Por Pedro Brodbeck, G1 PR


Movimentação de pessoas em Curitiba e Região Metropolitana não caiu após decretos que restringiam atividades comerciais. — Foto: Giuliano Gomes/PR Press

O índice de isolamento social em Curitiba e região metropolitana não alcançou os resultados esperados pelo governo estadual com as medidas restritivas adotadas entre dia 1º e 14 de julho, segundo um levantamento com dados de localização de celulares.

Os dados, coletados pela empresa InLoco e monitorados pela Universidade de São Paulo (USP), mostraram que, ao longo das duas semanas de vigência do decreto, o isolamento nos municípios vizinhos de Curitiba foi, em média, menor do que o registrado na capital.

Enquanto em Curitiba de 40% a 45% das pessoas ficaram em casa, nas maiores cidades da região metropolitana, como São José dos Pinhais, Colombo, Araucária, Piraquara, Fazenda Rio Grande e Almirante Tamandaré, o índice sempre esteve abaixo dos 40% de segunda a sexta-feira.

"As medidas mais recentes não tiveram o efeito que esperávamos", afirmou o presidente da Associação dos Municípios da Região Metropolitana de Curitiba (Assomec) e prefeito de Fazenda Rio Grande, Marcio Wozniack (PSDB).

Esse vai e vem de pessoas, conforme os especialistas, impacta diretamente no número de casos.

"É mais difícil controlar a pandemia quando as pessoas continuam saindo de casa. Curitiba e os municípios do entorno são muito interligados. Qualquer medida de controle tem que passar por uma integração entre eles", afirmou o o epidemiologista da Fundação Nacional da Saúde no Paraná e professor da Universidade Positivo (UP), Moacir Ramos.

O isolamento

Até 14 de julho, o índice variou, em média, entre 35% e 45% durante os dias da semana, nos municípios da Região Metropolitana de Curitiba (RMC). O patamar é o mesmo do período anterior ao decreto.

A expectativa da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa) era que o isolamento superasse os 50% no período. O índice só foi alcançado aos domingos, quando decretos municipais determinaram o fechamento de supermercados e outras atividades.

Conforme a pesquisa, realizada em mais de 4 mil municípios do país, as pessoas que percorrem uma distância de mais 450 metros de casa estão descumprindo o isolamento social.

Deslocamentos entre os municípios

Outro índice calculado pela USP aponta que a movimentação diária de pessoas entre Curitiba e municípios da região metropolitana se manteve estável entre 1º e 14 de julho, repetindo o que ocorreu em junho.

Os dados apontam que cerca de 70% das pessoas que se deslocavam entre os municípios antes do início da pandemia continuaram indo e voltando diariamente de Curitiba.

Queda no fluxo de pessoas em Curitiba e região
Dados mostram que março registrou a menor movimentação de pessoas durante a pandemia
Fonte: IME-USP/InLoco

O número de deslocamentos foi menor no início da pandemia, em março, quando as saídas e entradas da cidade caíram cerca de 50%.

Naquele período, a taxa de isolamento em Curitiba variou de 50% a 57%, os maiores índices já registrados na cidade. Nos municípios vizinhos, entre 20 e 31 de março, o isolamento também foi recorde, variando de 49% a 55%, em média.

"São mais de três meses com alguma restrição, e hoje temos uma dificuldade de adesão das pessoas", afirmou Wozniack.

Os dados do monitoramento apontam que o maior número de deslocamentos na região metropolitana acontece entre Curitiba e São José dos Pinhais e entre a capital e Colombo.

Segundo o médico Moacir Ramos, isso acontece porque muitas pessoas que trabalham em Curitiba moram nas cidades vizinhas e se deslocam para a capital mesmo que os decretos dos municípios do entorno sejam mais restritivos.

"A mensagem é para que as pessoas fiquem em casa, mas enquanto alguns serviços continuarem funcionando, parte desse fluxo vai se manter, especialmente nos dias de semana, e o vírus vai continuar circulando", afirmou o epidemiologista.

Monitoramento da USP aponta que fluxo entre Curitiba e cidades da região se manteve alto

Monitoramento da USP aponta que fluxo entre Curitiba e cidades da região se manteve alto

A média móvel de novos casos em Curitiba, considerando o boletim de terça-feira (14) era de 412 novos casos por dia. Em relação ao início do decreto, no dia 1º de julho, quando a média apontava para 250 novos casos diários, o aumento foi de 65%.

A média móvel de mortes no mesmo período passou de 5 para 12 – 140% de aumento.

Os especialistas entendem que a variação de até 15%, para mais ou para menos, caracteriza estabilidade da doença no período.

Segundo o epidemiologista Moacir Ramos, os efeitos das medidas demoram, em média, duas semanas para apresentarem impactos nos números de casos e mortes.

Transporte público

Parte do fluxo de pessoas entre Curitiba e as cidades do entorno acontece pelo transporte público metropolitano.

De acordo com dados da Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec), cerca de 300 mil passageiros usavam o transporte público entre as cidades da região em um dia normal de semana antes da pandemia.

Após o início da pandemia, este movimento caiu para uma média de 120 mil passageiros por dia.

Passageiros no transporte público metropolitano de Curitiba
Número de usuários caiu pela metade durante a pandemia
Fonte: Comec

Os dados, no entanto, também mostram que não houve queda de passageiros durante o período de vigência do decreto mais restritivo publicado pelo governo estadual.

"Depois da queda expressiva no início da pandemia, notamos que o fluxo se mantém", disse o presidente da Comec, Gilson Santos.

Segundo Santos, isso acontece porque muitos dos trabalhadores que fazem esses trajetos diariamente são informais. "E nesses casos muitos patrões não atenderam ao pedido de flexibilização de horário", afirmou.

Número de passageiros no transporte coletivo metropolitano se mantém o mesmo desde o início da pandemia — Foto: Giuliano Gomes/PR Press

Medidas integradas

De acordo com o médico, todas as medidas de combate ao coronavírus precisam ser integradas por região e devem visar a queda na movimentação de pessoas.

"Toda proposta de controle da pandemia em Curitiba precisa abranger a região metropolitana, e vice-versa", afirmou o epidemiologista.

Na quarta-feira, a Associação dos Municípios da Região Metropolitana recomendou a cada cidade um modelo de decreto que flexibiliza as regras para o comércio, liberando que shoppings e bares, por exemplo, voltem a abrir.

O presidente associação dos municípios, Márcio Wozniack, afirmou que não acredita que a adoção de medidas mais duras possam surtir efeito.

"Temos uma parcela muito grande de pessoas que não acredita na pandemia, há comerciantes que desrespeitaram as últimas medidas. O caminho é tentar conscientizar e trabalhar mais próximo as pessoas colaborem e ajam com responsabilidade", disse Wozniack.

Segundo o presidente da Assomec, o objetivo da recomendação é que todos os municípios tenham decretos alinhados.

"Se um município permite que shoppings abram e outros não, por exemplo, vai haver uma migração. Por isso as medidas devem seguir as mesmas restrições", afirmou.

A Sesa informou que conta com as lideranças municipais e regionais para a articulação de ações coordenadas na execução do Plano de Contingência do Paraná COVID-19.

A secretaria estadual informou que o Fórum Metropolitano de Prefeitos conta com as condições técnicas e políticas, para a definição de medidas pertinentes frente ao cenário da região.

Alternativas

Segundo o epidemiologista Moacir Ramos, uma forma de tentar amenizar os impactos deste fluxo no avanço da pandemia é escalonar os horários dos trabalhadores que continuam se deslocando.

"É uma mudança cultural imposta pelo cenário. Estamos nos adaptando ao trabalho remoto e à telemedicina, por exemplo. Dado que o deslocamento acontece, devemos entender que é preciso flexibilizar os horários de entrada e saída de quem continua indo até o trabalho", afirmou Ramos.

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