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    Brasil deve bater novo recorde de exportações com commodities em alta, dizem especialistas

    Guerra na Ucrânia pressionou ainda mais os preços globais de alimentos e combustíveis, o que está turbinando a receita brasileira com as vendas externas

    Colheita de soja: agropecuária bateu recorde de participação nas exportações do 1° trimestre
    Colheita de soja: agropecuária bateu recorde de participação nas exportações do 1° trimestre Wenderson Araujo/CNA

    Juliana Eliasdo CNN Brasil Business

    em São Paulo

    A alta das commodities –os produtos básicos comercializados em bolsas internacionais–, causada pelo impacto duplo da pandemia seguida pela guerra na Ucrânia, está impactando os preços dos alimentos e da energia para os consumidores do Brasil e do mundo.

    Por outro lado, para os grandes fornecedores desses produtos, como o Brasil, os preços de produtos como grãos, carnes, petróleo e minérios em níveis recordes devem também ajudar a turbinar as exportações.

    Economistas e relatórios consultados pelo CNN Brasil Business apontam que a expectativa é de que o Brasil renove neste ano tanto o seu recorde de exportações quanto do saldo na balança comercial, que é a diferença entre tudo o que o país importa e o que vende para fora.

    Esses recordes foram batidos em 2021, já impulsionados pela primeira onda de valorização das commodities durante a pandemia. No ano passado, o país alcançou US$ 280,8 bilhões em exportações e um superávit de US$ 61,4 bilhões na balança comercial.

    São números nunca vistos pela economia brasileira desde pelo menos 1989, ano em que começa a série histórica do Ministério da Economia. Para se ter uma ideia, o maior saldo positivo já alcançado havia sido de US$ 56 bilhões, em 2017.

    Para 2022, é consenso entre os especialistas que a marca dos US$ 60 bilhões deva ser facilmente superada.

    Leva de revisões

    Muitos bancos e casas de análises estão revisando as projeções para a balança comercial para cima, dado que entre janeiro e abril os recordes mensais de exportações continuaram a ser renovados, puxados por produtos como milho, soja, café, carnes, petróleo e minérios. 

    Os mais otimistas falam em um resultado que pode até passar dos US$ 80 bilhões.

    O Banco Central, por exemplo, revisou em março suas projeções para as exportações deste ano de US$ 276 bilhões para US$ 328 bilhões, enquanto a expectativa para o saldo foi ajustada de US$ 52 bilhões para US$ 83 bilhões.

    Ainda mais otimista, o Ministério da Economia fala em US$ 348 bilhões em exportações e um superávit de R$ 111,6 bilhões em 2022, pelas projeções mais recentes da pasta.

    “Nosso cenário base é de um superávit comercial de US$ 70 bilhões, mas, se esse ritmo de ascensão dos preços continuar, pode passar dos US$ 80 bilhões”, diz o economista do BTG Pactual Leonardo Paiva.

    “Isso tem consequências importantes, porque melhora a arrecadação de impostos com exportações e as contas públicas”, acrescenta. É também a enxurrada de dólares entrando no país com as vendas para fora, afirma Paiva, que ajudou a baixar e manter a taxa de câmbio mais perto dos R$ 5.

    “O cenário mudou com o conflito Ucrânia-Rússia, que deve pressionar ainda mais os preços dos alimentos e combustíveis”, escreveu o Bank of America em relatório a clientes sobre o Brasil.

    O banco espera exportações na faixa dos US$ 315 bilhões neste ano e revisou sua perspectiva para o saldo da balança comercial brasileira de US$ 50 bilhões para US$ 65 bilhões.

    “As sanções contra o trigo, o milho e a soja da Rússia podem ser uma oportunidade para o Brasil, que é um dos maiores fornecedores de soja do mundo e se beneficia não só da alta de preços, mas também da possibilidade de aumentar seu mercado”, acrescenta o relatório.

    Último impulso para o PIB

    Foi também a perspectiva de exportações robustas em 2022 um dos fatores que levaram o banco BTG a elevar a sua projeção para o crescimento do PIB brasileiro neste ano, de 0,3% para 0,5%.

    A mesma razão – a alta no preço das commodities – levou também o Fundo Monetário Internacional (FMI) a revisar recentemente seus números de crescimento para a economia brasileira, de 0,3% para 0,8%, numa leva de aumentos que o fundo distribuiu para os principais países exportadores desses produtos.

    Com consumo espremido pela inflação alta, a renda em queda e os juros nos maiores níveis em cinco anos, as exportações acabaram se tornando uma espécie de último motor a puxar a economia.

    Como é basicamente a agropecuária que está puxando a alta, porém, este impulso acaba sendo limitado, e é por isso que, mesmo com a notícia positiva, as projeções para o PIB continuam com dificuldade de passar do 1%.

    “Para que as exportações conseguissem realmente ajudar o PIB teriam que vir do setor industrial ou de serviços, para tentar gerar mais empregos”, diz o ex-secretário de Comércio Exterior Welber Barral, sócio da BMJ Consultores Associados. “O setor agrícola é pouco intensivo em mão de obra.”

    No primeiro trimestre deste ano, a agropecuária foi responsável por 23% das receitas do país com exportações, a maior marca já registrada para o período desde pelo menos 1998, de acordo com os dados do Ministério da Economia. A indústria de transformação, por sua vez, respondeu por 54%.

    Em 2000, a indústria tinha uma participação superior a 80%, enquanto apenas 6% vinham da agropecuária.