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Desemprego
| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de outubro mostrou um número recorde de postos de trabalho formais criados, levando o ministro Paulo Guedes a falar na possibilidade de fechar 2020 com resultado positivo. O Caged, no entanto, mostra apenas uma faceta – importante, mas não a única – do mercado de trabalho, que são os empregos de carteira assinada. O IBGE, que mede o desemprego usando critérios mais amplos, traz dados bem mais desanimadores e que mostram o tamanho do desafio que aguarda o país em 2021.

Em 27 de novembro, o IBGE divulgou os dados da Pnad Contínua referentes ao terceiro trimestre do ano. O desemprego continua em índices alarmantes: os 14,6% medidos pelo IBGE correspondem a 14,092 milhões de brasileiros à procura de um trabalho – para se ter uma ideia, no terceiro trimestre de 2019 o desemprego estava em 11,8%. Outra pesquisa, também do IBGE, a Pnad Covid-19, já tem dados mais atualizados, de outubro: desemprego de 14,1%, com 84,134 milhões de brasileiros ocupados e 13,763 milhões de desocupados – aumento de 36% na comparação com maio, quando o IBGE lançou a Pnad Covid-19.

“A economia a gente vê depois” já não era um slogan muito sábio quando a pandemia estourou, mas agora ele é praticamente inaceitável. O “depois” já chegou

Uma particularidade da metodologia do IBGE é que só se considera desempregado quem está à procura de trabalho. Ou seja, o número real de brasileiros que não estão trabalhando é ainda maior, incluindo os chamados “desalentados”: pessoas sem emprego e que já nem tiveram disposição de buscar algo nos últimos 30 dias, embora estejam dispostas a aceitar uma vaga caso surja a oportunidade. Se cada vez mais pessoas desistem de buscar trabalho, os índices de desemprego acabam “mascarados”, dando impressão de estabilidade ou aumento apenas leve quando a situação é mais dramática. Segundo o economista Ricardo Paes de Barros, no ano que vem o país pode ter cerca de 15 milhões de pessoas procurando emprego. O desalentado de hoje pode voltar a buscar trabalho por vários motivos, como a percepção de um reaquecimento na economia ou simplesmente o fim do pagamento do auxílio emergencial.

É fato amplamente conhecido que o emprego é a última variável a sofrer quando um país entra em crise, e a última a se recuperar quando um país deixa a recessão para trás. Após a crise deixada pela “nova matriz econômica” petista, não chegou a haver uma retomada mais consistente, e o desemprego nunca ficou abaixo dos 10%. Se recolocar os desempregados pré-pandemia já era um desafio complicado, a tarefa se torna ainda mais difícil no pós-pandemia, não apenas porque o número de pessoas à procura de trabalho é menor, mas também porque as pequenas e médias empresas, as principais geradores de emprego do país, foram as que mais sentiram o baque das medidas restritivas para conter o coronavírus.

“A economia a gente vê depois” já não era um slogan muito sábio quando a pandemia estourou, mas agora ele é praticamente inaceitável. O “depois” já chegou e, se ainda não resolvemos o problema sanitário, com novos surtos em várias regiões do país, temos também uma legião de desempregados e famílias que voltaram à pobreza com a queda abrupta em sua renda. A revisão da Lei de Falências pode ajudar muitos empresários que naufragaram durante a pandemia a se reerguer, criando novas oportunidades de emprego, mas também é preciso pensar nos negócios que continuam funcionando, aos trancos e barrancos, com dificuldades para conseguir crédito. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou no dia 25 que está preocupado com a maneira como o governo lidará com a questão do emprego. Do ponto de vista fiscal, a equipe econômica está com a corda no pescoço; será preciso encontrar medidas eficazes e de baixo custo para incentivar o mercado de trabalho.

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