Concursos e Emprego

Por Marta Cavallini, G1


Diante da crise provocada pelo coronavírus, empresas de recrutamento registraram queda na abertura de vagas desde o começo da pandemia, em março. É o que aponta um levantamento feito pelo G1 com algumas das principais recrutadoras do país: Catho, Page Group, Luandre e Robert Half.

Além do congelamento de contratações, as recrutadoras registraram aumento de vagas nas modalidades de trabalho temporário e contratos PJ (pessoa jurídica).

Na semana passada, um estudo divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostrou que a redução das admissões contribuiu mais para a queda do emprego com carteira assinada no país do que o aumento dos desligamentos. Essa queda na abertura de postos de trabalho, segundo Fabrício Kuriki, gerente de business intelligence da Catho, foi observada, de um modo geral, a partir das primeiras semanas de quarentena.

Segundo ele, as micro e pequenas empresas, responsáveis pela maior parte das contratações do país, foram as mais afetadas desde o início da pandemia. “Muitas delas não puderam operar ao longo desse período ou tiveram suas atividades reduzidas. Desta forma, naturalmente ocorre uma diminuição ou paralisação das contratações”, explica.

Outro fator apontado por Kuriki foi a falta de perspectiva de retorno das atividades nos setores de comércio e serviços, duramente afetados pelo isolamento, que acabou diminuindo a confiança dos empresários para abrir novas vagas para suas empresas.

Desemprego cresce na pandemia

Desemprego cresce na pandemia

Na Catho, os setores que mais sofreram queda nas contratações foram hotelaria e turismo, o pequeno comércio e o setor de entretenimento. Cada um desses setores registrou diminuição em suas contratações, nos meses de abril e maio, na comparação com o mesmo período do ano passado.

Lucas Nogueira, diretor de recrutamento da Robert Half, aponta que houve queda na demanda de contratações exatamente em função do cenário da crise, a partir da segunda quinzena do mês de março e, de uma maneira mais aguda, em abril e maio.

“Temos observado pelas conversas e interações com nossos clientes que há ainda um cenário de bastante incerteza econômica, o que impacta em investimentos sendo retardados, adiamento de projetos e engavetamento de propostas, especialmente entre as multinacionais. Não vemos efetivamente o cancelamento dessas iniciativas, mas adiamentos e redimensionamentos de projetos em virtude deste novo cenário”, conta.

Nogueira comenta que, no início da pandemia, as empresas cortaram as posições não tão estratégicas, além das mais operacionais e de menor qualificação, “o que deu um tranco no número de desempregados do país, sobretudo porque grande parte da população economicamente ativa não é igualmente qualificada".

“Agora, as empresas estão pensando duas vezes em demitir. Primeiro, porque a mão de obra de menor qualificação já foi desligada no momento inicial. E, com um quadro formado por profissionais essenciais, mais qualificados ou estratégicos, as empresas pensam mais vezes antes de uma nova demissão, pois sabe-se que para contratar novamente e treinar esses perfis profissionais é mais desafiador e leva um tempo maior. Além disso, há uma percepção de grande parte das empresas de que pelo menos o pior da crise econômica já passou. Desta forma, as empresas tendem a permanecer com esses profissionais e tentar reduzir outros custos”, explica.

O diretor de recrutamento da Robert Half aponta ainda que as medidas do governo, como a redução de jornada e salário, de certa forma têm “protegido” uma fatia considerável da população e, consequentemente, as empresas pensam mais antes de um novo desligamento.

O PageGroup também detectou uma diminuição na oferta de vagas em março e abril em quase todos os setores, exceto em alimentação, agropecuária, tecnologia e saúde, que registraram aumento. Em maio, as empresas voltaram a conversar sobre novas ofertas de emprego e, em junho, as contratações foram retomadas.

A Luandre registrou cancelamentos de vagas, principalmente, no início da pandemia. Desde então, alguns setores alimentícios reduziram seu quadro ou suspenderam contratos, enquanto empresas voltadas para serviços a clientes optaram por redução de jornada.

Temporários e PJ

A Catho informou que as contratações pelas modalidades de trabalho temporário, autônomo ou PJ aumentaram “expressivamente” em comparação com o mesmo período do ano passado.

A Luandre também registrou aumento de demanda na mão de obra temporária em relação às vagas efetivas em segmentos que continuaram contratando em meio à pandemia.

Lucas Nogueira afirma que na Robert Half, em junho, houve um crescimento de 20% em posições para projetos temporários frente aos meses de março, abril e maio. Segundo ele, há um volume considerável de profissionais qualificados disponíveis e mais propícios a aceitar esse tipo de trabalho.

“Apesar de não ser um modelo de contratação tão novo no Brasil, o que observamos é que as empresas começaram a observar que em um cenário incerto e de horizonte ainda nebuloso, esse tipo de contratação encaixa muito bem. As vantagens são que nesse modelo o profissional atua em um projeto com tempo determinado e dentro desse cenário isso é visto como uma boa possibilidade de contratação”, comenta.

Levantamento da Page Interim, consultoria especializada em recrutamento, seleção e administração de profissionais terceirizados e temporários do PageGroup, mostra que as contratações de terceiros e temporários aumentou principalmente nos setores de TI, Vendas, Finanças, RH e Saúde.

De acordo com Maíra Campos, diretora da Page Interim, apesar da instabilidade econômica atual, há mudança de estratégia de diversas empresas, que acompanham a complexidade do cenário proporcionado pela pandemia. “A adaptação às novas demandas e a digitalização dos negócios é uma necessidade cada vez mais evidente. Também encontramos diversos desafios de estabilização de operações, reajustes de departamentos e a busca por reduções de custos significativos, que variam de acordo com as especificações das empresas”, conta.

Para a executiva, o investimento em novos cursos e tecnologias é uma boa alternativa para reforçar funções e aprendizados tradicionais e oferecer diferenciais às empresas que estão contratando.

Setores com crescimento de vagas

Na Catho, cargos relacionados à área da saúde, comercial, logística, supermercadista e farmácia são os que mais apresentaram crescimento desde o início do isolamento social até junho. Veja abaixo a lista das 17 ocupações com maior abertura de vagas:

Abertura de vagas durante a pandemia — Foto: Economia G1

Na Luandre, houve um aumento significativo nos setores de saúde, varejo (inclui e-commerce) e logística. Segundo a empresa intermediadora de mão de obra, muitas vagas do varejo migraram para logística por causa do aumento das vendas online.

O PageGroup aponta que a pandemia do novo coronavírus está provocando uma nova onda de contratações de profissionais de tecnologia e de finanças.

De acordo com a consultoria, a alta demanda no trabalho à distância, em transações online e na capacidade instalada fez com que as empresas acelerassem a busca por executivos da área de tecnologia que possam conduzir projetos de infraestrutura, reforçar a segurança de dados e administrar o suporte técnico.

“Alguns setores, como os de saúde, e-commerce e alimentação, estão sendo muito demandados nesse momento, mas já há casos de outros segmentos buscando mais profissionais de tecnologia. Em geral, essas companhias estão de olho em executivos de infraestrutura e redes, para que possam suportar a estrutura de tecnologia em um momento de alta utilização de equipamentos”, explica Luana Castro, gerente da área de TI da Michael Page e Page Personnel, empresas integrantes do PageGroup.

“Seguindo a mesma lógica, o segmento de comércio eletrônico também apresenta alta. Com as pessoas em quarentena, as compras on-line passam a ser a primeira opção de todo consumidor. Vale também para startups e empresas de mobilidade e logística. Grande parte das empresas opta por continuar as contratações de engenheiros de software afim de manter a plataforma funcionando e com boa operacionalização com a alta demanda”, completa.

Em relação à área de finanças, com o fim da pandemia, as empresas deverão fazer um movimento de busca por novos executivos do setor financeiro. Essa demanda deverá ser mais aquecida com a retomada das atividades e a necessidade de as empresas contratarem especialistas em revisão de fluxo de caixa, negociação com bancos, estruturação de capital e renegociação com fornecedores.

Veja também

Mais lidas

Mais do G1
Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!