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Bancos brasileiros têm ‘nota ruim’ em responsabilidade socioambiental

Guia avaliou políticas de sustentabilidade dos maiores bancos do país em relação às empresas que financiam ou nas quais investem

bancos sustentabilidade
Foto: Pixabay

O Idec, Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, junto de Conectas Direitos Humanos, Instituto Sou da Paz e Proteção Animal Mundial, lançam nesta terça-feira a nova edição do Guia dos Bancos Responsáveis. É um estudo que avalia 18 temas das políticas de sustentabilidade que os maiores bancos brasileiros possuem em relação às empresas que financiam ou nas quais investem.

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O objetivo é oferecer aos consumidores um panorama sobre o que as instituições financeiras fazem com seu dinheiro, que tipo de empresas financiam e se consideram aspectos como, por exemplo, desmatamento, respeito aos direitos humanos e relações trabalhistas.

O trabalho, que é publicado há cada dois anos, baseou-se em dados de 2019 e 2020 e segue a metodologia do Fair Finance International, aplicada em 13 países. Os resultados dos bancos brasileiros são baixos, ainda que tenham sido identificados importantes avanços desde a última pesquisa realizada em 2018.

Foram avaliados os novemaiores bancos do país: Banco do Brasil, Bradesco, BTG Pactual, BV, Caixa, Itaú, Safra, Santander e BNDES, sobre questões urgentes da nossa sociedade divididas em temas transversais (mudanças climáticas, corrupção, igualdade de gênero, direitos humanos, direitos trabalhistas, meio ambiente e impostos); temas setoriais (armas, alimentos, florestas, setor imobiliário e habitação, mineração, óleo e gás e geração de energia); e temas operacionais: (direitos do consumidor, inclusão financeira, remuneração, transparência e prestação de contas).

Os dados foram coletados em informações públicas e questionamentos enviados às instituições financeiras. O desempenho médio dos nove bancos, numa escala de 0 a 10, ficou em 3,2. Ou seja, apenas “32% responsável”. Ainda que baixo, houve um aumento de 2 pontos porcentuais em relação à 2018, quando a nota média dos bancos foi 3 – “30% responsável”.

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Na pesquisa mais recente, o BNDES – que tem como foco o desenvolvimento e não atende diretamente à população – é o melhor colocado no GBR, pontuando 4,3. Entre os bancos comerciais, o Santander obteve a melhor colocação, com nota 3,8, seguido de Banco do Brasil e Itaú, ambos com 3,5. Veja o desempenho médio das outras instituições:

Alguns resultados dos temas avaliados chamam à atenção pela distância em que estamos de um cenário ideal, como:

• A representatividade feminina nas diretorias não chega a 30% em nenhum dos bancos avaliados;

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• A maioria não informa quantos de seus diretores e superintendentes são negros;

• Apenas quatro bancos publicam políticas específicas para setores que têm impacto direto no meio ambiente, como petróleo e mineração;

• Em todos os bancos as políticas de sustentabilidade divulgadas priorizam os financiamentos e nem sempre consideram diretrizes sobre os investimentos;

• Os compromissos dos bancos nem sempre se traduzem em ações efetivas e metas mensuráveis;

• Somente dois bancos publicam políticas sobre financiamento da indústria de armas;

• Apenas um terço dos bancos apresenta políticas para prevenção e tratamento do superendividamento de seus clientes;

• Apenas um banco considera o bem-estar animal como requisito obrigatório para financiamento.

Neste último ponto, destacamos que o quesito que avalia como os animais são tratados ao longo da cadeia produtiva atualmente é um dos elementos do tema Alimentos. Porém, com a importante chegada da ONG Proteção Animal Mundial à coalizão brasileira, o bem-estar animal passará a ser um tema independente na avaliação de políticas de 2022, permitindo um diagnóstico mais preciso das políticas dessa área.

O Idec acredita que é viável tecnicamente que a média dos bancos brasileiros alcance os 5 pontos nos próximos anos. “Essa é uma meta absolutamente plausível, pois instituições tradicionais, operando em cenários distintos, cumprem pelo menos 50% dos princípios para ser um banco responsável, como nos mostra as avaliações de políticas do FFI na Holanda, Noruega e Suécia”, pontua Gustavo Pereira Machado de Melo Souza, pesquisador do Idec e um dos autores do estudo.

Os outros países que também são avaliados pelo FFI são: Bélgica, Alemanha, índia, Indonésia, Japão, Tailândia, Vietnã, Filipinas e Camboja.

Sustentabilidade

Na comparação com a avaliação realizada em 2018, nota-se que o tema da sustentabilidade ganhou importância ao menos nas peças de comunicação dos bancos. Em 2018, as questões socioambientais não foram protagonistas. Já em 2020, observa-se avanços na sua integração, com maior destaque e interesse dos bancos em adotar os princípios de sustentabilidade.

Na prática, foram feitas ações concretas relacionadas às mudanças do clima (principalmente fomento à geração de energia limpa) e diretrizes mais rígidas de atuação no bioma Amazônia. O saldo geral é positivo, mas a proposta de geração de valor sustentável ainda tem um longo caminho até se consolidar.

“Essa é a oitava edição do GBR em dez anos, uma iniciativa inovadora sobre critérios de avaliação da sociedade civil. Um processo desafiador que apresentou avanços, como a unificação da metodologia global, possibilitando um novo patamar de boas práticas e incentivo para que as instituições financeiras aprimorem suas políticas de sustentabilidade amparadas em princípios alinhados internacionalmente”, avalia a diretora executiva do Idec, Teresa Liporace.

Para acessar o conteúdo completo do Guia dos Bancos Responsáveis, clique AQUI.