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Como a indústria brasileira trabalha para reciclar baterias de carros elétricos

Com expansão da tecnologia no mercado, garantir economia circular ao componente passa a ser necessidade econômica, além de ambiental

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Natália Scarabotto
  • 25/10/2021 - 09:00
  • 2 minutos de leitura

    Os veículos elétricos ganham força ao redor do mundo como solução para a reduzir a pegada de carbono dos transportes. No entanto, ainda existem alguns desafios para que, de fato, a tecnologia cumpra essa promessa zero emissão desde a cadeia produtiva até a recarga – incluindo a geração da energia elétrica. A reciclagem das baterias de íons de lítio é parte importante desse desafio. O componente tem vida útil entre 10 a 15 anos nos veículos, depois disso, fica o impasse sobre o que fazer com ele.


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    Atualmente, os processos mais utilizados, de incineração ou descarte em aterros e lixões, são pouco sustentáveis. Com a expectativa de expansão das vendas de veículos com a tecnologia, empresas do setor têm trabalhado em soluções de reuso e reciclagem de baterias. Durante o 10º Simpósio da SAE Brasil, a Energy Source apresentou suas apostas para promover a economia circular das baterias na indústria automobilísticas, com foco em garantir uma segunda vida e a reciclagem do componente. Atualmente, as soluções da empresa são utilizadas pela Audi, BMW e Renault.

    Um dos projetos propostos pela empresa foi desenvolvido para a BMW: um carregador off grid solar que reaproveita baterias antigas, que já não servem mais para os veículos. O cofundador e CEO da Energy Source, David Noronha, fala a respeito:

    O material descartado passa pelo nosso processo de avaliação (de resistência, capacidade interna, componentes eletrônicos etc) e montamos uma capacidade de armazenamento de energia de cerca de 13 kW, com toda a tecnologia de inversor e IoT (Internet das Coisas)”, explica

    Além disso, ele conta que a empresa trabalha com o processo de reciclagem de baterias por hidrometalurgia, ou seja, sem queima. “Temos 97% de taxa de eficiência na recuperação dos metais.”

    Segundo ele, o processo acontece em duas fases: no primeiro estágio, é feita a extração de energia das baterias e a separação da black mass (todos os componentes como níquel, cobalto, lítio, cobre, alumínio ou manganês, dependendo do tipo de bateria). Depois, a black mass vai para o tratamento hidrometalúrgico no qual cada componente é separado em estado líquido.

    Economia circular da bateria acompanha mercado de elétricos

    Com a expansão da frota global de veículos elétricos, o setor automotivo precisará dar mais atenção ao descarte dessas baterias.

    “É um problema global. Não é mais aceitável que todos os envolvidos da cadeia produtiva não pensem na economia circular das baterias. Toda a cadeia produtiva, desde a manufatura, distribuição, consumo e o pós-consumo, precisa pensar na logística reversa para o processo de reuso e reciclagem”, reforça Noronha.

    E a questão não é apenas ambiental, mas também ecoômica, por causa da escassez da matéria-prima. Segundo dados apresentados pelo Grupo Moura, a extração e produção de baterias de lítio deverá crescer exponencialmente nos próximos anos. A Austrália é a maior mineradora do insumo no mundo, responsável por 13,4 milhões de toneladas anuais. Na América do Sul, ainda não há fábricas de grande porte que produzam tais baterias, mas a Argentina é o terceiro maior país em mineração, com volume em 3,8 milhões, e o Brasil é o oitavo, com 200 mil toneladas de lítio minerado. 

    “Os veículos elétricos estão mudando a cadeia de suprimentos e criando espaço para fornecedores automotivos não tradicionais”, avalia o diretor geral da Divisão de Lítio e Transportadoras do Grupo Moura, Fernando Pontual Castelão. “Em 2040, 57% dos veículos vendidos terão baterias de lítio. Com isso, o setor automotivo poderá superar o mercado de produtos eletrônicos na demanda das baterias.”

    Assim como a capacidade produtiva de baterias de lítio que irá mais que triplicar até 2025, passando de 316 GWh para 1,090 GWh. A China deve ser responsável por 62% dessa produção, seguida dos EUA (12%). 

    O Grupo Moura começou a trabalhar com as baterias de lítio em 2017 e está envolvido no projeto do e-Delivery da Volkswagen, integrando o consórcio modular da companhia. Ao menos 1,6 mil unidades do caminhão elétrico foram encomendadas pela Ambev.