A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada pela Confederação Nacional de Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), mostrou que o endividamento médio em 2021 atingiu 70,9% das famílias brasileiras, tendo o mês de dezembro atingido um patamar histórico para os meses consecutivos, alcançando 76,3% das famílias. O percentual foi o maior registrado nos últimos 11 anos. Segundo a CNC, as famílias recorreram mais ao crédito para conseguir sustentar o consumo.

O aumento da inflação, que acumulou alta de 10,38% nos últimos 12 meses e culminou com aumento geral de preços, combinada com a elevação da taxa básica de juros e a queda da renda das famílias, que em novembro atingiu um nível de redução não verificado desde que o índice começou a ser analisado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2012, são alguns dos fatores que podem explicar o aumento de endividados.

É o que aponta a consultora em finanças Laíza Alves Corrêa Samarino. Ela explica que o cenário econômico, agravado pela pandemia da Covid-19, afetou o rendimento e a capacidade de pagamento das famílias. “Muitos brasileiros foram surpreendidos ao perderem seus empregos ou observarem uma redução no seu salário real. Ao todo, 39,4 milhões de brasileiros em 2021 tiveram que recorrer ao auxílio emergencial pago pelo governo, de acordo com o Ministério da Cidadania. O fato é que além das dificuldades de obterem seus meios de subsistência, muitas famílias se endividaram, pois esses eventos impactaram diretamente no padrão de vida e no planejamento mensal”, analisa.

Para fugir da armadilha do endividamento, ainda que em um cenário desfavorável, a melhor saída é o planejamento, colocando na ponta do lápis os rendimentos e gastos de todos os membros da família. “O acompanhamento é essencial para avaliar se há mais gastos do que ganhos. Atualmente existem aplicativos de celular com funções simples de acompanhamento e planejamento financeiro, em que qualquer pessoa pode baixar e incluir informações como salário e fonte de renda, despesas fixas e variáveis, traçar metas e receber um relatório setorizado de cada gasto”, informa Samarino.

A consultora em finanças também aconselha as famílias a investirem tempo na pesquisa de preços, especialmente das compras recorrentes, como itens da cesta básica, e estar atento às notícias sobre a situação econômica do país antes de tomar decisões de compra. “É importante acompanhar se há um cenário de crise ou inflação e, nesses casos, aderir a mudanças nos hábitos de consumo, evitando parcelamentos e empréstimos com muitos juros e a longo prazo, além de não utilizar cartão de crédito com muito mais frequência que o de débito e não realizar compras sem necessidade”, aconselha a profissional.

Outro conselho de Laíza Samarino para fugir do endividamento é a família tentar poupar, todo mês, uma parte da renda para emergências ou aquisição de bens à vista. “Muitas pessoas acham que somente as empresas precisam de acompanhamento financeiro, mas a realidade é que todos precisam observar e controlar mensalmente a vida financeira individual e familiar, para que haja mais assertividade nas tomadas de decisões e futuros planejamentos”, conclui.

No ano passado, mais de 80% dos brasileiros precisaram fazer cortes no orçamento

Levantamento da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), em parceria com o SPB Brasil e Offer Wise Pesquisas, divulgado em 26 de janeiro passado, mostrou que, em 2021, 83% dos brasileiros tiveram que adaptar o orçamento, promovendo cortes e mudanças nos gastos.

O aperto financeiro vivenciado em 2021, o que pode explicar o recorde de endividamento verificado pela CNC, pode ser medido pelo percentual de brasileiros que disseram ter precisado redirecionar o dinheiro para pagamento de contas do dia a dia (59%) e pagar contas em atraso (35%). Somente 25% dos entrevistados disseram ter conseguido economizar ou guardar dinheiro. Ainda entre os que realizaram cortes no orçamento, 55% reduziram refeições fora de casa ou cortaram delivery, 48% reduziram itens supérfluos de supermercado e 44% cortaram a compra de vestuários, calçados e acessórios.

O cenário evidenciado no levantamento mostrou que 51% dos entrevistados disseram acreditar que as condições da economia no ano passado pioraram em relação a 2020, primeiro ano da pandemia. Pelo menos quatro em cada 10 brasileiros (43%) avaliaram que a própria condição financeira piorou em 2021. Em 2019, antes da pandemia, o percentual dos que avaliaram sua situação como pior que no ano anterior era de 26%.

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