Os 4 motivos por trás da decisão da Caoa Chery de fechar fábrica até 2025

Montadora anunciou profunda transformação na unidade de Jacareí (SP) para produzir localmente híbridos e elétricos, mas outros motivos podem ter influenciado a estratégia

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Bruno de Oliveira
  • 09/05/2022 - 18:38
  • 2 minutos de leitura

    A Caoa Chery surpreendeu o mercado na semana passada ao anunciar profunda reestruturação na sua fábrica de Jacareí (SP), que terá sua produção suspensa até 2025 para, segundo a montadora, atualizar as linhas de montagem para fabricar modelos híbridos e elétricos. Ainda que a companhia tenha usado a modernização da unidade como argumento para suspender as atividades, analistas ouvidos por Automotive Business apontam outros fatores que podem ter colaborado para a decisão da companhia.


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    Veja a seguir os quatro aspectos que podem ter influenciado na decisão de fechar a fábrica paulista temporariamente.

    1- Volume de produção magro

    A unidade paulista da montadora produzia os modelos Tiggo 3X, SUV lançado no ano passado, e também o sedã médio Arrizo 6, que chegou ao mercado em 2020. De acordo com os especialistas, ambos os veículos não ofereciam volumes suficientes para manter a fábrica operando.Dados do Renavam divulgados pela Fenabrave apontam que, até abril, foram vendidas 3 mil unidades do SUV, enquanto os licenciamentos do sedã somaram 864 unidades.

    "São volumes muito baixos para suportar uma operação local, que ficou mais cara por contar com muitos componentes importados", disse Cassio Pagliarini, consultor associado da Bright Consulting.

    A fábrica, projetada para ter capacidade total de produção de 150 mil unidades/ano, nunca chegou perto de tal volume, sendo que no ano passado produziu pouco mais de 14 mil unidades de janeiro a dezembro.

    2- Custos logísticos

    Outro aspecto que pesou na decisão foi o fato de a empresa ter enfrentado forte pressão sobre os custos das peças importadas, sobretudo o powertrain que passou a ser trazido da China -- antes, parte do conjunto era montado, com conteúdo local, na fábrica de Jacareí. Se antes a manobra era estratégica, aproveitando o poder da manufatura das unidades chinesas, que compensavam o patamar elevado do dólar com alta escala de produção a um custo baixo, com a elevação da moeda e os entraves logísticos que surgiram com a pandemia o processo tornou-se mais complexo para a operação brasileira.

    "Inicialmente, a empresa tinha a intenção de aumentar o nível de conteúdo nacional em seus veículos produzidos ali, mas a escala e o preço dos componentes vindos da China eram tão competitivos que isso foi sendo postergado, até que chegou a pandemia e seus obstáculos nos processos de importação", contou Pagliarini.

    3- Efeito Great Wall

    Já para Ricardo Bacellar, da Bacellar Advisory Boards, a mudança anunciada pela Caoa Chery em Jacareí diz respeito a um reposicionamento da empresa na região, considerando a chegada de outro player chinês no país, a Great Wall Motors (GWM). A conterrânea foi a primeira montadora a anunciar produção local de carros elétricos e isso pode ter influenciado a Caoa Chery a seguir pelo mesmo caminho nos próximos anos.

    "O investimento local da Great Wall, a oferta, ainda que importada, de automóveis BYD, mais o aparecimento do Renault Kwid elétrico, formam um conjunto de fatores que influenciam na decisão de outras montadoras no sentido de mostrar que é possível ter produção local de veículos elétricos. Quando uma primeira montadora aparece com uma notícia dessas, outras surgem também com os seus projetos", contou Bacellar.

    4- Interesse dos acionistas

    A anunciada guinada à produção local de veículos elétricos também pode ter sido influenciada pelos novos investidores da Chery, na China. Em fevereiro a empresa passou a contar com a Luxshare Precision em sua lista de controladores, companhia que é um dos fornecedores de componentes da Apple naquele país e que possui planejamento de ter uma produção futura de veículos elétricos e autônomos por meio da estrutura da Chery. Em comunicado divulgado para o mercado, a Luxshare também tem como objetivo ser um fornecedor tier 1 no mercado automotivo.

    A Luxshare detém 19,8% do capital da Chery Holdings, 7,87% da Chery Automobile (parceira da Caoa no montadora instalada aqui) e 6,24% da Chery New Energy. A montadora também planeja abrir este ano o seu capital na bolsa de valores de Shenzhen, na China.