Ações de commodities já subiram até 200% – e ainda continuam um bom negócio

Ibovespa acumula alta de 5,4% em 2021, mas, sem as exportadoras de produtos básicos, estaria em queda de 1%

Pilhas de minério de ferro importado em um porto em Zhoushan, China (09.mai.2019)
Pilhas de minério de ferro importado em um porto em Zhoushan, China (09.mai.2019) Foto: Stringer/Reuters

Juliana Elias,

do CNN Brasil Business, em São Paulo

No universo econômico, o mundo inteiro fala dos sinais de que podemos estar entrando em um novo superciclo de commodities, mais ou menos como o que aconteceu nos anos de forte crescimento e preços recordes vistos na década de 2000.

As commodities são os produtos básicos negociados em bolsas internacionais, como petróleo, metais, grãos e carnes. Puxadas pelo susto de uma recuperação rápida pós-pandemia em algumas das principais economias do mundo, como a China e os Estados Unidos, muitas delas estão batendo suas maiores cotações em anos e, algumas, da história (caso do minério de ferro e do cobre).

Como muitos desses produtos sustentam as principais exportações do Brasil – minério de ferro, soja, carnes e celulose são alguns do topo da lista –, preços de commodities mais altos são sempre boa notícia para a economia doméstica. Desta vez, o bônus ainda veio duplo: com o dólar também subindo, a receita das empresas exportadoras cresce ainda mais. 

O mercado financeiro também sabe disso e a bolsa de valores já surfou bastante nesta promessa de novo superciclo de commodities: sem as empresas do setor, inclusive, o Ibovespa, principal índice acionário da bolsa brasileira, está ainda no negativo e não recuperou os níveis pré-pandemia. 

Cálculo feito por Einar Rivero, da consultoria de dados Economatica, mostra que, se fossem retiradas as ações das empresas exportadoras de produtos básicos, o Ibovespa sairia da alta de 5,4% que acumula neste ano e estaria em queda de 1%. A sucessão de recordes históricos que chegou a bater ao longo do ano nem teria acontecido. 

Atualmente, o Ibovespa é formado por 84 ações, das quais 13 são grandes exportadoras de produtos básicos. Destas 13, dez têm altas (bem) maiores que a do índice de referência, todas com variações pelo menos duas vezes maiores que a do Ibovespa, também de acordo com levantamento da Economatica feito para o CNN Brasil Business

No topo da lista, a jovem petroleira PetroRio (PRIO3) ganhou 175% desde o início de 2020, e a siderúrgica CSN (CSNA3) disparou 217%. Enquanto isso, o índice de referência subiu 8,4% no mesmo período (sem a ajuda das exportadoras, seria uma queda de 5,4%). A alta mais tímida é da processadora de carnes JBS (JBSS3), com ganho de 17%.

Apenas três dos 13 papéis ligados a commodities estão em queda no período, influenciadas por problemas próprios: a Petrobras (-12,4%, PETR3) e os frigoríficos Minerva (-19,8%, BEEF3) e BRF (26,8%, BRFS3).

Tarde demais para comprar?

A pergunta natural que surge daí é se, com altas tão fortes, ainda há espaço para que essas ações subam mais e, portanto, para que aqueles que perderam a viagem do primeiro bonde ainda consigam pegar uma carona. 

E a resposta dos analistas é que sim: nem o novo ciclo de commodities parece estar perto de seu fim, e nem todas essas ações já esgotaram o que têm para ganhar com ele. Altas na casa dos três dígitos, porém, dificilmente devem voltar a se repetir. 

Não à toa, muitos desses papéis continuam aparecendo recorrentemente nas carteiras recomendadas de ações das principais corretoras. Petrobras (PETR4), da mineradora Vale (VALE3), o frigorífico Marfrig (MRFG3) e a fabricante de papel e celulose Klabin (KLBN11) são algumas do topo da lista. 

“Os principais países desenvolvidos mostram sinais de recuperação da sua atividade, além da própria China, o que deve continuar sustentando esse ciclo das commodities até 2022”, disse o analista da corretora Terra Investimentos, Régis Chinchila. “Por essa razão reiteramos as recomendações de compra nesses ativos.”

Vale, Petrobras e a Gerdau (GGBR4), que produz aços para a construção, são as principais exportadoras na lista de recomendações da corretora atualmente. De acordo com Chinchila, elas ainda têm fundamentos para subir na ordem dos 20%, 30% e 40%, respectivamente, ao longo do próximo ano. 

Infraestrutura e economia real

As recomendações da Terra Investimentos vão ao encontro da análise da economista-chefe da CM Capital, Carla Argenta.

De acordo com ela, a super-demanda por commodities não é comum a todos os produtos, e deve continuar especialmente aquecida para aqueles ligados a infraestrutura e construção, como o minério de ferro (matéria-prima do aço), a siderurgia (como ligas de aço) e aqueles ligados ao consumo energético, como o petróleo.

“Em crises anteriores, não tivemos pacotes fiscais tão robustos quanto os que estamos tendo agora”, disse Argenta, mencionado os pacotes trilionários prometidos pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, de investimentos em infraestrutura e também em energia limpa. “Nas crises anteriores, as ajudas foram muito mais ligadas ao mercado financeiro. Nesta, são investimentos na economia real.”

Como são bilhões e bilhões de dólares ainda por serem aplicados pelos governos desses países, sobre economias que já voltam também a crescer e se movimentar por si, Argenta afirma que trata-se de um ciclo de crescimento que tem fundamentos para se sustentar ainda por alguns anos à frente. 

“O que pode acontecer é que, no curto prazo, haja uma correção nos preços de alguns desses produtos [no mercado internacional]. Mas isso não quer dizer que vão voltar para os patamares pré-crise, e a demanda por eles deve continuar em alta no médio e no longo prazo.”