Por Patrícia Basilio, G1


De 2011 a 2019, os investimentos externos diretos na indústria caíram 63%. — Foto: Ricardo Wolffenbuttel/ Secom

A entrada de investimento estrangeiro no Brasil levou um tombo no primeiro semestre deste ano - e a indústria está entre os setores mais prejudicados.

Segundo relatório divulgado no final de outubro pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), o fluxo de investimento estrangeiro caiu 48% de janeiro a junho, frente ao mesmo período do ano passado, para US$ 18 bilhões. E esse dinheiro tem se concentrado em atividades do setor primário, como petróleo e gás, em detrimento da manufatura, de acordo com a Sobeet (Sociedade Brasileira de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica).

Investimento estrangeiro na indústria brasileira — Foto: Economia G1

Dados do Banco Central apontam que a tendência de queda no investimento na indústria não é tão recente. De 2011 a 2019, os investimentos externos diretos no setor de agricultura, pecuária e mineração cresceram 27,4%. Mas, no mesmo período, os aportes para a indústria caíram 63%, enquanto para o segmento de serviços caíram 19,6%. (veja mais histórico no gráfico acima).

O BC ainda não dispõe de dados setoriais deste ano, mas os ingressos mensais já apontam uma forte desaceleração, como mostrou a Unctad no acumulado do primeiro semestre. Em setembro, o volume total de investimento estrangeiro direto somou US$ 1,6 bilhão, ante US$ 6 bilhões registrados no mesmo mês de 2019.

Além da pandemia, que paralisou as atividades no país, o baixo índice de privatizações — que costuma contar com a participação de dinheiro estrangeiro — também foi responsável pela queda no fluxo de investimento externo no Brasil este ano, destacou o órgão das Nações Unidas.

Países que mais recebem investimento estrangeiro — Foto: Economia G1

Como voltar a atrair investimento?

Com 2020 quase no fim, o G1 ouviu especialistas para listar 5 fatores essenciais para a indústria voltar a atrair investimento estrangeiro em 2021. Veja abaixo:

  1. Recuperação da economia brasileira
    De acordo com o Banco Mundial, Brasil deve fechar este ano com um uma queda de 5,4% no Produto Interno Bruto (PIB). Em 2021, a expectativa é de crescimento de 3%. Para Luiz Afonso Lima, presidente da Sobeet, a recuperação do investimento externo será gradual no ano que vem e deve acompanhar o crescimento da economia. "Só devemos ter mesmo nível de investimento em 2022", analisou.
  2. Avanço de privatizações no Brasil
    Privatizações costumam puxar investimento estrangeiro. Por este motivo, Lima destaca a necessidade de avanço de privatizações estudadas pelo governo, como a da Eletrobras e dos Correios. "Em outras economias não há tanto potencial de crescimento como aqui. Temos carência de quase tudo e, por isso, há chance de crescimento contínuo por muito mais tempo", disse.
  3. Mudança política nos EUA
    Governos republicanos, como o de Donald Trump, são mais protecionistas. Os democratas, como Barack Obama e o presidente eleito, Joe Biden, costumam colaborar mais com países aliados. Na média, os republicanos investem 3,7%  do PIB no exterior. Os democratas, por sua vez, investem quase o dobro, aponta levantamento da Unctad.
  4. Equilíbrio cambial
    Com a forte perda do valor em relação ao dólar, o real tem este ano o pior desempenho entre as 30 moedas mais negociadas do mundo. Para indústrias que dependem de produtos importados, a desvalorização da moeda representa custos mais altos. "Quando se trata da produção industrial, o desafio é que as importações ficam mais caras. Por outro lado, o mercado doméstico é beneficiado pelas exportações", ponderou Paloma Anós Casero, diretora do Banco Mundial para o Brasil.
  5. Digitalização do setor
    Para atrair recursos externos, as indústrias do país precisam investir em tecnologia e se transformar, destacou a Sobeet. "Com a pandemia, a indústria perdeu espaço para setores tradicionais que se digitalizaram [alimentação e varejo] para atender a necessidade do consumidor que não podia sair de casa", explicou Lima, citando como exemplo a indústria automotiva.

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