O governo dos Estados Unidos lançou uma investigação sobre acidentes que envolveram a tecnologia de condução sem motorista Autopilot, da Tesla, depois de diversas solicitações do órgão regulador, que acusou o fabricante de carros elétricos de liberar tecnologia não testada nas vias públicas.
A Administração Nacional de Segurança no Tráfego e Rodovias (NHTSA na sigla em inglês), parte do Departamento de Transportes, revelou na segunda-feira (16) que iniciou uma investigação de 11 acidentes com carros Tesla em que havia veículos de atendimento de emergência.
Os choques, que causaram ferimentos em 17 pessoas e uma morte, envolveram veículos que funcionavam nos modos Autopilot ou Traffic Aware Cruise Control (controle de cruzeiro sensível ao tráfego) e ocorreram em locais que tinham clara sinalização de advertência aos motoristas, como cones e setas, segundo a agência.
A medida indica uma intensificação das investigações do software Autopilot da Tesla, que até agora foram conduzidas pelo Conselho Nacional de Segurança no Transporte (NTSB), um órgão independente. Diferentemente desse grupo, a NHTSA tem o poder de obrigar "recalls" de veículos se encontrar defeitos, assim como de impor regulamentos a todo o setor.
A investigação anunciada na segunda cobre virtualmente todos os veículos Tesla vendidos nos Estados Unidos nos últimos anos, cerca de 765 mil. As ações do fabricante caíram mais de 4% depois da notícia. O órgão de segurança de veículos da China disse em junho que a Tesla estava realizando o recall voluntário de quase 300 mil carros por um problema com seu software Autopilot, embora a Tesla tenha resolvido o problema mais tarde.
A investigação acontece após fortes críticas aos reguladores federais pelo NTSB sobre o que afirma ter sido uma "abordagem descuidada da supervisão [que] apresenta um risco potencial a motoristas e outros usuários das ruas".
Elon Musk, o presidente-executivo da Tesla, está sendo criticado na indústria por afirmar que o software, um sistema avançado de assistência ao motorista destinado a cuidar de coisas como um veículo manter a velocidade ou permanecer dentro da faixa, é capaz de assumir o controle total de um veículo.
No início deste ano, o presidente do NTSB, Robert Sumwalt, disse que a Tesla lançou uma "versão beta" do software para testar em vias públicas com supervisão limitada.
Em um documento datado de 13 de agosto, a NHTSA disse que identificou 11 acidentes que remontam a 2018 em que vários modelos da Tesla "encontraram cenas de emergência e posteriormente atingiram um ou mais veículos envolvidos nessas cenas".
Musk foi criticado por seu marketing agressivo do software da Tesla e a decisão de chamá-lo de Autopilot, embora seja apenas um sistema de ajuda à condução do Nível 2, muito aquém do Nível 5 completo, em que um carro pode se conduzir sozinho.
"A NHTSA lembra ao público que hoje não existem veículos motorizados comercialmente disponíveis capazes de se autoconduzir", disse a agência na segunda. "Todo veículo disponível exige que um motorista humano esteja no controle o tempo todo, e todas as leis estaduais responsabilizam os seres humanos pela operação de seus veículos."
A investigação federal vai examinar a situação da tecnologia de IA da Tesla, assim como os sistemas que a companhia usa para monitorar os motoristas e garantir que eles prestem atenção e possam assumir o controle total do veículo quando necessário. A Tesla adotou advertências extras para os motoristas depois que a primeira fatalidade conhecida ocorreu quando o sistema Autopilot estava em uso, em 2016.
"Ao cumprir a missão de segurança central da agência e melhor compreender as causas de certos acidentes com a Tesla, a NHTSA está abrindo uma avaliação preliminar dos sistemas Autopilot da Tesla e as tecnologias e métodos usados para monitorar, assistir e reforçar o envolvimento do motorista enquanto o sistema Autopilot está sendo usado", disse a NHTSA.
"Certas funções avançadas de assistência à condução podem promover segurança ao ajudar os motoristas a evitar acidentes e mitigar a gravidade de acidentes que ocorrem, mas assim como todas as tecnologias e equipamentos nos veículos motorizados, os motoristas devem usá-los de forma correta e responsável."
Missy Cummings, professora de engenharia na Universidade Duke, disse que a investigação da NHTSA salienta um problema fundamental da tecnologia da Tesla. "O sistema de visão do carro não consegue tratar nada fora do comum —e isso por definição é qualquer situação de emergência."
Grupos de consumidores que criticaram o uso de IA pela Tesla e pediram maior regulamentação aprovaram a investigação. No entanto, Cummings disse que os sistemas de IA como o da Tesla fazem julgamentos com base em probabilidades, colocando um problema fundamental para os reguladores que buscam garantias de que a tecnologia é segura.
A investigação cobre a maioria dos veículos Tesla produzidos desde 2014, incluindo os modelos Y, X, S e 3.
Musk não respondeu imediatamente a um pedido de comentários.
Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves
Acidente deixa 5 crianças e 1 adulto feridos na Inglaterra
Cinco crianças e um adulto foram levados ao hospital nesta segunda depois que um Tesla Model 3, que estava em modo de condução autônoma, bateu em um estacionamento de uma escola no sul da Inglaterra, publicou o Telegraph.
Pelo menos uma pessoa ficou presa sob o carro elétrico no estacionamento da escola em Sussex, disse o jornal.
O Serviço de Ambulâncias da Costa Sudeste do Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido disse que uma pessoa estava em estado grave e três outras sofreram ferimentos potencialmente graves.
Não se sabe se havia um motorista ao volante do veículo no momento da colisão, acrescentou o Telegraph.
A Tesla não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
Com Reuters
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