São Paulo — Estimativas da KPMG apontam que a indústria automotiva global perderá US$ 125 bilhões em vendas este ano por causa da crise dos semicondutores. O descompasso no abastecimento do componentes e a falta de previsibilidade acerca do aumento da capacidade produtiva dos chips no curto prazo para abastecer a alta demanda afetarão o faturamento das montadoras ao longo do ano.
Para a empresa de consultoria as fabricantes de veículos seguem no fim da fila pelo componente: representam fatia de 10% no mix de vendas das empresas produtoras de chips, que por ora — e por preferência — organizam os seus cronogramas de produção de acordo com os pedidos dos setores que oferecem maiores volumes e maiores margens de lucro, como é o caso dos eletroeletrônicos.
Um eventual equilíbrio no fornecimento global, seguiu a KPMG em estudo divulgado para a Agência AutoData, depende exclusivamente do aumento da capacidade produtiva das fabricantes de chips, que são conhecidas no mercado como cautelosas a esse respeito. Também pudera: expandir a produção demanda alto investimento. O preço do equipamento que faz o encapsulamento dos chips, o principal processo pelo qual passa o semicondutor, gira em torno de US$ 100 milhões.
Isso está acontecendo nos Estados Unidos e na Ásia e deverá ser algo concreto dentro de dois anos. Até lá as montadoras terão de se virar como puderem para voltar a produzir em níveis concordantes com a demanda de veículos no mercado global. Uma saída que está sendo cogitada é a compra direta de chips — hoje esse abastecimento é feito por meio de seus fornecedores.
À Reuters um executivo afirmou que a montadora para a qual trabalha pretende estabelecer relações contratuais diretas com esses fabricantes. A saída é vista pela KPMG como necessária, dado o momento de crise e o futuro do setor automotivo, no qual os veículos demandarão cada vez mas semicondutores: "Montadoras japonesas e coreanas que têm conexões diretas com fornecedores de semicondutores se saíram melhor durante a escassez", analisa a consultoria em seu estudo.
Afora o estreitamento das relações das montadoras com fabricantes de chips a KPMG indicou no documento que o setor automotivo precisa mudar a forma pela qual realiza certos negócios. No caso de componentes críticos, como os semicondutores, o modelo just-in-time, no qual as peças transitam no fluxo logístico precisamente de acordo com o volume produzido na linha deve ser substituído por volumes mirando o longo prazo — ou seja, estocagem.
A KPMG também sugere em seu estudo que as montadoras passem a investir diretamente na produção de semicondutores, seja com a formação de joint-ventures ou na criação de divisões de negócios próprias. Nesse sentido o estudo cita que fabricantes de chips estariam de alguma forma articulando as expansões necessárias com investimentos feitos por montadoras em seus ativos.
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