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    Alta de commodities limita influência de queda do dólar em ações, dizem analistas

    Ativos tradicionalmente prejudicados pela valorização do real têm liderado ganhos no Ibovespa

    Guerra na Ucrânia fez preço de commodities disparar, afetando desempenho de ações na bolsa
    Guerra na Ucrânia fez preço de commodities disparar, afetando desempenho de ações na bolsa Paulo Whitaker/Reuters

    João Pedro Malardo CNN Brasil Business

    em São Paulo

    A desvalorização do dólar ante o real já passa de 15% neste ano. Esse movimento afeta desde quem pretende viajar para o exterior até a definição de preços na economia. As ações na bolsa de valores não escapam desses efeitos.

    Normalmente, em cenários como este, empresas que recebem rendimentos na moeda americana ficam mais expostas, já que, quanto menor o valor dólar, menos dinheiro elas ganham na conversão para o real. Os principais exemplos desse grupo ficam no setor de commodities. Atualmente, porém, com os valores desses insumos pressionados no exterior, o efeito da queda do dólar tem sido mais brando.

    Para Pedro Serra, chefe de pesquisas da Ativa Investimentos, é necessário fazer uma “conta dupla”, considerando câmbio e preço das commodities, para entender o desempenho que esse tipo de empresa vem tendo na bolsa. “Um pode neutralizar ou compensar o outro, mas costuma ter uma aderência grande com as oscilações de dólar, em especial as mais profundas”.

    Ricardo Campos, CEO da Reach Capital, afirma que a análise da influência do dólar nas ações acaba sendo mais difícil devido à combinação de causas para uma determinada queda ou alta. Há o impacto da moeda, mas também de medidas como taxa de juros, preço de commodity, desempenho da economia do país, investimentos estrangeiros e o cenário político-fiscal, além de questões de cada empresa.

    Para ele, é o que explica agora um cenário oposto ao esperado, em que os efeitos da queda do dólar, positivos ou negativos, têm sido limitados na bolsa devido às consequências da guerra na Ucrânia.

    Influência tradicional

    Considerando o grupo de ações de commodities, o segmento que costuma melhor refletir a variação da moeda é o de papel e celulose, com a Klabin e a Suzano como maiores representantes no mercado de ações brasileiro. Por serem altamente dependentes de exportações, acabam sendo as que mais refletem variações no dólar.

    Para Serra, o setor da bolsa que mais costuma ganhar com a queda da moeda norte-americana é o aéreo, já que os aviões consomem grande quantidade de querosene, cotado em dólar. Além disso, o real valorizado incentiva as pessoas a viajarem mais ao exterior. Com isso, ações de turismo também costumam ser beneficiadas.

    Além das aéreas, Serra avalia que qualquer empesa que importa grande parte dos seus insumos, e, portanto, faz compras em dólar, é beneficiada pela queda da moeda devido à redução de custos, caso dos setores de laboratórios e algumas fabricantes de medicamentos.

    Dentre esses setores importadores, Campos, da Reach Capital, cita também as empresas de telecomunicações, supermercados e de bebidas. Já bancos, o setor de educação e empresas de energia costumam ser pouco afetados por variações na moeda.

    “No caso das empresas de bens de capital, depende se exporta mais ou mais importa. A Weg e a Iochpe-Maxion, por exemplo, tem a maior parte da produção exportada, então é ruim para elas”, diz.

    Desempenho em 2022

    Serra, da Ativa, também vê uma limitação nos efeitos do dólar com o cenário atual. Para ele, “a alta das commodities falou mais alto que a queda do dólar. O petróleo saiu de US$ 90 para US$ 125, está em torno de US$ 105, é uma alta muito relevante, e ocorreu com outras commodities, como as agrícolas”.

    “Mesmo que o dólar caia, a commodity subiu muito mais, então acaba sendo positivo [para as empresas do setor]”, diz.

    E isso também leva a uma inversão para as empresas que poderiam ser beneficiadas pela queda do dólar. É o caso das companhias aéreas, já que a queda da moeda não compensa a alta de custos com combustíveis.

    Na visão dele, dois segmentos foram exceções a isso, e que na verdade seguiram a tendência tradicional de comportamento, é o de papel, com a Suzano e a Klabin sendo beneficiadas pela alta de commodities mas em geral seguindo o dólar, e o de proteínas, mais especificamente as com ativos no exterior, caso da JBS.

    Segundo Campos, “às vezes a empresa poderia ser beneficiada unicamente pelo dólar, mas aí entram outras questões, como o aumento do preço de commodities agora com a guerra”.

    Ele cita como exemplo as duas maiores empresas da bolsa, a Vale a Petrobras, que se valorizaram em 2022 mesmo com o dólar em queda, devido aos preços altos do petróleo e minério de ferro.

    Jennie Li, Estrategista de Ações da XP, avalia que “desde o ano passado as exportadoras estavam se beneficiando de alta de commodities e dólar, agora fica mais desfavorável pelo câmbio”, mas os desempenhos ainda têm sido positivos.

    “Até agora, as ações ligadas a commodities de energia são as grandes ganhadoras, querendo ou não é uma crise energética atual”, diz.

    São essas empresas que têm sido as maiores beneficiadas de um dos maiores fluxos estrangeiros para o Brasil nos últimos anos.

    “Essa entrada de fluxo estrangeiro está bem direcionada para commodities e bancos, porque tem um cenário global favorável e bancos ficam mais protegido de juros mais altos. As mais domésticas ainda estão mais abandonadas, estão bem mais atrás”, afirma.

    Para ela, além de pensar nos efeitos da queda do dólar nas ações do mercado brasileiro, o cenário atual abre uma janela interessante para quem busca diversificar investimentos com ativos no exterior, algo que ela considera ser importante.

    “O dólar caindo abre a oportunidade de começar a pensar em investir fora do Brasil, fica mais razoável. A ideia é ir aos poucos aumentando a exposição internacional, diversificar riscos e ter uma moeda forte em crise global. É um bom momento para diversificar”, diz.