Divulgação – A Avenida Marechal Deodoro

No “novo normal”, não tem Carnaval. Pelo menos não como a gente conhece a festa carnavalesca, com os blocos na rua, música quase incessante (e não só o samba, no caso curitibano), os foliões dançando e muita transpiração. E com a folia fechando o primeiro ciclo de grandes feriados e datas comemorativas impactos pela crise do novo coronavírus (a próxima data será a Páscoa, que no ano passado já foi celebrada em meio à pandemia), o prejuízo deve ser grande para Curitiba. E não só no âmbito cultural, mas também no econômico.

No ano passado, por exemplo, o Carnaval injetou cerca de R$ 8 bilhões na economia brasileira, conforme estimativa da Confederação Nacional do Comércio. Em termos de empregos temporários, a estimativa girava na casa dos 25,4 mil trabalhadores, para atender a uma demanda de pelo menos 36 milhões de brasileiros e turistas que pretendiam pular carnaval de Norte a Sul do Brasil.

“A ausência do Carnaval será sentida inevitavelmente por todos os brasileiros, principalmente para os setores e pessoas que trabalham diretamente com as festividades. Turismo, hotelaria, gastronomia, serviços de transportes e autônomos serão os mais impactados. Para parte desses profissionais o carnaval é fonte de renda para o ano todo. Para outros, é maneira de formar uma reserva financeira para cobrir os gastos ao longo ano. Isso vai impactar diretamente na renda de uma boa parte dos brasileiros”, diz Hugo Meza Pinto, economista e professor da Estácio Curitiba

Na opinião do professor, a sociedade vai se dar conta da importância desta data, não pela ausência da folia em si, mas pelo que ela representa na economia. “É bem provável que discursos usados nos últimos anos de que o Carnaval não deveria ter incentivo público ou privado de que se acabasse não teria impacto nenhum, cairá por terra, pois 2021 será o ano em que veremos na prática a ausência dos impactos positivos de uma das maiores festas culturais mundiais”, destaca.

Sem motivos para festejar

Após 20 anos acontecendo de forma ininterrupta, o Psycho Carnival será um dos eventos que Curitiba deixará de receber em 2021. A cada edição, segundo Vladimir Urban, criador do festival, são entre 30 e 40 bandas participando e um público de aproximadamente 7 mil pessoas durante todos os dias de evento, sendo que uma grande parte dessas pessoas (metade do público, praticamente) é gente de fora da cidade.

“Você tem um rio de gente que vem de outras cidades, que vai gastar em hospedagem, alimentação, bebida, gasta para chegar aqui em avião, carro ônibus. Então é muita coisa que deixa de se arrecadar”, afirma Urban. “Quando começamos o festival lá atrás, em 2000, os hotéis da região central ficavam vazios. Agora, com o Psycho Carnival e outros eventos acontecendo em Curitiba, essa época do ano tem bastante gente vindo para a cidade. É, realmente, um impacto muito grande [a não realização dos eventos carnavalesco”, aponta o músico e produtor cultural.

Ainda segundo Urban, já no ano passado a organização do Psycho começou a perceber que não teria como realizar a festa em 2021, tendo em vista a postura negacionista do governo federal no enfrentamento da pandemia. Quanto à possibilidade de realizar o evento ainda neste ano, em outra data, ele se mostra cético.

“Muito difícil, pelo ritmo da vacinação e pela própria postura dos governos. Eu espero que alguma coisa aconteça, alguma mudança, para em 2022 a gente ter o Carnaval”, afirma o artista. “É óbvio que está todo mundo numa situação complicada de ficar em casa, reduziram todas as atividades sociais, e muitas vezes parece que um evento como o Psycho seria sensacional para a gente ter um pouquinho da vida social que perdemos ano passado. Mas Carnaval é um momento de festa também. Na hora em que vai festejar, tem que ter alguma coisa para festejar. A gente está no meio de uma pandemia, acho muito difícil ter motivos para festejar.”

Mais da metade da hotelaria acaba afetada

Sem Carnaval, um dos setores mais impactados no Brasil será o da hospedagem. Segundo levantamento da Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação (FBHA), apenas no âmbito da hotelaria e similares, 58% dos empresários avaliam que terão menos de 50% de ocupação durante a semana do feriado. Por outro lado, 32% acreditam que conseguirão ocupar de 50% a 70% da hospedagem local; e apenas 10% esperam uma movimentação de 70% a 90%.

“Nos principais destinos turísticos, onde o carnaval é reconhecido nacionalmente, não teremos os famosos desfiles e blocos de rua. Além disso, muitas capitais também optaram por cancelar o ponto facultativo nas datas destinadas à folia. O agravamento da situação sanitária inviabiliza a realização do evento”, informa Alexandre Sampaio, presidente da FBHA.

Para Sampaio, enquanto a vacina não estiver disponível em grande escala para a população, a tendência é de que outras grandes comemorações sofram igualmente com cancelamentos, o que impactará toda a cadeia produtiva do setor. Apenas no ano passado, o turismo teve uma perda de 437,9 mil postos formais de trabalho, com uma redução de 12,5% de força de trabalho. O segmento de hospedagem respondeu por 65,4 mil dessas vagas.

Para 2021, não há expectativa de melhora na situação, tendo em vista que 90% da hotelaria e similares não pretendem realizar contratações temporárias durante o Carnaval.

Em meio à pandemia, nasce uma escola de samba

Mesmo em plena pandemia, o Carnaval de Curitiba ganhou mais um novo e importante ator para os próximos anos. Fundado em 20 de novembro de 2020, a Escola de Samba Deixa Falar, com as cores dourado, branco e grená e cujo nome homenageia a primeira escola de samba do país, fundada em 12 de agosto de 1928 e batizada pelo poeta Ismael Silva.

Sem a possibilidade de desfilar neste ano e também sem a realização dos tradicionais ensaios abertos, que ajudavam as diversas escolas de samba da cidade a juntar fundos para se manter durante o ano, a novata curitibana tem se virado com o comércio de produtos como camisetas e copos. Além disso, no próximo dia 20 promoverá uma Feijoada Delivery, cujas vendas estão no segundo lote ao custo de R$ 35 (individual), R$ 55 (kit duas pessoas) e R$ 67 (kit três pessoas). Para mais informações, entre em contato pelo telefone (41) 99977-4234.

Curitiba é ‘destino tendência’ para viagens domésticas

Presidente do Instituto Municipal de Turismo, Tatiane Turra comenta que a capital paranaense não terá, em 2021, os mesmos resultados que vinha apresentando em anos recentes no Carnaval. “O setor [do turismo] foi muito impactado com a pandemia e as perspectivas ainda são de uma retomada gradativa, mas mais animadora com a chegada da vacina”, comenta a gestora.

Ainda segundo ela, a esperança é que o fato de Curitiba estar sendo apontada como destino tendência para viagens domésticas ajude a minimizar os impactos da não realização da tradicional folia. “Não podemos deixar de enaltecer que recentemente a cidade foi apontada como destino tendência para as viagens domésticas, justamente, por proporcionar inúmeras atividades ao ar livre e transmitir segurança com os protocolos adotados nos ambientes culturais e gastronômicos.”