Inflação do aluguel desacelera para 0,66% em agosto, mas segue acima de 30% em 12 meses

IGP-M registra disparada ao longo da pandemia; alta no acumulado é de 31,12%

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Rio de Janeiro

Conhecido como a inflação do aluguel, o IGP-M (Índice Geral de Preços - Mercado) desacelerou para 0,66% em agosto. Com o resultado, o indicador também perdeu fôlego em 12 meses, mas o acumulado ainda registrou forte variação, de 31,12%.

Os dados foram divulgados nesta segunda-feira (30) pelo FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas). Em julho, o índice havia avançado 0,78%. O acumulado em 12 meses era maior na ocasião, de 33,83%.

O IGP-M é frequentemente usado como referência para reajustes de contratos de locação de imóveis. Por isso, é chamado de inflação do aluguel. ​

Com a disparada ao longo da pandemia, o indicador se descolou da inflação oficial medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). Em 12 meses até julho, período com dados mais recentes, o IPCA subiu 8,99% —mesmo menor, a variação também assusta analistas e consumidores.

A escalada do IGP-M vem provocando uma série de debates sobre o uso do índice como indexador para os contratos de locação, já que a maior parte de sua composição vem de preços de matérias-primas agrícolas e industriais.

A legislação sobre o assunto diz que os contratos devem prever um índice de correção que será utilizado anualmente. Contudo, não há obrigação de escolha pelo IGP-M.

O indicador busca medir os preços ao longo de diferentes setores da cadeia produtiva —de matérias-primas, passando pela construção, até serviços e bens finais.

Para isso, a variação do IGP-M é composta por três indicadores: IPA (Índice de Preços ao Produtor Amplo), IPC (Índice de Preços ao Consumidor) e INCC (Índice Nacional de Custo da Construção).

O IPA, que capta o movimento de preços de matérias-primas agrícolas e industriais, é aquele com o maior peso. Responde por 60% do IGP-M. Ou seja, o aumento de commodities pode gerar reflexo nos valores de aluguel de imóveis.

O IPC, por sua vez, representa 30% do IGP-M. O INCC é o responsável pelos outros 10%.

Em 12 meses, o IPA tem a maior variação: 39,97%. A disparada reflete, em parte, a alta do dólar e das commodities no mercado internacional. Entre julho e agosto, o IPA desacelerou de 0,71% para 0,66%.

O IPC também perdeu fôlego na passagem mensal, de 0,83% para 0,75%. Em 12 meses, o indicador acumula alta de 8,60%.

Já o INCC desacelerou de 1,24%, em julho, para 0,56%, em agosto. No acumulado, a variação é de 17,05%.

O economista André Braz, coordenador de índices de preços do FGV Ibre, afirma que, sem os impactos da crise hídrica, o IGP-M teria registrado uma perda de fôlego maior neste mês.

É que a escassez de chuva forçou o uso de usinas térmicas, o que encarece os custos de geração de energia elétrica. O reflexo é a conta de luz mais cara para os consumidores. A seca prolongada também provocou perdas em lavouras, pressionando valores de alimentos.

“Se não fosse a crise hídrica, o IGP-M apresentaria desaceleração mais forte [de julho para agosto]. No IPA, culturas afetadas pela estiagem, como milho [-4,58% para 10,97%] e café [0,04% para 20,98%] registraram forte avanço em seus preços", aponta Braz.

"No âmbito do consumidor, o preço da energia, para a qual é esperado novo reajuste em setembro, registrou alta de 3,26%, sendo a principal influência”, completa.

Segundo ele, a desaceleração em agosto pode ser atribuída a “fatores pontuais” dentro de cada componente do IGP-M. Nesse sentido, o destaque vai para o minério de ferro, que freou o IPA. Conforme o levantamento, o minério teve queda de 15,32%, após alta de 2,70% em julho.

“A China está fazendo um controle ambiental mais rígido, tem colocado certos limites a siderúrgicas. Isso acaba pressionando para baixo os preços do minério”, observa Braz.

O IGP-M de agosto terá efeito nos contratos de locação com vencimento em setembro. Se os proprietários decidirem aplicar integralmente a variação acumulada de 31,12%, um aluguel de R$ 2.000 passará para R$ 2.622,40, por exemplo.

Conforme Braz, a perspectiva para o IGP-M é de novos sinais de desaceleração nos próximos meses. O indicador, contudo, deve permanecer em nível elevado no curto prazo, pondera o economista.

“A inflação não vai virar algo do passado. Vamos, sim, ter um efeito estatístico, porque, no segundo semestre de 2020, as variações foram muito altas. Não apostamos em mais variações tão altas do IPA, principalmente. Isso vai permitir uma desaceleração, mas não uma grande melhora”, diz.

“Vamos continuar com a pressão da crise hídrica. Também há o impacto da gasolina, já que o aquecimento da economia mundial gera maior demanda por petróleo”, emenda.

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