A tecnologia aliada à economia circular aumenta a transparência na gestão de resíduos, no combate à informalidade e regularização de postos de trabalho, diminuindo o descarte em locais indevidos como os aterros. O uso do blockchain - rede de dados distribuída que permite o rastreamento das informações em blocos -, facilita a condução dos processos de reciclagem, armazenando dados que não podem ser violados.
A cadeia de produção de papel para embalagens, por exemplo, que utiliza material reciclado pós-consumo, ou reaproveitado, viu na tecnologia blockchain uma rede segura para rastrear e validar seus processos.
A fabricante de papel cartão Papirus, que produz 100 mil toneladas por ano, adotou o sistema fornecido pela Pólen, que identifica a origem dos materiais recebidos das cooperativas e de outras fontes.
A rede valida o processo e gera créditos de reciclagem, que são transferidos para os fabricantes de grandes marcas de consumo (“brand owners”) atestando seu compromisso com a sustentabilidade e a destinação correta das embalagens segundo a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), explica Amando Varella, diretor comercial e de marketing da Papirus que atua na captação das embalagens pós-consumo junto às cooperativas.
O crédito de reciclagem é semelhante ao do carbono. Cada quilo de apara de papel pós-consumo gera um crédito que pode ser adquirido pelas grandes marcas para comprovarem sua adequação à meta de reciclar 22% das embalagens conforme a PNRS, ressalta Christian Króes, gerente de desenvolvimento de produtos da Papirus.
Os créditos são certificados por meio do blockchain, garantindo transparência e segurança para as marcas e consumidores quanto à sustentabilidade dos produtos, completa Renato Paquet, diretor executivo da Pólen. As embalagens que passaram por esse processo ganham um QR code que permite o acompanhamento da origem e o ciclo da produção.
A Ibema, outra fabricante de papel para embalagens, é parceira da Green Mining, que opera uma rede de logística reversa em blockchain. O sistema identifica os locais de maior geração de resíduos pós-consumo, sejam eles bares, restaurantes, lojas ou condomínios.
A rede é alimentada com informações, em tempo real, de cada etapa do processo, como data e local da coleta do papel cartão, quantos quilos foram retirados e a garantia que o material chegou para a Ibema.
Um coletor da Green Mining recebe um mapa roteirizado de onde deve buscar as embalagens já separadas por tipo de material: eles vão até os locais com triciclos para evitar a emissão de gás carbônico.
Chegando no estabelecimento, é feita a pesagem dos resíduos que são registrados no sistema com um smartphone. Neste momento é gerado um documento digital com todas as informações sobre aquela coleta, registradas automaticamente na rede blockchain.
De lá, o coletor segue com o material para uma das centrais de recebimento e é informado para qual hub o material foi levado e, posteriormente, o transportador que leva a carga para usina de reciclagem valida a quantidade recolhida.
Quando o papel cartão chega à Ibema o recebimento é validado, fechando o ciclo, explica Rodrigo Oliveira, presidente da Green Mining. Segundo Diego Gracia, gerente de estratégia e marketing da Ibema, a empresa teve um crescimento de 47% na venda do cartão com material pós-consumo no período de 2020 e 2021, com o aumento do interesse das empresas em apoiarem a sustentabilidade.
As redes de varejo também viram no blockchain uma forma de comprovar que estão conformes à PNRS. Seguindo a matriz europeia, o Carrefour aderiu à rede em 2019 para obter maior controle de qualidade dos produtos. “No momento, o foco são frutas e verduras, mas nosso objetivo é expandir para mais de 100 linhas de produtos, em vários países, até o final de 2022”, afirma Lucio Vicente, diretor de sustentabilidade do Grupo Carrefour. O QR Code nas frutas e verduras vendidas nas lojas do Estado de São Paulo fornecem informações sobre o histórico de produção e transporte, origem, safra, data de coleta, de processamento e chegada às gôndolas.
Um consórcio que une a Basf, Natura, Henkel, Braskem, Bomix, Triciclos, Wise e Recicleiros lançou a reciChain, rede blockchain voltada principalmente para a reciclagem do plástico.
Os participantes vão monitorar a gestão social das unidades de triagem e checar a capacidade nominal e produzida dos materiais recicláveis pós-consumo, explica Rafael Viñas, gerente da Fundação Espaço Eco, que coordena a implantação do projeto.