Analistas indicam ações de empresas beneficiadas pela reabertura mesmo com queda da Bolsa

Gestoras revisam projeções do Ibovespa para baixo, mas sugerem setores que tendem a oferecer ganhos

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São Paulo

A crise política e as tensões entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e os integrantes do STF (Supremo Tribunal Federal) afetaram as expectativas econômicas do mercado. Analistas agora revisam as previsões para a Bolsa brasileira em 2021.

No início do mês, o BB Investimentos reduziu de 140 mil para 130 mil sua projeção para o Ibovespa em dezembro. Na XP, a estimativa passou de 145 mil para 135 mil pontos, enquanto na RB Investimentos, a queda foi de 138 mil pontos para 130 mil pontos.

No Safra e no Santander, que tinham 145 mil de projeção para o índice no fim do ano, a tendência é que o número seja revisto nas próximas semanas. Apenas no Bradesco BBI, em que a estimativa já vinha em 135 mil desde maio, não há intenção de mudanças neste momento entre as casas consultadas.

Apesar do ciclo de revisões, especialistas enfatizam que as projeções ainda embutem potencial de valorização até o fim do ano
Apesar do ciclo de revisões, especialistas enfatizam que as projeções ainda embutem potencial de valorização até o fim do ano - Amanda Perobelli/Reuters

Embora a divulgação do PIB (Produto Interno Bruto) na semana passada tenha mostrado crescimento abaixo das expectativas, o que tem levado às revisões é principalmente o nível esperado de inflação e dos juros necessários para combatê-la nos próximos meses.

“O ambiente de inflação mais alta tem feito o BC (Banco Central) acelerar o ritmo de aperto da política monetária e começa a fazer o mercado revisar suas estimativas para o crescimento da economia em 2022”, diz Wesley Bernabé, analista-chefe de estratégia de ações do BB Investimentos.

Ele explica que, para calcular o valor de determinada ação na Bolsa, é preciso levar em conta a taxa de juros que a empresa deve pagar no longo prazo. Portanto, quanto maior for essa taxa, menor tende a ser o lucro, e, consequentemente, o preço da ação da empresa.

“Atualizamos nossos cálculos para o Ibovespa levando em consideração o aumento do custo de capital (taxas de juros de longo prazo)”, endossa relatório divulgado pela XP em 31 de agosto. Pelos cálculos dos estrategistas da corretora, para cada aumento de 1% no custo de capital, o valor justo das ações cai cerca de 13%.

Em 8 de agosto, dia seguinte às manifestações de raiz golpista e em uma sessão de forte estresse nos mercados, o título público prefixado com vencimento em 2031 superou pela primeira vez a marca histórica dos 11% de retorno ao ano, enquanto a Bolsa teve queda de quase 4%.

A nota em que Bolsonaro recuou em seus ataques contra o STF permitiu uma recuperação apenas parcial nos preços das ações, mas ainda longe de ser suficiente a ponto de animar os investidores quanto ao avanço consistente de pautas que tenham como foco o crescimento econômico do país e a redução do desemprego.

Estrategista da RB Investimentos, Gustavo Cruz acrescenta que para a revisão na projeção do Ibovespa contribuiu também a frustração com a perspectiva de avanços mais significativos na agenda de reformas, com implicações para as previsões de inflação.

“Com a crise política, não tem chance de alívio dos preços neste ano, e agora a dúvida é o quanto que vai contaminar para o ano que vem”, diz Cruz.

Ele lembra que o risco hídrico pode pressionar ainda mais os preços. Os dados do IPCA na quinta-feira (9), diz o estrategista da RB, mostraram que o aumento na inflação tem cada vez mais se disseminado entre os principais setores da economia. “A alta no preço dos combustíveis e da energia elétrica tem efeito indireto em muitos itens."

De todo modo, apesar do ciclo de revisões, os especialistas enfatizam que as projeções ainda embutem potencial de valorização até o fim do ano. Na comparação com o fechamento da última quarta-feira (8), a estimativa mais conservadora entre as casas consultadas, de 130 mil pontos, embute ata de 14,6% para a Bolsa até dezembro.

“Revisamos a projeção, mas não chegamos a estar pessimistas, porque tem um vetor grande de crescimento, a reabertura”, afirma Cruz, que vê papéis dos setores de turismo e entretenimento, como Azul e Time For Fun, em níveis atrativos.

Bernabé, do BB Investimentos, diz que, na carteira sugerida de ações para setembro, tem privilegiado nomes considerados mais defensivos, frente à expectativa de elevação da volatilidade nos mercados.

Itaú, JBS, Petrobras Vale, Magazine Luiza e Rede D´Or eram nomes que já vinham no portfólio e foram mantidos, com o acréscimo de BTG Pactual, Copasa, Embraer e Pague Menos.

“Temos feito um mix diversificado de setores, com bancos que fizeram a lição de casa e têm boas perspectivas de melhora da qualidade do crédito, ou companhias mais expostas ao varejo não cíclico, com receitas que se comportam bem independentemente do cenário, como as farmacêuticas”, afirma o analista-chefe.

André Carvalho, chefe de estratégias no Bradesco BBI, afirma que a projeção de Ibovespa na casa de 135 mil pontos se sustenta na expectativa de um crescimento dos lucros da ordem de 80% neste ano para as empresas que compõem o índice.

E isso sem considerar na conta o grupo das principais empresas de commodities, que representa cerca de 1/3 da Bolsa e acaba distorcendo a média. Com elas no cálculo, a evolução prevista pelo Bradesco BBI para os lucros das empresas do Ibovespa chega a 272%.

Para aproveitar o bom momento para as exportadoras, Vale, Petrobras e Klabin estão entre as ações mais atraentes, diz Carvalho.

Para 2022, a estimativa do banco de investimento aponta para o benchmark da Bolsa aos 150 mil pontos, alta de 32,2% em relação ao fechamento de quarta-feira (8). E que poderia ser até maior, mais perto dos 160 mil pontos, não fossem os riscos políticos e de caráter macroeconômico no radar. “Até as eleições, o prêmio de risco vai se manter muito alto, pela indefinição de qual política econômica será seguida."

Os cálculos do Bradesco BBI indicam crescimento de 19% do lucro das companhias do Ibovespa no ano que vem, percentual que vai para mais perto de zero, quando consideradas as exportadoras de matérias-primas.

“Esperamos uma queda significativa no preço das commodities”, afirma Carvalho. Como exemplo, ele diz que prevê o preço do minério de ferro, negociado atualmente perto de US$ 150 (R$ 792,28), escorregando para US$ 120 (R$ 633,82) em 2022, devido à desaceleração da China, e à reabertura das economias que deve aumentar a demanda por serviços e reduzir a procura por bens duráveis.

Nesse momento, a expectativa no Bradesco BBI é a de que papéis mais ligados à tese de reabertura, como Centauro, Alpargatas e Ecorodovias, possam tirar o atraso e se destacar frente aos pares.

Em todo caso, o estrategista diz também que, nos preços atuais em que se negociam as principais ações de commodities, já está no preço um cenário muito pior até do que o esperado pelo banco. “O mercado precifica o minério em torno de US$ 50 (R$ 264,09) a US$ 60 (R$ 316,91) nos próximos meses. Vemos como um exagero.”

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