Stellantis avança com falta de chips e deve manter liderança após crise, diz Filosa

Presidente na América do Sul afirma que grupo se preparou para sustentar o bom desempenho atual

Por PEDRO KUTNEY, AB
  • 01/09/2021 - 15:53
  • | Atualizado há 2 anos, 8 meses
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    O Grupo Stellantis e suas marcas Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën conseguiram contornar nas fábricas brasileiras de forma mais eficiente do que a concorrência a falta de microchips que vem afetando duramente a indústria automotiva global. Com isso, em 2021 o grupo consolidou e ampliou com margem sem precedentes sua liderança de vendas nos mercados sul-americanos, especialmente no Brasil, onde sua participação já está mais de 10 pontos porcentuais à frente do segundo colocado.

    Para Antonio Filosa, presidente da operação na América do Sul, o bom desempenho da região ajuda a garantir o fornecimento de mais semicondutores no reparte internacional, mas ele destaca que a empresa já liderava as vendas na região já nos últimos quatro meses de 2020, antes do aprofundamento da crise de semicondutores, graças a uma estratégia de lançamentos e marketing que começou a ser traçada há mais de três anos – e por isso deverá sustentar sua posição no topo mesmo quando os concorrentes voltarem a produzir normalmente.

    “Na América do Sul entregamos um primeiro semestre muito positivo para a corporação. Nosso trabalho é mostrar desempenho melhor que os outros para manter a região em posição estratégica e não faltar componentes. Conseguimos administrar a falta de semicondutores com flexibilidade industrial e a criatividade da nossa equipe de 1.100 engenheiros. Quem é mais eficiente neste momento ganha mercado, mas o que garante nossa liderança é o plano comercial que traçamos há três anos, ainda como FCA”, afirma Antonio Filosa.



    As duas maiores fábricas da Stellantis no Brasil, o Polo Automotivo Fiat em Betim (MG) e o Polo Automotivo Jeep em Goiana (PE), estão operando em ritmo quase normal, respectivamente em dois e três turnos. Paradas e redução de um turno só aconteceram até agora na planta mineira, por algumas semanas em julho e agosto. Filosa reconhece que teve perdas bem menores de produção do que os principais concorrentes como Volkswagen e GM, mas pondera que a poderia vender mais carros sem a falta de semicondutores. Ele avalia que as previsões ainda são muito instáveis, novas paralisações podem ser necessárias e o fornecimento global de chips só deve ser normalizado no segundo semestre de 2022.

    Diante da impossibilidade de atender prontamente a todos os pedidos, Filosa afirma que a estratégia tem sido de garantir tratamento igual a todos os clientes e produtos, seja no varejo das concessionárias ou para compras de grandes frotistas. “Neste momento poderíamos desviar componentes e vendas para nichos de maior lucratividade, mas não estamos fazendo isso, estamos tratando todos com a lógica da equidade e sendo transparentes [quanto aos tempos de espera]. Quando não temos um carro, podemos oferecer outro modelo mais próximo que temos para entregar, mas respeitamos o desejo do cliente.”

    FORÇA DA NACIONALIZAÇÃO



    Filosa aponta ainda outro fator que tem feito diferença para contornar a falta de componentes: o maior grau de nacionalização dos veículos produzidos no Brasil, com projetos em grande medida tocados pela equipe brasileira de 1,1 mil engenheiros e 300 designers, como é o caso de modelos como Fiat Strada, Argo e Mobi, ou do recente Jeep Commander, o maior e primeiro modelo da marca desenvolvido no País.

    “Já somos em muitos aspectos a montadora que mais nacionaliza, desde grandes partes como o novo motor turboflex que começamos a produzir este ano em Betim, até outros vários pequenos itens que desenvolvemos com diversos fornecedores. Estamos sempre estudando oportunidades para evitar a volatilidade cambial e reduzir os riscos logísticos das importações. Com semicondutores isso é mais difícil porque existem poucos fornecedores no mundo, mas sempre procuramos diversificar e flexibilizar as fontes para contornar possíveis problemas como enfrentamos agora”, indica Filosa.

    LANÇAMENTOS GARANTEM BOM DESEMPENHO



    Até o próximo ano o executivo prevê que a situação tende a continuar melhor para a Stellantis, graças aos lançamentos já feitos que formam filas de espera e outros que serão feitos no horizonte dos próximos meses.

    A virada foi iniciada com a nova geração da Strada lançada há cerca de um ano e meio que ampliou significativamente o mercado da picape e recolocou a Fiat na liderança no Brasil, seguiu com o reposicionamento de marketing (para nível superior) da marca italiana, continuou com as renovações no início de 2021 da Fiat Toro e do Jeep Compass, os primeiros a adotar o novo motor turboflex 1.3 de 185 cavalos que começou a ser fabricado em Betim. Na semana passada a ofensiva foi acrescida do terceiro Jeep nacional, o Commander, e em breve chega ao mercado o Pulse, primeiro SUV compacto da Fiat, que deve ganhar um irmão pouco maior no início de 2022.

    “Estamos lançando produtos que devem garantir nossa liderança para além da crise dos semicondutores. A carteira de pedidos que temos já garante crescimento. O único risco é não produzir por falta de componentes”, reforça Antonio Filosa.



    As instabilidades política e econômica que o País atravessa, com alta de inflação, dólar, juros e custos nas alturas, além de crise hídrica e energética, podem tirar parte do fôlego do mercado em 2022, mas Filosa indica que tem visão otimista. “O horizonte segue sendo de crescimento, por isso não abandonamos nenhum dos nossos investimentos e hoje já colhemos bons resultados dessa estratégia”, endossa.