Antonio Delfim Netto

Economista, ex-ministro da Fazenda (1967-1974). É autor de “O Problema do Café no Brasil”.

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Descrição de chapéu inflação juros Ásia

A difícil inflação

A situação é desconfortável e acentua a perda de renda dos mais pobres em um momento de elevado desemprego

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A inflação preocupa. Atingiu 8,1% nos 12 meses terminados em maio, acima da meta de 3,75% para 2021 (e do limite de tolerância, 5,25%). Ainda que sobre a base deprimida do ano passado, a situação é desconfortável e acentua a perda de renda dos mais pobres em um momento de elevado desemprego.

Alguns fatores explicam a dinâmica da inflação desde o 2º semestre de 2020. O primeiro é o comportamento dos preços internacionais das commodities, impulsionados pela forte demanda internacional, notadamente da China. O segundo se deve à monumental desvalorização cambial, ocorrida primordialmente pela protelação do desfecho do Orçamento e do flerte com o rompimento do regime fiscal. Com a resolução deste impasse —e com o início da elevação da taxa de juros pelo Banco Central—, o câmbio já aprecia e começa a amortecer parte da pressão das commodities em vez de reforçá-la.

Por fim, há o impacto do encarecimento da energia elétrica pela falta de chuvas. Mesmo que a chance de racionamento ainda seja baixa, o choque sobre preços será salgado.

É preciso compreender, entretanto, que nem todos os elementos são idiossincrasias nossas. A força e a rapidez do movimento de “reflação” global têm surpreendido a todos. Países emergentes têm registrado inflação de 5%-6% e a inflação ao consumidor americano atingiu seu pior resultado dos últimos 13 anos: 5% em 12 meses. Os preços dos bens duráveis nos EUA subiram mais de 10% no período, e os de energia 28,5%.

Por trás desse padrão, está a recuperação global em ritmo mais acelerado que o previsto. Esperava-se que o corte de demanda produzisse queda generalizada dos preços na pandemia. O que se viu, entretanto, foi a canalização de boa parte da demanda de serviços para bens, sem que houvesse ajuste na oferta. Setores não foram capazes de antecipar a demanda (e sua intensidade) e houve uma completa disrupção dos processos produtivos.

A indústria de semicondutores sofre com a falta de insumos, e no setor de logística faltam embarcações para o transporte. Os EUA chegaram a ter um déficit de 500 mil containers na China para realizar importações. O mercado que operava com uma taxa de média de rolagem de embarque próxima a 8% no pré pandemia, trabalha hoje acima de 37%. Mesmo setores que não paralisaram suas atividades preveem normalização apenas em 2022.

Assim, a inflação corre acima do esperado em diversos países, emergentes ou não. O segundo semestre deve trazer algum alívio à inflação brasileira, que encerrará o ano em ainda elevados 5,5%-6%.

O Brasil ficou mais pobre com a partida do grande Langoni. Meus sentimentos à família.

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