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Inflação
Mudança na bandeira tarifária atenua a inflação, mas não será capaz de conter a alta de preços, pressionada por combustíveis e alimentação.| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A retirada antecipada da bandeira tarifária escassez hídrica das contas de luz do brasileiro, a partir de 16 de abril, trará algum alívio para a inflação, mas não terá força suficiente para puxar uma queda nos preços, pressionados pelos subgrupos combustíveis e alimentação. Essa deflação no custo da energia já era esperada, uma vez que a cobrança adicional na eletricidade foi criada com data de início e fim. Esse impacto, entretanto, passa a ficar dividido entre abril e maio, com mudanças nas projeções anteriormente traçadas. Como resultado, a decisão segura a inflação de abril, mas faz com que ela avance no mês seguinte na comparação com projeções prévias.

"Simplesmente antecipamos uma deflação de energia elétrica de maio para abril. Então, a projeção do IPCA para o mês caiu um pouco. Em contrapartida a projeção de maio subiu porque, agora, parte do impacto foi adiantado", explica a economista da XP, Tatiana Nogueira.

Pelas contas da XP, a passagem da bandeira extraordinária à bandeira verde (patamar em que não há cobranças adicionais sobre o consumo de energia) terá impacto total de -80 bps no IPCA, metade em cada mês. Assim, para abril, o IPCA deve ficar em 0,67%, já o de maio será de 0,17%. Para a EQI, a inflação esperada para abril é de 0,62% em abril e de 0,02% em maio.

Segundo o economista-chefe da EQI, Stephan Kautz, o impacto na inflação é relevante pois a energia elétrica é componente importante do IPCA e do grupo habitação, com peso no poder de compra da população. "E o fato de que a gente está fazendo uma mudança de um extremo a outro, indo direto para a bandeira mais baixa, traz efeitos significativos", completa, "estamos falando de praticamente 90 pontos base do agregado da inflação".

Na avaliação de Tatiana Nogueira, da XP, a retirada foi antecipada justamente para permitir um alívio para a renda das famílias em um momento de inflação muito pesada, puxada principalmente por combustíveis e alimentação. Apesar de significar alguma folga no curto prazo, atenuando as altas, a medida, diz ela, "não é suficiente para a queda de preços. A nossa conta (que já considerava uma bandeira verde no término deste ano de 2022) já mostrava uma inflação bem mais pressionada, perto de 7%, afirma. Essa projeção não mudou.

Ainda segundo a economista, movimentações provocadas pelo conflito no Leste Europeu, com a invasão da Ucrânia pela Rússia, trouxeram choques adicionais, com alta nos preços de commodities agrícolas e energéticas, subida no preço de fretes e preocupação com um desarranjo da cadeia global de suprimentos, que foi um dos principais motivadores de inflação alta durante a pandemia.

"A continuidade dos problemas na cadeia de suprimentos e o aumento de frete e o aumento da energia, não só impacta o consumidor final, mas também a cadeia de produção, o custo fica mais elevado. Isso somado a outros itens como fretes mais altos e falta de insumos faz os bens industriais também subirem bastante", explica.

O fator conta de luz, por sua vez, não deve voltar a pressionar a inflação durante os próximos meses. O país se aproxima do início do período seco com reservatórios em situação confortável, com média nacional acima dos 50% de capacidade. Sem a necessidade de emprego das térmicas ou de precificar riscos hidrológicos, a expectativa é de que a bandeira se mantenha no patamar verde na maior parte do ano, com adoção desse cenário base tanto pela XP quanto pela EQI.

Para o economista-chefe Stephan Kautz, além de uma “oferta de chuva” mais alta nos reservatórios, provavelmente teremos uma demanda mais fraca por energia, até porque a economia está dando sinais de que, no segundo semestre, deve sofrer de maneira mais significativa os impactos desse ciclo de alta de juros do Banco Central. Então, um crescimento baixo para um nível de reservatórios inicialmente mais altos permite a bandeira verde até o final do ano", arremata.

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