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Por Lucianne Carneiro — Do Rio

Uma combinação de desorganização na cadeia produtiva causada pela pandemia de covid-19, alta do dólar e do aço e busca por automóveis com cada vez mais tecnologia fez disparar os preços dos veículos novos no país, movimento que se estende aos usados. Nos 12 meses até agosto, a variação do preço de automóveis novos foi de quase 10% (9,76%), segundo os dados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do país. No caso de automóvel usado, essa variação foi ainda maior, de 12,48%. Os dois subitens aparecem entre oito primeiros de maior pressão na inflação medida pelo IPCA, que contempla 377 subitens, tanto em 2021 quanto nos 12 meses encerrados em agosto.

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Um levantamento da Bright Consulting, especializada no setor automotivo, identifica uma alta ainda maior, de quase 20% entre dezembro de 2020 e agosto de 2021, considerando o ticket médio de preços de veículos de passageiros e comerciais leves zero km, que chegou a R$ 106.808. É a maior variação na série histórica da pesquisa, iniciada em 2003. E a tendência de valorização de preços deve continuar, apontam economistas e especialistas na indústria automobilística. A expectativa é que os ajustes na cadeia produtiva só avancem ao longo de 2022 e ainda há cautela quanto ao efeito do câmbio no próximo ano. Projeção da LCA Consultores estima alta de 10,7% do preço do automóvel novo em 2021 e 5,1% em 2022. Para o automóvel usado, a expectativa é de alta de 12,2% e 4,2%, respectivamente.

“A pressão de custos da indústria automobilística começou em 2020 e continua a afetar o setor. Os preços devem continuar em alta em 2022, embora em um ritmo menor, mas o efeito acumulado é grande”, diz Fabio Romão, economista da LCA, lembrando que o movimento ocorre após anos de pouco repasse dos custos da indústria para o consumidor, devido ao fraco crescimento. Entre 2011 e 2019, o preço de automóvel novo subiu 0,5% por ano, em média.

Os dois itens - automóvel novo e usado - respondem sozinhos por quase 5% do cálculo do IPCA, o que é classificado como “um peso importante” por Romão.

A indústria de automóveis é o caso mais evidente da chamada desorganização da cadeia produtiva do setor industrial no mundo provocada pela pandemia. Com as restrições sanitárias, muitas fábricas fecharam por algum tempo, afetando a produção de componentes. Um dos itens mais em falta são os semicondutores, componente eletrônico cada vez mais usado nos veículos. Com o formato de montagem adotado pela indústria, a falta de determinado insumo interrompe a produção, o que tem derrubado os estoques.

Segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), os estoques das concessionárias, que costumavam responder pelo equivalente a 30 dias de vendas, estão hoje em 11 dias.

“Tem todo o problema da cadeia de suprimentos, com destaque para a crise mais pesada dos semicondutores. Além disso, o público de mais alta renda, que deixou de viajar e gastar com outros serviços, também aumentou a demanda por veículos. Tem o problema do dólar, já que há uma parcela grande de componentes importados. E o Brasil ainda está passando por uma mudança do mix de vendas, com mais procura por SUVs. Os estoques foram muito reduzidos e isso se refletiu no preço”, diz Paulo Cardamone, diretor-executivo (CEO) da consultoria Bright Consulting, com mais de 40 anos de experiência na indústria automotiva.

De janeiro a agosto de 2021, o número de emplacamentos de veículos chegou a 2,3 milhões, 27,8% a mais que em igual período de 2020. Na passagem de julho para agosto, no entanto, houve queda de quase 5%, movimento explicado, segundo o presidente da Fenabrave, Alarico Assumpção Júnior, pela baixa disponibilidade de veículos novos. “O ritmo dos emplacamentos está sendo ditado pela capacidade de entrega das montadoras, que ainda sofrem com a escassez, especialmente, de semicondutores”, disse ele, ao anunciar os dados há poucos dias.

Na falta de veículos novos, o mercado de usados se aquece. De janeiro a agosto de 2021, as transações de usados, considerando todos os segmentos, atingiram 10,234 milhões, 48,22% a mais que em igual período de 2020. A relação entre o número de veículos usados vendido a cada novo emplacado, que ficava entre cinco e seis, ultrapassou em julho a barreira de seis pela primeira vez desde 2004 e em agosto chegou a 6,8.

Professora do Departamento de Administração da FEA/USP, Adriana Marotti de Mello afirma que a desorganização da cadeia produtiva do setor tente a se ajustar em 2022, mas acredita que houve uma mudança no patamar de preços de veículos e não deve ocorrer retorno para o cenário anterior. Além da alta do dólar e da falta de componentes, especialmente os chips, ela lembra que há uma mudança no mix de produtos do setor, com maior procura por veículos como SUVs, com mais conteúdo tecnológico e maior margem de lucro para as montadoras.

“São várias coisas acontecendo ao mesmo tempo. No caso dos chips, há uma concorrência com outras indústrias, como de celular, de computador e até de geladeira. As montadoras não têm o mesmo poder de barganha que na cadeia do aço, por exemplo. Ao mesmo tempo, a procura é cada vez maior por veículos mais sofisticados. Os SUVs já são os mais vendidos entre os segmentos”, aponta ela.

Todos são unânimes em acreditar na manutenção da alta de preços de automóveis pelo menos até o próximo ano. “Os preços de veículos vão continuar subindo até que se acerte a questão dos estoques de veículos e a falta de componentes, o que não deve ocorrer a curto prazo”, diz Cardamone.

Romão lembra o efeito acumulado da valorização do câmbio sobre o custo da indústria automobilística em 2020 - a cotação média subiu 30,6% entre 2019 para 2020, de R$ 3,95 para R$ 5,15 - e não está descartado o risco cambial em 2022. “Existe essa pressão de custo herdada de 2020. E não está claro se teremos alívio cambial em um ano de eleições”, argumenta. A projeção da LCA é de um câmbio médio de R$ 5,27 em 2021 e R$ 5,15 em 2022.

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