Por Thaís Matos, g1


População mais pobre não sente recuperação do PIB

População mais pobre não sente recuperação do PIB

O desempenho da economia brasileira no primeiro trimestre do ano foi positivo. Os dados do PIB, divulgados nesta quinta-feira (2) pelo IBGE, mostram que a atividade econômica cresceu 1% nos três primeiros meses do ano, mas essa melhora não foi sentida por grande parte da população – que ainda sente apertar no bolso a alta de alimentos e combustíveis e a falta de reajuste nos salários.

O g1 foi até o Largo 13, centro de comércio popular na região de Santo Amaro, na zona sul de São Paulo, para ouvir, dos trabalhadores, se esse crescimento trouxe algum alívio às finanças. A maioria dos entrevistados reclamou da subida constante dos preços no mercado e disse que a busca por emprego continua difícil.

Quem trabalha com comércio viu uma pequena melhora com a retomada, mas ainda sofre com uma clientela pequena. Os lucros do pequeno comerciante de rua sumiram, agora eles vendem o suficiente para cobrir os prejuízos.

Leia, abaixo, o que eles contaram:

Jaci Vieira Souza, dona de casa

Jaci Vieira Souza, dona de casa — Foto: Luiz Franco/g1

Jaci é dona de casa. Em uma casa de cinco, apenas três conseguiram trabalho e têm renda. Para chegar ao fim do mês, ela precisou se endividar no cartão de crédito.

"O custo de vida continua muito alto. Por mais que a gente pesquise, está muito difícil, o dinheiro não dá para comprar o que a gente quer. A gente coloca em primeiro lugar as necessidades básicas, e o cartão de crédito vai ficando para trás, a gente vai colocando no parcelamento, muito embora isso dificulte a nossa vida. Até a situação melhorar, a gente vai ter que ir se adaptando. É o Brasil."

Eduardo Alexandre Souza, porteiro

Eduardo Alexandre Souza, porteiro — Foto: Luiz Franco/g1

Eduardo tem 46 anos e conseguiu um trabalho como porteiro no começo do ano, após passar um ano desempregado. Mesmo com o emprego, pagar todas as contas e os remédios da filha é uma tarefa impossível.

"Mesmo trabalhando, fica difícil com o salário que a gente ganha. Estou tentando arrumar outro serviço, mas está difícil também", diz. "Tá cada vez pior. Você vai no mercado, é um preço. Vai no outro, é outro preço de novo. A gente fica perdido, tem que escolher uma coisa ou outra. Se a gente não escolher, morre de fome. Eu tenho uma filha especial. A gente gasta R$ 600 de remédio. Fora a fralda, que é R$ 1.200. Aí, não dá."

Jonathan Fernandes, entregador de panfleto

Jonathan Fernandes de Oliveira, entregador de panfleto — Foto: Luiz Franco/g1

Jonathan tem 27 anos e banca sozinho a casa em que mora com o companheiro. Ele está há oito meses entregando currículo por toda a cidade, mas não consegue ser chamado para entrevistas. Por enquanto, sobrevive com um bico como entregador de panfletos na porta do metrô.

"Na área do mercado subiu bastante, o feijão e o arroz estão um absurdo, mas principalmente o óleo. A gente não sabe se se mantém com alimento ou se se preocupa com a saúde, está muito difícil mesmo. Até o emprego tá difícil, a gente não sabe o que fazer."

Fábia Silva, dona de salão de beleza

Fábia Silva, dona de salão de beleza — Foto: Luiz Franco/g1

Fábia tem 49 anos e viu sua renda com o salão de beleza cair 60%. Ela trabalhava com 15 profissionais, mas precisou reduzir para 10 para não fechar as portas.

"Lidar com salão está muito difícil devido à situação do brasileiro que está muito precária. A alimentação sobe a cada dia que passa. Então você não vai deixar de colocar alimento na tua casa para se embelezar. Para fazer uma unha, um cabelo, você não tem mais condições disso", conta.

Para conseguir chegar até o fim do mês com o rendimento, ela precisou fazer cortes nos gastos do salão e de casa.

"Se não está numa sala, apaga a luz. Tenta economizar água, por exemplo, a gente tem uma cozinha e acaba trazendo marmita pra poder não gastar lá fora porque ninguém consegue. O restaurante também teve que aumentar o preço porque tudo aumentou", diz. "Você vai no mercado e acaba trocando um produto pelo outro que seja mais em conta. Você começa a reciclar a água do amaciante, a água da roupa a gente recicla para lavar tapete e quintal porque senão você não consegue."

Maria de Fátima Souza Lima Leme, autônoma

Maria de Fátima Souza, autônoma — Foto: Luiz Franco/g1

Maria de Fátima começou o ano um pouco melhor. Aos 60 anos, conseguiu um bico em uma igreja em janeiro e passou a ajudar no orçamento de casa, que conta com o salário do marido.

"Eu tô fazendo um bico graças a Deus. Olha, tinha tempo que eu não conseguia nem uma moedinha, não tinha uma moedinha às vezes para comprar um pão", diz.

Ela consegue pagar as contas básicas, mas ainda passa aperto para fechar tudo.

"Tá tudo mais caro, e o salário da gente é muito pouco. A gente não consegue nem comer direito. O tomate subiu, tudo subiu. Já pesou 1kg de tomate por R$ 16. Agora baixou pra R$ 13,90, mas mesmo assim tá muito caro. Ou a gente compra o básico pra comer ou a gente... É muito duro, muito cruel".

Sony, vendedora de frutas e verduras

Sony, vendedora de frutas e verduras — Foto: Luiz Franco/g1

Sony, 53 anos, tem passado por um momento difícil: ela termina o dia de trabalho com o carrinho de frutas e verduras lotado. As vendas não decolam e a compra da mercadoria tem sido uma dor de cabeça.

"A gente vai comprar uma caixa de pimenta, e o que custava R$ 50, R$ 100, agora custa R$ 200. E a gente não ganha nada porque vai vender as bacias a R$ 5 e o pessoal ainda reclama", desabafa. "Tá muito caro, tá difícil pra gente trabalhar, pra comprar principalmente porque, a cada dia que a gente chega no Ceasa, o preço tá diferente. Não é diferente pro melhor, é pro pior. Tudo ficou mais difícil."

Com o pouco que ganha das vendas, precisa pagar R$ 800 de aluguel, além das contas de água, luz, transporte e alimentação. Com o aumento da mercadoria, o que tira não é suficiente para cobrir todos os gastos do mês.

"Quando meu gás acaba, tenho que pedir um adiantamento. Eu trabalho para mim, mas preciso de dinheiro emprestado porque não dá pra tirar. É complicado, fia, espero que ano que vem as coisas melhorem um pouquinho pra gente ganhar um dinheiro, porque aqui ninguém ganha. As barracas de frutas e legumes estão todas cheias de mercadoria, ninguém tá conseguindo vender", conta. "Tá difícil pra gente vender os legumes, tá difícil pra arrumar emprego, tá difícil até pra viver."

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