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Nem vilão, nem mocinho: é preciso falar sobre plástico
| Foto: Pixabay

Cada dia mais, falar de 'plástico' traz muito 'pano para manga'. Temos grupos que os amam. Tem grupos que afirmam que ele é o vilão de toda a poluição existente no planeta. Eu trabalho há mais de 30 anos no ramo. Posso dizer que 'morro de amores por ele', mas também sei que, se mal descartado, o plástico pode ser sim um agente contaminador. Porém, não deve ser considerado o único.

Antes de falarmos em plástico e fazer afirmações vazias como "vamos acabar com o plástico", "é necessário reduzir em tantos por cento o consumo" entre outras frases jogadas ao vento, é necessário analisar o cenário de forma sensata. É inegável que o plástico faz parte de nossas vidas. Ele está por exemplo nos delicados tecidos das fraldas de bebês, ou nos rígidos potes de sorvetes, nossa escova dental ou na seringa que nos imuniza, estão nas lanternas e faróis de carros, telhas e toldos residenciais, capacetes de proteção da construção civil, no agronegócio, no setor elétrico. Não vamos gastar mais linhas, resumindo ele está em toda a parte.

Se ele faz parte de nossas vidas então é preciso tratar o tema com seriedade. Pedir para reduzir uma certa porcentagem no consumo até determinada data, até o papagaio que ficava na gaiola da vovó poderia dar essa sugestão. A questão é o como e a que custo?

Em minha experiência com o plástico vejo duas alternativas para termos um mundo mais amigo do plástico, ou o inverso, o plástico mais amigo do mundo. A primeira delas é por meio de tecnologia. Sim, nós como indústria da transformação do plástico investimos tempo e dinheiro para trazer alternativas. Elas são magnificas e amigas do meio ambiente. Recentemente lançamos no mercado por exemplo uma linha denominada 'Revora' a qual está voltada especificamente para produtos que possam derivar de plásticos 'verdes' dentro de uma ideia de cadeia circular.

Da indústria para mesas de discussões, temos resultados da Conferência Europeia de Bioplásticos realizada no último mês de dezembro, em Berlim. Neste encontro, plásticos produzidos de matéria-prima vegetal e biocompostáveis foram apontados como bases importantes para que a Europa possa alcançar os objetivos do Pacto Ecológico Europeu, por seu potencial de redução do lixo gerado e pelas fontes renováveis para sua produção.

Dados divulgados após a conferência apontam crescimento de mais de 200% de produção de bioplásticos para os próximos 5 anos. Deve saltar de algo de 2,4 milhões de toneladas em 2021 para 7,5 milhões de toneladas em 2026. É prevista uma ampliação da aplicação deste tipo de materiais em mercados como têxtil, embalagens e automotivo. Com isso, os bioplásticos devem ultrapassar 2% da produção total de plásticos. Para 2050 a projeção é de que este tipo de material corresponda a 10%.

É a solução? Não. É um caminho que pode somar, visto que a proposta esbarra no problema de que plásticos compostáveis devem passar por um processo de aculturamento ainda mais complexo do que os plásticos comuns, pois demandam que estes sejam destinados a industrias de compostagem ou mesmo composteiras. O termo biodegradável ainda  pode ser confundido na cabeça do consumidor, achando que pode ser descartado, jogado fora, de qualquer maneira, de qualquer jeito. Ou seja, são desafios manter o aculturamento da separação e reciclabilidade dos materiais e o entendimento correto do que é um polímero biocompostável e seu descarte.

Contudo a sociedade sabe, mas acaba esquecendo, que majoritariamente os plásticos por nós utilizados são recicláveis, e devem ser destinados para este fim. Eis a chave da questão: se usamos e abusamos e dependemos do plástico, por que não ter uma relação saudável com ele? A partir do momento que tivermos uma política adequada de descarte nas cidades, uma disseminação maciça junto a sociedade de que o plástico, não é mais problema, mas sim uma das soluções para um meio ambiente mais protegido, desde que descartemos de forma adequada, teremos a chance de olhar para quem efetivamente polui nosso Planeta.

Sim, porque é fácil vermos nos rios ou oceanos a garrafa pet boiando. Sua densidade permite isso. E o papel se dissolve, o vidro, metais e demais produtos densos, quando descartados de forma errada, fincam no solo ou submersos, longe de nossos olhos. Estes itens são igualmente grandes poluidores e que em seu processo original de fabricação usurpam o meio ambiente consumindo energia e água principalmente. São vilões? Não. Os verdadeiros vilões somos nós como humanos que nos autoboicotamos. Sabemos que dá para reutilizar algo em plástico, mas por imprudência, ou preguiça mesmo, acabamos ignorando a ação de separar adequadamente.

A partir do momento que assumirmos nosso papel neste mundo e começarmos a fazer a nossa parte, não teremos nem mocinho, nem bandido nesta discussão. Se o plástico e demais produtos tiverem destino correto em seu descarte, não teremos sérios problemas de poluição. Não haverá motivo para pânico, todos teremos uma sociedade com sua vida facilitada convivendo harmoniosamente em nosso dia a dia e respeitando o meio ambiente que é de todos.

Francielo Fardo é diretor superintendente da Colorfix Masterbatches.

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