Como a Wings está salvando as montadoras brasileiras na crise dos chips

Após Toyota e VW, fornecedora fechou com mais duas marcas. Ela criou central multimídia que usa gama mais ampla de semicondutores

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Bruno de Oliveira
  • 20/09/2021 - 19:00
  • 2 minutos de leitura
    
             Central multimídia da Wings: Volkswagen, Toyota e mais dois contratos para serem fechados com montadoras

    Uma das alternativas encontradas por parte das montadoras de veículos para mitigar a crise dos chips em suas linhas de produção foi a de oferecer veículos ao mercado sem a central multimídia, um plano que em linhas gerais transfere para fornecedores o papel de provedor de componentes que, antes, eram de série. Dentro deste contexto ganhou força a Wings, a empresa que está ajudando fabricantes brasileiras a pouparem seus semicondutores.

    A empresa, sediada em Jaboatão dos Guararapes (PE), de certa forma conseguiu há alguns anos antever o que acabou acontecendo no mercado, no caso, a escassez global de semicondutores. Entre 2017 e 2018, em meio a uma crise envolvendo fornecimento de telas de LCD, a empresa se viu obrigada a executar uma série de modificações em seus produtos de forma a simplificar suas arquiteturas eletrônicas.


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    “Como estava faltando tela, resolvemos criar uma central multimídia que pudesse ter em seu hardware a tela que estivesse disponível. Com essa simplificação também tornamos o produto flexível a ponto de ele também ser compatível com qualquer tipo de semicondutor. A crise hoje ocorre porque os componentes dos veículos dependem de modelos específicos de chips para serem produzidos”, disse João Marcelo Barros, fundador da Wings.

    Dessa forma, explicou o executivo, a empresa consegue manter seu estoque abastecido ao longo do ano. Isso chamou a atenção das concessionárias, principalmente as associações que representam os distribuidores de veículos. Foi a Abradit, a Associação Brasileira dos Distribuidores Toyota, por exemplo, que intermediou as negociações para que a Wings passasse a fornecer central multimídia para o Corolla.

    
             João Marcelo Barros: "A crise hoje ocorre porque os componentes dos veículos dependem de modelos específicos de chips".

    O modelo passou a ser vendido na rede a partir de 1º de setembro com uma nova central multimídia. A escassez de chips levou a montadora a retirar a tela original de 8 polegadas das unidades produzidas em Indaiatuba (SP) para colocar no lugar uma maior, a de 10 polegadas da Wings, que por outro lado não tem os sistemas Apple CarPlay e Google Auto nem os botões físicos como no modelo de fábrica.

    A VW, por sua vez, retirou do Fox e das versões de entrada do Polo, do Virtus e do Nivus a central multimídia que os equipavam desde seus lançamentos, uma medida que também foi adotada por outras fabricantes no Exterior.

    A Wings também está homologada para ser fornecedora de central multimídia da versão PcD do T-Cross, que não tem o item de série e é oferecido nas concessionárias como acessório.

    Segundo João Marcelo Barros, estão para ser fechados mais dois contratos nos mesmos moldes da Toyota, um deles com assinatura prevista para ocorrer até o final do ano. A dinâmica é a seguinte: a associação dos concessionários compartilha a programação de entrega de veículos da montadora, e com base nela a fabricante passa a montar as centrais multimídia em linha operada por cerca de trinta funcionários em esquema CKD – a Wings compra kits desmontados de fornecedores asiáticos de componentes eletrônicos. Há capacidade de montagem de 24 mil centrais multimídia por mês na fábrica, considerando todo o mercado. A Toyota, segundo Barros, representa maior fatia dos pedidos.

    Esta simplificação da arquitetura eletrônica dos veículos, aliás, é tema recorrente em discussões envolvendo fabricantes e seus sistemistas. Os chassis no futuro deverão ser mais simples do ponto de vista eletrônico, ou seja, mais funcionalidades sendo controladas por menos unidades de processamento, o que redunda em uma oportunidade de tornar mais flexível a composição de um computador veicular no sentido de absorver um maior número de tipos de semicondutores. A Bosch é uma das empresas que estão debruçadas sobre este tipo de desenvolvimento atualmente (confira aqui).

    No âmbito das montadoras, a Stellantis anunciou em julho investimento de € 30 bilhões até 2025 em diversas áreas, principalmente a de software, que também trabalha hoje em dia na simplificação eletrônica de suas plataformas e veículos.