IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Por que Bolsa brasileira subiu 7%, e EUA tiveram pior queda em quase 2 anos

Especialistas apontam 3 motivos para a Bolsa brasileira estar na contramão do mundo - Amanda Perobelli/Reuters
Especialistas apontam 3 motivos para a Bolsa brasileira estar na contramão do mundo Imagem: Amanda Perobelli/Reuters

João José Oliveira

Do UOL, em São Paulo

02/02/2022 04h00

O Ibovespa, principal indicador de ações do mercado brasileiro, estreou 2022 em alta, com valorização de 7% em janeiro —o melhor desempenho mensal desde dezembro de 2020. O ganho ajudou a amenizar as perdas acumuladas ao longo de 2021, de 11,93%, e ainda colocou a Bolsa local em posição privilegiada em relação às Bolsas norte-americanas, que abriram o ano com perdas de até 8,9%. Os índices dos EUA registraram o pior desempenho desde março de 2020, mês de tombo mundial nas ações, no início da pandemia.

Mas por que a Bolsa brasileira tem ido na contramão do mercado internacional? Em entrevista ao UOL, especialistas citam três principais motivos para esse movimento —que, segundo eles, ainda deve permanecer no curto prazo. Veja abaixo.

Desempenho das Bolsas no mundo

Nos Estados Unidos, o S&P 500 e o Dow Jones 30, principais índices da Bolsa de Nova York, recuaram 5,3% e 3,3%, respectivamente. Assim, registraram o pior desempenho da Bolsa norte-americana desde março de 2020. O Nasdaq, índice das principais empresas de tecnologia dos EUA, cedeu ainda mais —caiu 8,9%.

Variações das Bolsas em janeiro

  • Ibovespa: +7%
  • S&P 500: -5,3%
  • DJ30: -3,3%
  • Nasdaq: -8,9%

3 motivos para a Bolsa brasileira em alta

Profissionais de mercado apontam que a combinação de três fatores ajudaram a alimentar o desempenho positivo da Bolsa brasileira em janeiro deste ano, após um 2021 com saldo negativo.

1) Rotação de carteira

Uma das razões que têm levado à alta do Ibovespa é a rotação de carteira. Isto é, quando os investidores mudam a composição das ações que fazem parte da carteira. Logo, vendem papéis que acumularam valorização para comprar outros que estão com preços mais interessantes ou maior potencial se valorizarem.

Economista-chefe do Modalmais, Alvaro Bandeira diz que a rotação têm envolvido a venda das chamadas empresas de crescimento e compra das empresas de valor.

As empresas de crescimento são companhias em fase de expansão e conquista de novos mercados. O exemplo mais citado pelos entrevistados são empresas de tecnologia, que tiveram um desempenho positivo acima da média do mercado em 2021.

Já as empresas de valores são aquelas que atuam em setores considerados mais tradicionais ou maduros, na chamada velha economia. É o caso de bancos, produtoras de matérias-primas ou companhias de utilidade pública, como as concessionárias de energia, gás e água.

Essa rotação está acontecendo agora, porque as empresas mais maduras têm boas perspectivas para o ano e porque algumas empresas e setores ficaram baratos, principalmente para o investidor estrangeiro em dólar. Já as Bolsas lá fora foram afetadas pelo risco de inflação alta e retiradas de estímulos das políticas monetárias, com redução de juros, por exemplo.
Alvaro Bandeira, economista-chefe do banco digital Modalmais

Os especialistas também declaram que a principal preocupação dos investidores das Bolsas americanas é a retirada de estímulos monetários pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), que já sinalizou a necessidade de uma subida de juros mais cedo e mais rápido do que esperado anteriormente.

Com isso, as taxas de juros de longo prazo nos Estados Unidos dispararam, e isso afetou fortemente as empresas de crescimento, principalmente as grandes empresas de tecnologia lá fora --que têm a maior parte de seus valores projetados no futuro.
Jennie Li, estrategista de ações da XP Investimentos

2) Bolsa brasileira forte em empresas de valor

O movimento de rotação de carteira favorece os mercados nos quais as empresas de valor (as mais tradicionais) têm maior peso que as empresas de crescimento (sobretudo as de tecnologia). E esse é o caso da Bolsa brasileira, em que ações de companhias de commodities (matérias-primas como petróleo e minério de ferro), de bancos e de utilidades públicas são maioria.

Já as Bolsas americanas, que são mais fortes em empresas de tecnologia e outros casos de crescimento, estão sofrendo mais agora.
Segundo dados da XP Research, os setores de materiais, de energia e financeiro representam 67% da Bolsa brasileira, e apenas 17% nos Estados Unidos.

No caso das Bolsas americanas, as empresas de crescimento têm maior peso. Já na Bolsa brasileira e em outras Bolsas de países emergentes, há mais empresas de commodities e mais bancos que se beneficiam da alta dos juros.
Lucas Collazo, especialista em investimentos da Rico

3) Preços descontados no Brasil

O ajuste de posições nas carteiras dos investidores globais também está alimentando a Bolsa brasileira. De acordo com os entrevistados, quem investe está encontrando por aqui ações com preços descontados, já que os papéis brasileiros recuaram em 2021. Se a conta for feita em dólar, o desconto é ainda maior.

Ibovespa e alguns dos índices de ações americanos em 2021

  • Ibovespa: -11,93%
  • S&P 500: +26,9% em 2021
  • DJ30: +18,7% em 2021
  • Nasdaq: +21,4% em 2021

Essa combinação de fatores atraiu investidores estrangeiros. Até 27 de janeiro, eles aplicaram mais de R$ 28 bilhões na Bolsa brasileira —o que equivale a 39,5% do total de 2021, que foi de R$ 70,758 bilhões.

Qual a tendência agora?

Os entrevistados dizem que há espaço para o Ibovespa manter a tendência positiva mesmo com um desempenho negativo das Bolsas americanas. Mas afirmam que o sobe e desce que dominou a Bolsa brasileira em 2021 pode reaparecer a qualquer momento, e que o ingresso de capital externo (ou seja, o número de investidores estrangeiros) pode ser rapidamente afetado.

O estrangeiro está comprando Bolsa brasileira porque já coloca na conta a volatilidade dos mercados provocadas por fatores como as incertezas geradas pelas eleições. Mas esse capital é tático, de curto prazo. Para o capital de longo prazo vir, o Brasil precisa de um cenário mais claro de crescimento econômico, com reformas e definição das políticas do governo.
Lucas Collazo, especialista em investimentos da Rico

Para os analistas ouvidos pelo UOL, o comportamento das empresas com maior peso no Ibovespa, o ritmo da alta dos juros nos países ricos e as eleições brasileiras são os principais fatores que devem determinar a trajetória das ações da Bolsa brasileira nos próximos meses.

O primeiro semestre da Bolsa brasileira ainda pode ser melhor que a de outros mercados. Mas tem muita coisa para acontecer ainda, como as eleições e a persistência da covid.
Alvaro Bandeira, economista-chefe do banco digital Modalmais

Já o analista da Genial Investimentos, Igor Graminhani, diz que o Ibovespa passou a operar em tendência de alta no curto prazo após romper os 109 mil pontos. Segundo ele, a próxima resistência fica perto de 115 mil pontos. E, se superar esse patamar, o índice pode buscar então os 117 mil pontos e, na sequência, os 121 mil pontos.

A XP Investimentos aponta em relatório que ainda trabalha com um Ibovespa de 123 mil pontos para este ano. Mas os profissionais de casa destacam que o índice pode ir além disso se as empresas que compõem o Ibovespa tiverem as projeções de lucro revistas para cima.

A especialista em ações da Clear Corretora, Pietra Guerra, vê espaço para continuidade da busca do investidor por empresas de valor por causa da alta dos juros e valorização das commodities, favorecendo a Bolsa brasileira. Mas ela aponta que as Bolsas americanas também podem voltar a subir.

Não é por que a gente viu esse movimento de correção nos Estados Unidos que isso represente uma tendência para todo o ano. Nós não vemos assim. Até porque essa correção abre espaço para atrair investidores.
Pietra Guerra, Clear Corretora

Este material não é um relatório de análise, recomendação de investimento ou oferta de valor mobiliário. Este conteúdo é de responsabilidade do corpo jornalístico do UOL Economia, que possui liberdade editorial. Quaisquer opiniões de especialistas credenciados eventualmente utilizadas como amparo à matéria refletem exclusivamente as opiniões pessoais desses especialistas e foram elaboradas de forma independente do Universo Online S.A.. Este material tem objetivo informativo e não tem a finalidade de assegurar a existência de garantia de resultados futuros ou a isenção de riscos. Os produtos de investimentos mencionados podem não ser adequados para todos os perfis de investidores, sendo importante o preenchimento do questionário de suitability para identificação de produtos adequados ao seu perfil, bem como a consulta de especialistas de confiança antes de qualquer investimento. Rentabilidade passada não representa garantia de rentabilidade futura e não está isenta de tributação. A rentabilidade de produtos financeiros pode apresentar variações e seu preço pode aumentar ou diminuir, a depender de condições de mercado, podendo resultar em perdas. O Universo Online S.A. se exime de toda e qualquer responsabilidade por eventuais prejuízos que venham a decorrer da utilização deste material.