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É hora de reorganizar a economia
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Um país pode ser olhado sob dois ângulos. De um lado, existe a população com necessidades que precisam ser atendidas diariamente, principalmente as necessidades das quais a sobrevivência física é dependente (alimento, vestuário, moradia, assistência à saúde etc.) e, de outro lado, há um sistema estruturado para produzir, distribuir, consumir e acumular bens e serviços. O funcionamento desse sistema requer os quatro fatores clássicos de produção – recursos naturais, trabalho, capital e iniciativa empresarial –, de forma que as pessoas que estão de um lado com necessidades a serem atendidas são as mesmas que estão do outro lado compondo a força de trabalho e a iniciativa que organiza e administra a produção.

Um dado relevante nessa engrenagem é o tamanho da população nacional que, segundo informação do IBGE referente ao fim de 2021, atingiu 214 milhões de habitantes. Esse é o número de pessoas que precisam ter suas necessidades atendidas pelos bens e serviços elaborados pelo sistema produtivo operado pela população economicamente ativa, que totaliza 107 milhões (aqueles em condições de trabalhar). As decisões sobre o que produzir, quanto produzir, como produzir e para quem produzir resultam de uma fricção diária entre as demandas manifestadas pela população e as respostas do sistema produtivo no atendimento dessas demandas.

A economia é uma máquina em constante movimento e ebulição para ajustar a oferta (produção de bens e serviços) à demanda (consumo, investimento e exportação) e fazê-lo de maneira a abranger todas as regiões e todas as classes sociais existentes. O sistema estará sempre em eterno choque entre os dois grandes lados do problema, como uma engrenagem instável e autoajustadora, em que a manifestação das necessidades e suas demandas e o atendimento a elas dependerão da capacidade produtiva e da velocidade de resposta da máquina produtiva nacional.

O mecanismo mais eficiente, embora imperfeito, que a humanidade encontrou para fazer esse grande sistema funcionar é o mercado livre, no qual impera uma das principais leis da economia: a lei da oferta e da procura. Pela liberdade econômica, as pessoas têm o direito de se apresentar e manifestar suas preferências, vontades e desejos, bem como são livres para escolher em que parte da máquina produtiva elas trabalharão, pois, a produção nacional é um bolo produzido por aqueles que irão consumi-lo: a população. De saída, o tamanho do produto total deve atender a população existente e, também, o aumento populacional anual. No Brasil, o aumento do número de habitantes se dá atualmente a uma taxa em torno de 0,7%, ou seja, 1,5 milhão mais a cada ano. Por consequência, o objetivo nacional principal é o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Porém, não basta que o PIB cresça à taxa equivalente ao crescimento populacional, pois, se assim fosse, o produto por habitante não sairia do lugar, logo, não haveria progresso na redução da miséria e da pobreza, situação que, num país subdesenvolvimento, é indesejável.

Como meta devidamente quantificada, o Brasil precisaria dobrar a renda por habitante até o ano de 2040, para começar a se aproximar dos países desenvolvidos em termos de renda média, redução das desigualdades e padrão médio de bem-estar social. Em todo crescimento sempre estará presente o problema de como a renda nacional (que é igual ao produto nacional) será distribuída entre as várias camadas sociais, e é aqui que entra a forma como o setor público será estruturado e qual será sua eficiência na tarefa de distribuição de renda e redução das desigualdades sociais. Infelizmente, segundo estudos já feitos pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), órgão do governo federal, o sistema estatal brasileiro falha como máquina de distribuir, pois a estrutura do gasto público nas três esferas da federação é concentradora de renda.

Nesse cenário todo, o Brasil enfrenta um grande desafio: como e com que rapidez o país conseguirá reorganizar o sistema econômico, desorganizado nos últimos dois anos pela tragédia da pandemia e a grave crise hídrica. Esse é talvez o principal tema que deveria ser debatido na campanha eleitoral que elegerá governadores, presidente da República e representantes nos poderes legislativos estaduais e nacionais, pois, sem a reorganização econômica após o sistema ter sido ferido profundamente em dois anos de crise, a obtenção de taxas de crescimento expressivas é uma tarefa inglória. Lamentavelmente as campanhas eleitorais têm sido um campeonato de promessas assistencialistas, com o único objetivo de conquistar votos.

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