Para atingir meta de vendas, montadoras miram clientes corporativos

Anfavea reconhece cenário adverso aos consumidores pessoa física e espera alcançar projeções de emplacamentos por meio das vendas diretas

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Bruno de Oliveira
  • 07/06/2022 - 19:42
  • 2 minutos de leitura
    
             Marcio de Lima Leite, presidente da Anfavea: "O nosso maior problema não é demanda, embora ela possa impactar de alguma forma. O nosso maior desafio é produção."

    Mais de 1,5 milhão de veículos separam as montadoras instaladas no país da sua meta de emplacamentos para o ano, estimada em 2,3 milhões de unidades. Para o presidente da Anfavea, Marcio de Lima Leite, é preciso um ritmo de vendas de 10 mil unidades/dia para que ela seja alcançada até o final do ano. Uma jornada factível, segundo o representante, mas que inspira a sobreposição de uma série de desafios.


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    Um deles diz respeito à produção veicular, que ainda sofre com a falta de componentes nas linhas. O tema é a prioridade número um das montadoras, disse Leite, e inclusive é tema de discussões recentes mantidas com integrantes do Governo Federal. Na lógica das fabricantes, uma vez garantida a produção sem interrupções, será possível atender uma demanda que a Anfavea alega ser crescente.

    No entanto, da mesma forma como não existem atualmente garantias de que haverá entregas regulares de chips, pneus, resinas e outros insumos nas linhas de montagem, também não há como cravar uma resposta do mercado aos estímulos comerciais das concessionárias. A própria Anfavea reconhece que o cenário de créditos e juros está avesso à situação do consumidor médio brasileiro.

    “O nosso setor está ligado diretamente à taxa de juros e à disponibilidade de crédito. O perfil do consumidor mudou. Aquele que depende de crédito… é difícil. 36% de juro bancário ao ano, e uma exigência maior dos bancos para conceder crédito, para esse consumidor, sem dúvida, gera um arrefecimento na busca por veículos novos”, contou o presidente da Anfavea na terça-feira, 7.

    Qual é a demanda?

    A grande demanda a qual se refere o representante está represada em estratos sociais mais altos, nos consumidores que podem pagar à vista, por exemplo, e também no grupo das pessoas jurídicas, que consegue realizar pedidos compostos por grandes volumes. O que resta saber, e esta é a grande incógnita dentro das montadoras, é se esta fatia do mercado conseguirá proporcionar o ritmo de vendas esperado para chegar aos 2,3 milhões de emplacamentos planejados.

    “Um dos nossos desafios no momento é justamente medir o tamanho dessa demanda, se ela está crescente ou não. Precisamos avaliar uma série de indicadores para, de fato, chegar a um cenário mais próximo da realidade”, explicou Leite.

    Os números da Fenabrave, a federação que representa as concessionárias no país, mostram que as vendas diretas às pessoas jurídicas representaram fatia de 42% do total de automóveis e comerciais leves emplacados até maio. As vendas via varejo representaram os 58% restantes. Apenas em maio, as vendas diretas corresponderam a uma fatia maior, 48% do total emplacado naquele mês.

    Revisão das projeções

    O quadro econômico brasileiro em termos de juros, renda e inflação, ainda não ligaram o sinal de alerta nas montadoras a ponto de se cogitar uma revisão das projeções para o ano. De acordo com Márcio de Lima Leite, o panorama poderá mudar uma vez que as empresas sentirem que o nível de produção não será o esperado ao longo dos próximos meses, afetando obviamente as entregas de veículos na ponta.

    “Para este ano, a questão da mudança do cenário não deve produzir reflexos nas operações das montadoras a ponto de se fazer revisões nas projeções. Se nós não conseguirmos evoluir nos assuntos ligados à produção conforme esperamos, será necessário, sim, um ajuste”, disse Leite. “Mercado é a discussão mais sensível que temos, mas não neste ano. O nosso maior problema é a produção."

    Neste ano, a inflação aferida pelo IBGE no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi de 12,13% no acumulado de 12 meses até abril. É a maior inflação para o período de 1 ano desde outubro de 2003, quando o porcentual foi de 13,98%.

    No caso da renda média do brasileiro, dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, a Pnad Contínua, mostram que o rendimento médio caiu quase 9% entre março de 2021 e março deste ano. A projeção para a Selic -- a taxa básica de juros -- no fim deste ano continuou em 13,25% no último boletim Focus divulgado pelo Banco Central.