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Recessão econômica: o que é a queda no PIB e o que ela causa a um país?

Recessão econômica: saiba o que é, causas e efeitos da queda do PIB - Getty Images
Recessão econômica: saiba o que é, causas e efeitos da queda do PIB Imagem: Getty Images

Iara Schiavi

Colaboração para o UOL, em São Paulo

06/01/2021 04h00Atualizada em 17/05/2022 16h52

Recessão econômica é quando há um encolhimento da economia do país, com menos produção, consumo e emprego. Essa queda, atrelada ao PIB (Produto Interno Bruto), pode gerar consequências sociais, políticas e individuais.

O UOL conversou com Juliana Inhasz, economista e professora do Insper, e José Paulo Guedes Pinto, economista e professor da Universidade Federal do ABC, para explicar o tema. Saiba abaixo tudo sobre recessão econômica.

Recessão: tudo sobre a queda no PIB

O que é recessão?

A recessão técnica ocorre quando há uma diminuição da atividade econômica por dois trimestres consecutivos, em relação ao trimestre anterior. Esse encolhimento é avaliado a partir do Produto Interno Bruto (PIB), indicador que engloba tudo o que foi produzido no país durante o período analisado.

A recessão técnica é um sinal de alerta econômico. O cenário mais preocupante, de acordo com especialistas, é quando esse encolhimento da economia, com redução da produção, estende-se por um período prolongado e afeta vários setores econômicos.

O Brasil está em recessão?

Sim. O país entrou em recessão técnica após quedas no segundo (-0,4%) e no terceiro (-0,1%) trimestres de 2021.

Também houve recessão técnica em 2020, após quedas consecutivas nos dois primeiros trimestres do ano (-2,3% e -8,9%).

No terceiro trimestre de 2020, porém, a economia cresceu 7,8% em relação ao 2º trimestre. Com isso, o país saiu tecnicamente da recessão.

No quarto trimestre, a alta foi de 3,1% em comparação com o trimestre anterior. Mas, no ano todo de 2020, o PIB caiu 0,9% em relação a 2019.

Quais as características de uma recessão?

A recessão econômica inclui diferentes situações, como:

  • redução do nível de atividade econômica;
  • aumento do desemprego;
  • redução dos indicadores de consumo e investimento;
  • redução da renda familiar;
  • diminuição da renda agregada da sociedade (soma de rendas como salários de pessoas e lucro de empresas).

Essa retração também afeta as empresas, com redução de lucro e mais risco de falência.

Quais as causas da recessão?

As causas de uma recessão podem ser políticas econômicas mal executadas ou mal gerenciadas ou choques externos que causam uma abrupta redução em produção, consumo e investimento. Uma pandemia como a de covid-19 também afeta tudo, por causar incertezas na produção devido à expectativa de queda do consumo das famílias.

As empresas podem reduzir investimentos se identificarem queda nos lucros ou incerteza sobre o escoamento da produção. Isso gera um efeito em cadeia, com diminuição da oferta e consequente elevação dos preços.

Quanto tempo pode durar uma recessão econômica?

A recuperação pode demorar mais ou menos tempo de acordo com as políticas econômicas e a eficiência no gerenciamento dessas medidas.

A recuperação está diretamente relacionada ao aumento da confiança para retomada dos investimentos. Isso resulta em mais empregos e melhora da renda familiar, permitindo um aumento da demanda e mais segurança no investimento empresarial (as empresas veem possibilidade de seus produtos serem vendidos).

Quais os riscos de uma recessão econômica para um país?

A retração financeira influencia diferentes aspectos econômicos e sociais. Há aumento de pobreza, piora em saúde, educação e habitação.

Com a redução da qualidade de vida e retração da renda, uma crise continuada ainda pode levar à instabilidade social, com aumento da insatisfação e pressão da sociedade para mudanças políticas e econômicas.

A continuidade e o agravamento da crise podem levar ao distanciamento de parceiros comerciais estratégicos e à saída de investidores estrangeiros, gerando maiores entraves à recuperação da economia.

Quais medidas podem contribuir para que um país saia da recessão?

Quando um país está em recessão, existem diferentes perspectivas quanto ao que deve ser feito para sair dessa situação mais rapidamente. Algumas delas:

- Ajuste de políticas fiscais e monetárias para devolver a confiança a investidores e consumidores, estimulando o consumo e atraindo investimentos.

- Elevação do investimento público para gerar um efeito multiplicador na economia. Com aumento da atividade econômica, eleva-se a arrecadação de impostos, o que permite um reequilíbrio posterior do fluxo da dívida pública.

A opção dos caminhos depende da política. Um governo mais progressista ou mais conservador pode fazer escolhas distintas de como enfrentar a crise.

Por quais períodos de recessão o Brasil já passou e como foram superados?

O Brasil já viveu diferentes períodos de recessão econômica, inclusive recentes, como entre 2014 e 2016. Naquele momento, a recuperação, ainda que discreta, teve relação com medidas como a redução dos gastos públicos, mais transparência na gestão pública, uma equipe econômica que gerasse segurança ao mercado e ajuste fiscal.

O período da hiperinflação é um dos mais conhecidos pela população brasileira, sendo que em 11 anos, entre 1981 e 1992, foram nove anos de estagnação econômica. A saída da chamada "década perdida" ocorreu com a adoção do Plano Real, promovendo uma reorganização profunda da economia do país.

Outro caso é a recuperação econômica brasileira após a queda da Bolsa de Nova York, em 1929. Na época, o crescimento foi retomado em três anos, com uma interferência forte do Estado brasileiro, que comprou, estocou e queimou milhares de sacas de café, mantendo, artificialmente, o preço do produto no mercado externo.

Quando o Brasil entra em recessão, como o dólar atua?

Quando se fala em recessão e crise econômica, uma preocupação comum é com a crescente valorização do dólar em relação ao real. Um aspecto importante é que a recessão econômica pode ou não ter origem na política externa, incluindo a valorização do dólar ou um declínio econômico em vários países, como ocorreu em 2008 após a crise internacional desencadeada pelo mercado imobiliário norte-americano.

Embora diferentes motivos influenciem o início da crise, caso ela seja associada ao aumento da taxa de câmbio, que indica a desvalorização do real no mercado internacional, há uma elevação nos preços do mercado interno, especialmente em commodities.

A consequência é a diminuição do poder de compra do brasileiro, o que amplia as tensões econômicas e políticas, dificultando a recuperação econômica.

Com esse fenômeno, ocorre uma preferência dos produtores pelo escoamento dos produtos no mercado internacional —que negocia em dólar— em detrimento do nacional, podendo levar à escassez de produtos, inclusive itens básicos (como a farinha do pão), tornando-os mais caros e elevando a inflação do período.

No mercado financeiro, uma das implicações é a maior dificuldade do pagamento da dívida, uma vez que juros e amortizações são quitados em dólar. Dar calotes na dívida externa, como às vezes acontece com países em crise, pode tirar investidores estrangeiros do país.

Como a recessão afeta a vida cotidiana das pessoas?

"A recessão afeta a vida das pessoas porque temos menos empregos, mais pessoas em situação de vulnerabilidade, menor poder de compra, e, portanto, menor bem-estar", afirma Juliana Inhasz.

Com o aumento do desemprego, cresce o trabalho informal. A situação leva à precarização das relações de trabalho, incluindo a redução da renda familiar.

Outra consequência é a ampliação da pressão social por políticas econômicas e sociais para reduzir as desigualdades na distribuição de renda e também no acesso a serviços como educação, saúde e moradia.

Um exemplo disso é a extensão do auxílio emergencial durante a pandemia do coronavírus, pois a impossibilidade de ampliar a renda por meio da geração de empregos criou uma pressão para que o governo ajudasse mais.

Quais são as consequências de uma recessão para o futuro próximo do país?

Mesmo com uma tímida recuperação da economia, as consequências da recessão se estendem para além da sua duração técnica. Há maiores inseguranças dos consumidores, que preferem poupar devido às incertezas futuras.

Socialmente, as implicações incluem uma queda no bem-estar geral da população e piora da distribuição de renda, demandando uma melhora na condição social para que haja a recuperação econômica.

A incerteza do investimento privado também se estende até que haja mais segurança do lucro e da retomada do consumo, incluindo uma maior exigência do mercado de trabalho pela especialização, com objetivo de elevar a produtividade e a competitividade das empresas.

No longo prazo, as consequências incluem uma situação política mais instável, o que pode dar um novo fôlego às forças opositoras e um rearranjo posterior.