Inovação avança em empresas no país

27/10/2021 | Valor Econômico

Estudo quantifica da FGV ganhos com produtividade e exportação após capacidade tecnológica




Um estudo com 63 empresas de cinco indústrias intensivas em tecnologia de processo e em recursos naturais no Brasil (aço, etanol, celulose e papel, mineração e petróleo) mostrou avanço da parcela daquelas com maior nível de capacidade tecnológica, após investimentos e iniciativas para inovação. O trabalho apontou que a fatia das empresas no nível 3 de capacidade tecnológica (inovação intermediária) passou de 28,6% no período de 2008 a 2013 para 38,1% no intervalo entre 2014 a 2020.


Também há expansão da fatia das companhias nas categorias mais avançadas de capacidade tecnológica, embora em ritmo menos intenso: o grupo de nível 4 (seguidores rápidos de líderes globais) representava 22,2% das empresas inicialmente e passou para 23,8% no segundo período. Já as de nível 5 (capazes de implementar inovações em nível de liderança internacional) saltaram de 6,3% para 7,9% do total, considerando a mesma base de comparação.


“Vemos que há um avanço desse conjunto de empresas para um maior nível de capacidade tecnológica e isso é positivo. Mas as empresas no mais alto nível, com capacidade de implementar inovações de classe mundial, ainda são minoria”, explica Paulo Negreiros Figueiredo, professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (FGV Ebape), coordenador do MBA em Gestão da Inovação e Capacidade Tecnológica da FGV e coordenador do estudo.


Apesar de os dados avaliados se referirem ao período até 2020, ele esclarece que esta é a condição atual desse conjunto de empresas, já que uma mudança de nível de capacidade tecnológica leva pelo menos de dois a três anos. “Sair de um nível para outro é um processo mais longo. A condição observada permanece a mesma hoje”, diz.


O estudo - publicado na revista científica internacional “Technovation” - também aponta o retorno em produtividade do trabalho e em desempenho exportador dos esforços para inovação. Nas empresas menos produtivas, houve alta média de 55% na produtividade ligada à acumulação de níveis de capacidade tecnológica além do básico (nível 2). Já nas mais produtivas, que passaram do nível 3 para 4, a expansão foi de 38%.


Quanto ao impacto em exportações, o trabalho mostra expansão média de 37% no desempenho nas empresas menos exportadoras, associado à acumulação de níveis de capacidade tecnológica além do básico (nível 2), e avanço médio de 52% nas empresas mais exportadoras, ligado à inovação tecnológica além do nível 3.


“O estudo mostra que mais empresas da amostra conseguiram ir para o nível intermediário de capacidade tecnológica. Quando mais vai subindo a escada [de capacitação tecnológica], mais difícil é para avançar”, afirma Figueiredo. “O avanço de capacitação tecnológica não é automático, é uma tarefa árdua, e por isso exige esforço empresarial e também de política pública. Estamos falhando nisso”, diz ele.


Na sua avaliação, o avanço da capacitação tecnológica das empresas brasileiras é fundamental para o crescimento econômico do Brasil após “décadas de estagnação”. “Nós estamos presos em um país de renda média e de tecnologia média. Estamos sofrendo de décadas de estagnação econômica e a chave para o país se reposicionar é investir em inovação”, defende.


As 63 empresas têm faturamento anual de cerca de US$ 180 bilhões e representam perto de 40% das exportações brasileiras e mais de 30% do valor adicionado na indústria. No grupo, estão conglomerados como Petrobras, Vale, Suzano, Usiminas, Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e Gerdau.


O estudo é resultado de amplo trabalho de pesquisa, que incluiu workshops por setor, questionários específicos e trabalho de campo nas companhias, com visitas a laboratórios e fábricas. A partir das informações, foram analisados os insumos para a inovação, como os mecanismos de aquisição externa e interna de conhecimento (educação formal e consultoria e assistência técnica, por exemplo) e a relação com os resultados do processo, como as inovações implementadas e o impacto em produtividade do trabalho e exportações. Além de Figueiredo, também participaram do trabalho os professores da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Bernardo Pereira Cabral e da Universidade Federal de Goiás (UFG) Felipe Queiroz Silva.


“É um estudo aprofundado, com análise das atividades das empresas por complexidade e grau de novidade e evidências sobre a capacidade tecnológica, não é um estudo sobre percepção”, esclarece o professor da FGV Ebape.


Pesquisa recente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) apontou que 80% das empresas relataram ganhos com inovação durante a pandemia. O levantamento foi feito com executivos de 500 grandes e médias empresas industriais. Questionados se a empresa já tinha feito inovação em processo produtivo ou em produto, no entanto, 67% do total responderam de forma positiva em 2021, taxa inferior às de 69% em 2020 e 80% em 2019.



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