São Paulo, 28 de abril de 2024

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16/07/2022

Por que a indústria vem perdendo espaço no PIB? – 3

(17/07/2022) – Superintendente de desenvolvimento industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Renato da Fonseca é taxativo: o Brasil está se desindustrializando não apenas devido à falta de uma política industrial mais pró-ativa, aos custos elevados da energia, aos gaps da infraestrutura, mas também por causa de um sistema de tributação que é próximo do irracional.

“Quando uma montadora, por exemplo, termina de produzir um carro, os impostos sobre a mineração de ferro, a fabricação do aço, a usinagem, as autopeças, também já foram pagos lá atrás”, diz Fonseca. “Assim, o preço final do carro vai ficar muito maior devido a estes impostos que são repassados de um elo da cadeia a outro”.

Segundo ele, na maioria dos países as indústrias só pagam imposto sobre o que efetivamente elas produzem. Os impostos não são replicados na cadeia. “Os preços, assim, ficam naturalmente muito mais competitivos”.

A seguir, a íntegra da entrevista

UB – De acordo com dados do IBGE, a participação da indústria no PIB encolheu 33% desde 2010, com o setor perdendo cerca de 800 mil postos de trabalho. Por que, em sua opinião, chegamos a este quadro?

Fonseca – Além da falta de uma política industrial mais consistente, mais pró-ativa, o Custo Brasil é a causa principal. O ambiente faz a produção industrial ficar muito cara no país. A energia é cara – principalmente para as pequenas indústrias -, o preço do gás natural é elevado, o custo do transporte é muito alto, os serviços de telecom poderiam ser mais baratos e melhores – só agora o Brasil está chegando ao 5G, e mesmo assim a passos lentos. Por enquanto, o 5G só está chegando aos grandes centros urbanos.

E há ainda o buraco negro da tributação, extremamente complexa e burocrática, com resíduos tributários distribuídos por toda a cadeia. Ou seja, os impostos são repassados de um elo da cadeia produtiva a outro. Quando uma montadora termina de produzir um carro, os impostos sobre a mineração de ferro, a fabricação do aço, a usinagem, as autopeças, também já foram pagos lá atrás.

O preço final do carro, assim, vai ficar muito maior devido a estes impostos que são repassados para toda a cadeia. Na maioria dos países, as indústrias só pagam imposto sobre o que efetivamente elas produzem. Os impostos não são replicados pela cadeia produtiva.

“Inovar é sempre um negócio arriscado e

a empresa que escolhe ir por

este caminho tem de ser ajudada”

UB – Qual a razão de a desindustrialização estar atingindo mais as indústrias avançadas? As indústrias de alta e média tecnologia tiveram reduzida de 23,8% para 18,7% a sua participação no setor na última década, e as de bens intermediários de 49,3% para 44,4%. Já as indústrias tidas como de baixa tecnologia ampliaram sua fatia de 25,6% para 35%.

Fonseca – As indústrias mais avançadas sofrem com a falta de políticas públicas de estímulo à inovação, com a falta de investimentos. Inovar é sempre um negócio arriscado, e a empresa que escolhe ir por este caminho tem de ser ajudada.

Há políticas de incentivo, no entanto, para o agronegócio e indiretamente para os setores industriais mais ligados a ele. Indústrias neste perfil já não têm tantos problemas nem para produzir em maior escala nem para inovar, se assim o quiserem, pois são ajudadas por tabela pelas políticas públicas.

UB – A CNI vê alguma simetria entre o atual predomínio do agronegócio e da mineração na economia brasileira, e a participação crescente das indústrias de baixa densidade tecnológica no setor industrial como um todo?

Fonseca – Não, o problema está longe de ser este. Pelo contrário, a indústria de ponta e o agronegócio estão rigorosamente do mesmo lado, um acaba ajudando o outro. Basta pensar na indústria de máquinas agrícolas, na indústria de tratores, nas desenvolvedoras e prestadoras de serviços de software. O agronegócio é um dos principais mercados de todos esses setores mais modernos.

UB – Algumas indústrias tecnologicamente mais avançadas são as que, ao mesmo tempo, fazem parte de cadeias produtivas mais longas. O “enxugamento” delas na economia contribui para a desindustrialização?

Fonseca – Em alguns casos, sim. Naturalmente, quanto mais longas as cadeias produtivas, elas terão de se haver com mais etapas do Custo Brasil. Mais transporte, mais logística, mais energia, mais impostos e assim por diante.

Isso vem tirando a competitividade de muitas indústrias mais avançadas e pertencentes às cadeias mais longas, como a metal-mecânica e a automotiva, e as esgarçando. Já a indústria alimentícia, por exemplo, apenas compra o produto do agronegócio e o beneficia. Por isso, é um setor comparativamente mais competitivo.

UB – Seria possível “engordar” de novo a indústria de transformação brasileira, usando como base indústrias do tipo tradicional? Sob critérios como regionalização etc.?

Fonseca – Isso não geraria nem bons empregos nem renda. Além de perder o motor do desenvolvimento, que é a inovação, o país teria de importar os produtos mais sofisticados e exportar basicamente commodities, cujos preços são instáveis.

A Austrália decidiu abrir mão de sua indústria automotiva, e manter poucos setores industriais na ativa, e boa parte deles tradicionais, e se deu bem. Mas a Austrália tem 20 milhões de habitantes. O Brasil tem 200 milhões. Uma política deste tipo faria o país cair na chamada armadilha da renda média.

“Quando a produção industrial de ponta cresce,

ela antes aumenta do que reduz os empregos,

embora distribuídos por outras áreas”

UB – As indústrias intensivas em capital e tecnologia, como a automotiva, a siderúrgica, a de bens de capital, dotadas de maquinário cada vez mais moderno, empregam também no Brasil cada vez menos trabalhadores. Por este aspecto, pode se considerar terminado o período de pleno emprego industrial qualificado?

Fonseca – Isso é bobagem. Quando a produção industrial de ponta cresce, ela antes aumenta do que reduz os empregos, embora distribuídos por outras áreas. Gera mais serviços, mais comércio, e quase sempre mais qualificados. Hoje, um garçom tem de saber trabalhar com tablet. As máquinas da Revolução Industrial não desempregaram o homem, criaram empregos novos e diferentes.

Mas é óbvio que uma produção mais avançada também exige mão de obra mais qualificada. É preciso que o Brasil acorde para a necessidade de melhor qualificar a sua mão de obra.

O governo tem de também responder a esse desafio, ajudar entidades como o Senai nessa tarefa, que é gigantesca. No Brasil o problema da má formação vem desde a educação básica. De modo geral, o jovem termina o ensino médio – que já não é lá grande coisa – e não recebe mais nenhuma formação.

Para ler as outras entrevistas desta série clique nos links abaixo:

Por que a indústria vem perdendo espaço no PIB? – 1

Por que a indústria vem perdendo espaço no PIB? – 2

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