Com 5G, fábricas brasileiras devem acelerar conceito 4.0

Especialistas debatem benefícios da tecnologia e entraves para sua incorporação na indústria

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Duque de Caxias (RJ)

Com todos os avanços incorporados pela indústria nas últimas décadas, o consumidor de hoje não quer só o produto. Ele busca uma experiência, assim como acesso à informação e rastreabilidade.

É assim que Ronald Delfino, gerente-executivo de operações e transformação digital na Nestlé Brasil, define o comportamento da população frente às mudanças. Ele foi um dos debatedores do seminário Indústria 4.0, promovido pela Folha, com patrocínio da Embratel. O evento foi realizado na última quarta (27) e teve medição da jornalista Alexa Salomão, editora de Mercado do jornal.


Assista ao evento:


Para Delfino, a indústria 4.0 é uma forma de facilitar o que já está no cotidiano das fábricas. "É como ter um Waze, que nos ajuda a chegar mais rapidamente ao destino, sem passar por zonas vermelhas, que levam muito mais tempo."

Segundo ele, isso ajuda operários a manter a segurança, oferece dados para traçar estratégias e apostar em novos produtos, além de mudar o modo como o consumidor se relaciona com as mercadorias.

Uma das tecnologias adotadas pela Nestlé é a internet das coisas (IoT, sigla de internet of things). O termo se refere a objetos que estão conectados à internet e trocam dados com outros dispositivos.

Na empresa, sensores enviam sinais das linhas de produção para os operadores e também são capazes de indicar a necessidade de manutenção de algum equipamento antes que ele quebre. Na opinião de Delfino, a IoT poderá ser ainda mais bem explorada com a implementação do 5G no país.

Na quarta, a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) recebeu propostas de 15 empresas interessadas no leilão do 5G no Brasil, que está marcado para o mês que vem.

A incorporação do 5G vai melhorar as aplicações já utilizadas pela indústria, segundo Marcia Ogawa, líder de tecnologia, mídia e telecomunicações da Deloitte.

Com base em um recente estudo global feito pela consultoria, a engenheira aponta que é necessário haver uma coordenação entre governo, academia, companhias, startups e empresas de mídia para que o 5G seja fomentado de maneira adequada no Brasil.

Adriano Rosa, diretor-executivo da Embratel para mercado corporativo de São Paulo, diz que a velocidade de comunicação entre os equipamentos de uma fábrica oferecida pelo 5G trará benefícios. Por meio dela, num futuro próximo, ele afirma que será possível monitorar a produção, gerando dados para a tomada de decisões. Isso poderá ser feito com baixo consumo de bateria e de dados, afirma.

Com o desequilíbrio no acesso a boa infraestrutura no Brasil, porém, ele diz que há a necessidade de investimentos nos modelos de indústria 4.0 em áreas mais afastadas dos grandes centros. Segundo Rosa, o país tem capacidade de suportar as transformações, mas precisa ser mais rápido para implementá-las.

Há também uma preocupação dos especialistas em relação à incorporação das pequenas e médias indústrias ao conceito 4.0. "É importante que elas se capacitem e coloquem em ação seus projetos, porque isso vai dar mais competitividade a elas", diz Ogawa.

Ela cita o BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento) e a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) como exemplos de instituições que têm programas para investir nessas indústrias. Há ainda alguns tipos de financiamentos que podem ser úteis para empresas que estão começando, como o Fundo Perdido, com o qual o governo dá dinheiro a uma companhia sem que haja a necessidade de devolução.

Delfino afirma que o importante para essas empresas é investir em inovação e colaboração. Existe uma visão de que a indústria 4.0 é um modelo caro, mas isso não é necessariamente verdade, diz ele.

Para o executivo, o caminho é firmar parcerias com companhias inovadoras. "Todos os meses há modelos de negócios novos, tecnologias, câmeras, sistemas de visão, inteligências criadas por empresas que não necessariamente estão dentro do nosso circuito."

Outro tema que será um desafio para as fábricas é a sustentabilidade. O monitoramento remoto, a robótica, a inteligência artificial e a análise de dados devem reduzir a emissão de dióxido de carbono e a geração de resíduos, segundo Rosa, da Embratel.

Delfino, da Nestlé, afirma que a empresa tem usado a tecnologia para se tornar mais sustentável. Na secagem de café e nas torres de transformação de leite em pó, é adotado o machine learning, sistema que usa inteligência artificial para melhorar os processos da fábrica.

Segundo ele, assim foi possível reduzir o consumo de energia e vapor numa faixa entre 13% e 17%. Além disso, aplicativos fazem o monitoramento de consumo de água e de outros produtos nas fazendas que produzem a matéria-prima.

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