Eduardo Sodré

Jornalista especializado no setor automotivo.

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Fábrica paulista da Chery surgiu em cenário difícil e jamais atingiu capacidade de produção

Ideia parecia promissora, mas foi tragada por crises econômicas

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O fechamento da fábrica do grupo Caoa Chery em Jacareí (interior de São Paulo) é o desfecho de uma história que parecia promissora. O primeiro capítulo ocorreu há 13 anos, quando o mercado automotivo nacional registrava seguidos recordes de vendas e de produção.

A construção foi confirmada em maio de 2009, mas a inauguração ocorreu em agosto de 2014, resultado de um investimento de US$ 400 milhões. A previsão era otimista: produzir 150 mil carros por ano.

Mas muita coisa mudou entre o anúncio da planta e o início da fabricação dos carros. Em outubro de 2011, a sobretaxa do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), que visava frear a chegada de modelos importados ao mercado brasileiro, travou as importações.

Caoa Chery Tiggo8
Caoa Chery Tiggo8, utilitário esportivo de origem chinesa e sete lugares - Divulgação

O impacto foi grande para a marca chinesa: o carro mais barato do Brasil naquele momento era o Chery QQ, lançado em abril de 2011 por a partir de R$ 22,9 mil. Era uma cópia do sul-coreano Daewoo Matiz, que em alguns mercados foi vendido como Chevrolet Spark.

Apesar do preço, as vendas não decolaram. Além de ser uma imitação, o compacto era inferior aos concorrentes nacionais e importados, como o também chinês JAC J3. A Chery oferecia outros modelos, a exemplo do utilitário compacto Tiggo e do diminuto Face. O hatch Celer chegou em 2012 e, dois anos depois, viria a ser o primeiro veículo nacional da montadora.

Com as restrições aos importados e os estímulos para a produção nacional que vieram com o programa Inovar-Auto, a fábrica continuava a ser promissora. Mas, ao ser inaugurada, o mercado já submergia em meio à crise econômica e a empresa vivia em guerra com o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região.

Poucos meses após o início da produção, as linhas de montagem foram paralisadas por uma greve. Os trabalhadores reivindicavam melhores salários. Outras interrupções ocorreram ao longo de 2015 e de 2016, enquanto toda a indústria automotiva registrava prejuízos bilionários no país.

Tudo indicava que o fim estava próximo, até que o grupo Caoa assumiu as operações, em novembro de 2017. Foi previsto um investimento de US$ 2 bilhões para reavivar a marca, rebatizada como Caoa Chery.

Mas a estratégia incluía a produção de modelos em Anápolis (GO), onde o grupo Caoa já montava carros da sul-coreana Hyundai. E os veículos de maior rentabilidade vieram de lá, como a linha Tiggo nas carrocerias 5X, 7 e 8.

A planta de Jacareí ficou com os sedãs da linha Arrizo e os SUV compactos Tiggo 2 e Tiggo 3X. Estava, portanto, com produtos menos lucrativos e muito distante das metas sonhadas na época do anúncio da fábrica.

As 150 mil unidades previstas no passado foram revistas para 50 mil logo após o grupo Caoa assumir as operações. O melhor resultado ocorreu em 2021, quando foram montados 14 mil veículos.

Os carros de hoje são muito melhores do que os Chery importados na década passada, mas as dificuldades só aumentaram. Além de registrarem baixos volumes de venda, os Chery montados em Jacareí sofreram com a falta de peças resultante da pandemia de Covid-19.

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