Por Gilcilene Araújo, G1 PI


Reduzir, reciclar e reaproveitar: sustentabilidade gera economia e renda em Teresina — Foto: Gilcilene Araújo/G1

Diferente do que muita gente pensa, investir em sustentabilidade ou em economia sustentável traz muitos benefícios e oportunidades de mercado. O G1 conversou com pessoas que estão empreendendo no setor, sustentando famílias, preservando o meio ambiente e garantindo água para as gerações futuras.

A economia sustentável é um conjunto de práticas que se baseiam no uso inteligente dos recursos naturais, de forma a satisfazer as necessidades atuais, enquanto garante recursos para as futuras gerações.

Em Teresina, tem gente fazendo economia a partir da mudança de hábitos rotineiros dentro de casa, como por exemplo, o reaproveitamento de água.

A revitalização de áreas abandonadas tem proporcionado oportunidade de renda na Zona Norte da capital. Pneus e madeiras velhos que seriam jogados fora e causar doenças viram peças de decoração nas mãos de gente habilidosa.

Reduzir para não faltar

Evite o desperdício de água — Foto: Gilcilene Araújo/G1

A água é um recurso fundamental para a sobrevivência do ser humano. Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente (MMA), o território brasileiro tem mais de 13% da água doce do mundo, mas mesmo sendo um país privilegiado neste quesito, corremos o risco de desabastecimento, pois o consumo elevado somado ao desperdício de água vêm tendo um impacto negativo na população.

A capital do Piauí conta com menos de 20% de coleta de esgoto e perde 44,9% da água tratada, segundo a Águas de Teresina. A concessionária diz que conseguiu reduzir em 30% as perdas em pouco mais de dois anos de atuação. O índice saiu de 64,1% para 44,9%. A meta do contrato de subconcessão prevê que o índice seja de 25% até 2027, décimo ano de operação dos serviços na capital piauiense.

Atualmente, os teresinenses consomem 272.431 litros por dia e desperdiçam 88.848 litros por dia.

No Brasil, o consumo médio de água por pessoa é de 154,1 litros por dia. A dona de casa Ana Cléa e a chefe de cozinha Bruna garantem que não fazem parte destas estatísticas do desperdício, pois praticam o consumo consciente de água em casa e no local de trabalho.

Ana Cléa reaproveita a água da máquina de lavar para limpar a garagem e regar as plantas. Ela conta que quando durante seu pós parto contratou uma pessoa para lhe ajudar com suas atividades domésticas e viu neste período a conta subir de R$ 30 reais para R$ 80.

Calculadora consumo de água — Foto: Editoria de Arte/G1

Você quer saber quantos litros de água você gasta em cada atividade em sua casa? O G1 criou uma calculadora. Clique e descubra qual o seu consumo.

Nos dias de hoje, saber como reduzir o consumo de água é uma questão que está ligada não só às questões financeiras, como às contas domésticas, mas também às questões ecológicas de sustentabilidade.

“No dia a dia, lavo o maior número de louças de uma vez, assim como roupas, duas vezes por semana e uso a água da máquina (de 9kg) para lavar pisos da área de serviço e terraço, às vezes até os banheiros. Rego plantas com balde, porque consigo precisar a quantidade sem desperdícios, tiro o carro e a calçada não lavo, só em grande necessidade", comentou.

Chefe de cozinha diz que procura economizar água o máximo possível em sua casa — Foto: Gilcilene Araújo/G1

A chefe de cozinha diz ainda que banha e escova os dentes com torneira/chuveiro fechado, faz manutenção de torneiras e encanamento periódicos para verificar se há algum vazamento. Além disso, usar as descargas do banheiro com economia de água para xixi e cocô. "Com essas observações nunca paguei mais que a taxa mínima de consumo de água aqui em casa, que não passa de R$35 a R$37 ao mês”, afirmou a chefe de cozinha Bruna.

O modo como Bruna repensa a forma de utilizar água em sua casa é o que os especialistas recomendam que façamos também em nossas residências.

Promotor usa sistema de captação da água da chuva no jardim de sua casa — Foto: Arquivo Pessoal

O promotor Francisco de Jesus montou em sua casa um sistema para captação da água. No jardim da casa há canteiros ecológicos feitos com uso de palha capaz de reter a água por maior período de tempo, sem oferecer risco de proliferação dos mosquitos da dengue. Os pneus são furados para evitar o acumulo de água e são usados como forma de brinquedos desde os chafariz.

"Quando eu fui construir minha casa não tínhamos o abastecimento de água em casa e o jeito foi construir uma cisterna para receber a água das chuvas e só depois que conseguimos ter um acúmulo de água começamos a construção. Posso dizer que minha casa foi construída com 40% de água pluviais", lembrou.

Saiba como aproveitar a água da chuva — Foto: Adelmo Piaxão/G1

Reutilização das áreas ao redor das lagoas

Revitalização da lagoa trouxe qualidade de vida para os moradores — Foto: Gilcilene Araújo/G1

Um exemplo de reutilização acontece há sete anos na Zona Norte de Teresina. Onde antes existia mato, lixão, esgoto a céu aberto, deu lugar para a transformação social com a reutilização das áreas ao redor das lagoas do Cabrinha e Lourival, na região dos bairros Matadouro e São Joaquim, através do Projeto Lagoas do Norte. A área de 28 hectares totalmente aberta pode ser utilizada para práticas esportivas, culturais, lazer e renda.

O Programa Lagoas do Norte envolve 13 bairros da capital e está sendo executado em duas fases. Conforme a Prefeitura de Teresina, a primeira fase já finalizada visou a requalificação do espaço urbano e ambiental, além de desenvolver a região de forma socieconômica.

Já a segunda etapa, em andamento, prevê a revitalização das lagoas e suas margens, estruturação da drenagem para evitar alagamentos, retirada do lixo, limpeza da lâmina d’água e implantação de parques lineares dotados de espaços para lazer e prática esportiva, urbanizando a região de forma integrada com a área já construída na primeira fase do programa, possibilitando, a preservação da fauna e da flora locais. Além disso, prevê ainda a melhoria da acessibilidade e mais segurança para a população.

Morador tem um bazar em um quiosque no Parque Lagoas do Norte — Foto: Gilcilene Araújo/G1

Dona Antônia da Silva mora no bairro Matadouro. Sua casa fica de frente para uma das lagoas, mas é em um dos quiosque que ela conta para a equipe de reportagem sobre a satisfação em morar e trabalhar perto de casa.

Antigamente, eu morava perto de bueiro a céu aberto. Não tínhamos acessibilidade, pois quando alguém precisava passar para lado de cá tinha apenas uma ponte de madeira. O mato e lixo tomavam de conta das margens das lagoas. As crianças estavam sempre doentes. No período do inverno vivíamos com medo de enchentes.
— Comerciante Antônia da Silva

Para ela, a transformação da região trouxe saneamento, saúde, cultura, religiosidade, educação, esporte, renda, lazer e moradia digna. “Mudou muito e em muitos aspectos. Minha casa recebeu fachada nova e valorização imobiliária. Tenho este quiosque onde vendo comidas e roupas de bazar. As pessoas usam o local para fazer ensaios fotográficos. Virou um ponto turísticos da cidade. Sou muito feliz”, finalizou.

Reciclagem evita contaminação dos solos

Materiais jogados fora contaminam o meio ambiente e poderiam ser reutilizados — Foto: Gilcilene Araújo/G1

Jogamos muitas coisas no lixo que poderiam ser reutilizadas para outros fins. A água usada para lavar a roupa pode ser reutilizada para lavar o quintal. Outros materiais e objetos podem e devem ser reutilizados. A reutilização evita a contaminação dos solos, mananciais e proliferação de doenças.

Os pneus velhos quando descartados de forma errada pode poluir o meio ambiente e ser foco de diversas doenças, como a dengue. No bairro Mocambinho, na Zona Norte de Teresina, um homem resolveu pegar os pneus usados na borracharia do pai e transformou eles em artesanato.

Homem sustenta a família transformando pneus usados em artesanato em Teresina — Foto: Gilcilene Araújo/G1

Roberto Ximenes transforma os pneus em motocicleta, objetos de decoração e ainda constrói brinquedos e móveis. Ele ainda participa de eventos em escolas falando sobre sustentabilidade.

“Antes eu fazia as peças como renda extra, no entanto, o negócio cresceu e fui me dedicando cada vez mais a reciclagem, porque o retorno financeiro era maior. Comecei fazendo algumas peças simples e, com passar do tempo, consigo elaborar artigos mais trabalhados”, afirmou o artesão.

Elisângela Silva é artesã e no ano passado abriu uma fábrica de móveis no quintal de casa. A matéria prima são os paletes. Para ela, a sustentabilidade é fonte de renda e de sobrevivência.

“O palete é um novo nicho de mercado, pois as pessoas perceberam que além do reaproveitamento, durabilidade e beleza existe nos moveis rústicos e de madeiras, o que antes eram considerados antigo passou a ser moderno”, afirmou.

O ambientalista Vinicius Campos afirma que o reaproveitamento tem diversos benefícios como: a redução do desmatamento de florestas nativas ou zero desmatamento dessas áreas quando a madeira utilizada é de reflorestamento e a economia da água e de energia utilizada para tratamento e beneficiamento da madeira usada para confeccionar o palete novo.

“Além desses benefícios para o meio ambiente, a recuperação de paletes resulta ainda em benefícios econômicos, uma vez que a reutilização reduz custos com a compra de novos equipamentos e com o descarte correto. Também garantem empregos diretos dentro nas oficinas de restauração”, finalizou.

Canos velhos se transformam em instrumentos musicais — Foto: Ascom

O Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro Brasileira luta para manter vivo os costumes africano através dos cursos que ministra na comunidade. Através de doação de material reciclado, eles confeccionam seus instrumentos musicais. Em julho, eles receberão uma grande doação de canos da empresa Água de Teresina e 40 alunos divididos em quatro turmas aprenderam a confeccionar o instrumento.

“O que antes eram canos velhos viram tambores. Esta parceria foi muito importante, porque o cano é o material fundamental para a produção dos instrumentos, além de ser o mais caro. Então, com esse apoio, vamos conseguir atender mais pessoas, porque a grande intenção é capacitar os jovens gerando emprego e renda”, finaliza.

Veja também

Mais lidas

Mais do G1
Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!