Descrição de chapéu Folhajus mercado de trabalho

Pesquisador questiona dados sobre recorde de vagas CLT

Falta transparência na comparação da série histórica, diz Bruno Ottoni, da FGV

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São Paulo

Quando divulgou os dados mais recentes do emprego com carteira assinada, na terça-feira (16), a Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia informou ter registrado o “melhor janeiro desde o início da série histórica, em 1992".

O resultado recorde veio com saldo de 260,3 mil vagas de trabalho formal no primeiro mês do ano, quando 1,527 milhão de pessoas foram admitidas, e 1,266 milhão, demitidas.

As boas notícias, porém, devem ser vistas com ressalvas, na avaliação do pesquisador Bruno Ottoni, do iDados e do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas). Segundo ele, falta transparência do governo federal ao divulgar o resultado como o maior de uma série de quase 30 anos.

A série, que é o período total de realização de uma pesquisa a partir de determinados parâmetros, diz Ottoni, deveria começar em janeiro de 2020, e não em 1992. A divergência existe devido a uma mudança na metodologia de apuração de dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Empregados).

Desde janeiro do ano passado, as informações vêm do eSocial, sistema de escrituração que unificou diversas obrigações dos empregadores. Além de reunir mais informações na mesma base de dados, o novo Caged tornou obrigatório informar a admissão e demissão de empregados temporários. Antes, essa comunicação era facultativa.

O mês de janeiro não foi o primeiro ao qual o Ministério da Economia atribuiu saldo recorde na criação de vagas formais. Em 2020, os meses de outubro e novembro também foram apontados como aqueles com os melhores resultados para o mês.

A questão levantada pelo pesquisador da FGV é: melhor na comparação com que mês, de qual ano e com base em qual metodologia?

“Na minha opinião, a mudança compromete a comparação, porque não foi pequena.”

Com base em nota técnica elaborada pela secretaria de Previdência e Trabalho, Ottoni comparou os dados lançados no novo Caged e os que foram apurados na metodologia anterior. Os números referem-se ao período de abril a dezembro de 2019 e dão uma dimensão do impacto da mudança de metodologia sobre os resultados de empregos criados em cada período.

Na média, o pesquisador calculou uma diferença de 74% entre o saldo de vagas registrado no Caged antigo e aquele extraído a partir dos dados do eSocial.


Comparação no saldo de vagas em 2019

Mês Caged eSocial Diferença Var.%
Abril 125.247 192.033 66.786 53,32
Maio 9.712 44.774 35.062 361,02
Junho 36.832 71.197 34.365 93,30
Julho 45.756 72.503 26.747 58,46
Agosto 130.264 153.361 23.097 17,73
Setembro 157.709 188.367 30.658 19,44
Outubro 77.256 112.572 35.316 45,71
Novembro 111.134 154.782 43.648 39,28
Dezembro -283.068 -274.420 8.648 -3,06
Média abril-dezembro 45.649 79.463 33.814 74,07
Fonte: eSocial/SEPRT; Caged /SEPRT

Em maio de 2019, a variação chega a 361%. Enquanto a base de informações antiga registrou 9.712 novos postos de trabalho, o eSocial tinha 44,7 mil. As diferenças são grandes em praticamente todos os meses. Apenas em dezembro a variação foi negativa, pois o Caged antigo registrou um corte de vagas de emprego superior ao do novo sistema.

Ottoni questiona também a força da geração de vagas enquanto o Brasil ainda não se recuperou do tombo da pandemia.

“Até houve alguns meses de recuperação em meio à crise econômica da pandemia. Mas nada que se compare com o crescimento econômico observado, por exemplo, em 2010”, disse. Naquele ano, a economia brasileira Brasil cresceu 7,5%.

Para a Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, “atribuir uma relação de crescimento do PIB de um ano com a geração de empregos de um mês é totalmente equivocado. São dados distintos e não há relação direta”.

Outro lado

Em nota encaminhada à Folha nesta sexta (19), a Secretaria Especial de Previdência e Trabalho afirma que em todas as divulgações do novo Caged “deixa claro que não se trata da mesma série histórica, justamente pela mudança metodológica, que ocorreu a partir de janeiro de 2020”.

Segundo a secretaria, as apresentações de números entregues à imprensa deixam evidente a diferença na série histórica. Esses arquivos trazem apontamentos, como cores distintas, para marcar o novo Caged e o cadastro anterior.

No entanto, foi também a secretaria que divulgou que o resultado de janeiro era o melhor desde 1992. No Twitter da Casa Civil, uma publicação comemora o resultado recorde.

A pasta ligada ao Ministério da Economia também disse nesta sexta que “o início de uma nova série histórica se dá por conta apenas do aprimoramento no sistema em que os empregadores registram as informações”


45.649 vagas
foram criadas de abril a dezembro de 2019 pela metodologia anterior, usando o Caged, segundo o pesquisador Bruno Ottoni

79.463 postos
foram criados no mesmo período pela metodologia atual, com base no eSocial

74,07%
é a variação na geração de vagas entre as duas pesquisas

361,02%
é a diferença nos dados do mês de maio de 2019

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