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Mercado espera recuperação de setores defasados na Bolsa em 2021

Segundo analistas, vacinação é crucial para empresas que ainda não se recuperaram da queda de 2020

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São Paulo

Apesar de o Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, ter se recuperado do impacto do coronavírus, diversos setores ainda amargam perdas relacionadas à pandemia de Covid-19, em especial o de serviços, com destaque para empresas ligadas ao turismo e à educação.

Nos últimos 12 meses, Cogna acumula queda de 62%, e Yduqs, de 40%. CVC cai 42,64%, e Gol e Azul, 30,7% e 28,9%, respectivamente.

“O consumo cíclico segue desvalorizado e depende da imunização. O país que estiver mais vacinado vai ter uma recuperação da economia mais rápida”, diz Gustavo Bertotti, economista-chefe da Messem Investimentos.

Caso a expectativa de uma vacinação em massa em 2021 se concretize, esses ativos poderão ter saltos na valorização, pois estão entre os mais defasados do Ibovespa.

“Lojas Renner é a maior pechincha da Bolsa”, diz Luís Fernando Zen, estrategista da Invexa Capital.

A varejista acumula queda de 28,3% nos últimos 12 meses e, segundo Zen, está barata com relação ao retorno que pode dar ao investidor.

Na mesma lógica, ações de shoppings, construção civil e bancos estão entre as recomendações de especialistas.

Como há o risco de a imunização demorar mais do que o previsto, afetando a recuperação econômica, o investidor precisa ficar atento ao noticiário sobre o tema. Caso as perspectivas piorem, as empresas poderão sofrer forte desvalorização.

Algumas instituições estão revisando para baixo suas estimativas para a economia brasileira em 2021 dado o atual processo de vacinação e o aumento no número de casos e mortes neste início de ano.

A Tendências Consultoria, por exemplo, projeta um crescimento de 2,9% para o PIB (Produto Interno Bruto) deste ano, abaixo da mediana do mercado de 3,5% apurada pelo Banco Central na pesquisa Focus.

A projeção é a mesma do Santander Brasil, que anteriormente tinha uma estimativa de 3,4%.

Na semana passada, o novo presidente do Itaú, Milton Maluhy Filho, afirmou que a instituição projeta uma alta de 4% neste ano, mas que um atraso no plano de vacinação de seis meses, por exemplo, pode reduzir o valor pela metade.

O economista José Márcio Camargo, da Genial Investimentos, também está entre os que revisaram a projeção de crescimento do PIB para este ano, de 3,5% para 3%, devido ao avanço da pandemia, mas, em sua avaliação, as perspectivas para o processo de vacinação são positivas.

“A retomada depende da vacinação. Ela tem um impacto enorme no crescimento da economia”, afirma Caio Lewkowski, sócio da Tarpon Capital.

Para não dependerem apenas da vacinação e da retomada do consumo doméstico, os fundos da Tarpon também investem no agronegócio, que se beneficia do aumento das exportações com o real desvalorizado.

"Investimos em empresas que devem ter desempenho melhor que as concorrentes e que tenham estrutura de capital adequada para passar por momentos em que a atividade econômica não é tão pujante”, afirma Rafael Maisonnave, também sócio da Tarpon.

Segundo ele, é importante que o investidor busque empresas com boas margens de lucro, pouco endividadas e com alta previsibilidade de ganhos.

O setor elétrico está entre os investimentos da Tarpon justamente pela previsão de renda, já que as empresas do setor têm, geralmente, uma constância no fluxo de caixa.

"Empresas de infraestrutura estão menos expostas à economia real", diz Maisonnave.

Outra aposta é o setor de saúde. "Cerca de 75% dos brasileiros não têm plano, mas está entre as prioridades, é algo que se deseja", diz Lewkowski.

Ele também cita o impacto da pandemia e do envelhecimento da população como incentivos para a população buscar planos de saúde.

No setor, a gestora investe nas operadoras Hapvida e NotreDame Intermédica, que planejam uma fusão. A operação criaria um gigante do setor, impulsionando ainda mais os papéis.

A Invexa Capital também vê um potencial de crescimento na adesão de planos de saúde. Outra aposta é no setor de celulose.

"Para uma empresa internacional como a Suzano, questões locais têm pouco impacto. Ela depende mais do dólar", diz Marcelo Weber, fundador da gestora.

A Vale também é vista com bons olhos. "Este momento da empresa com baixo endividamento e o minério em alta é sensacional."

Empresas de siderurgia e mineração são dependentes da demanda externa, especialmente da China. Como o esperado é uma taxa de crescimento elevada para o país em 2021 —7,9% segundo o FMI (Fundo Monetário Internacional)—, empresas do setor tendem se favorecer.

No setor aéreo, Weber vê uma retomada de Gol e Azul, mas não de Embraer a curto prazo. "Talvez não seja o grande momento da empresa, pela desistência da Boeing."

A fabricante de aviões brasileira tinha um acordo de venda de sua divisão de aviação comercial para a americana Boeing, que foi desfeito sem aviso prévio em 2020, gerando grande desvalorização nos papéis da Embraer.

Bertotti, da Messem, vê boa oportunidade em empresas estatais, cuja privatização fica mais provável com a vitória de Arthur Lira (PP-AL) para liderar a Câmara e de Rodrigo Pacheco (DEM-MG) para presidir o Senado.

Ambos foram apoiados por Jair Bolsonaro (sem partido) e receberam votos em torno da maioria constitucional (60%). Se o apoio se repetir na votação de projetos de privatização, há grande probabilidade de aprovação.

A mesma lógica vale para as reformas. O mercado vê uma maior probabilidade no avanço dessa agenda.

Nesse cenário, Bertotti aposta na Sabesp e na Eletrobras. “Com a agenda reformista ganhando força, estatais se valorizam.”

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