelo Senado na próxima semana.
Ao invés de um cartão que dá direito a troca por um botijão de gás, como queriam técnicos com experiência neste tipo de auxílio, o governo preferiu transformar em dinheiro o valor, para anunciar um Auxílio Brasil mais gordo.
“Ao invés de fazer o certo, o Brasil parece sempre preferir fazer o mais ou menos”, desabafou uma fonte econômica.
A forma como o novo programa foi desenhado pela área política do governo, sem consultar técnicos da Economia, ampliou rumores, no final de semana, de que Paulo Guedes deixaria o governo. Segundo assessores próximos, ele não cogita deixar o cargo neste momento. Já outros integrantes de sua equipe ainda avaliam as condições para permanecer na equipe.