Setor Automotivo

Entenda o mercado mexicano: do domínio da Nissan ao crescimento premium

Mesmo fora do top 10 da indústria, país é potência na exportação e exibe variedade de marcas de fazer inveja ao Brasil

vitor
Vitor Matsubara
  • 22/03/2022 - 10:07
  • 5 minutos de leitura
    
             Congestionamentos na capital mexicana são tão normais como em São Paulo
    Advertisement

    O México ocupa um papel de grande importância dentro da indústria automotiva. Mesmo não estando entre os 10 maiores mercados do setor, o país é um dos protagonistas na América Latina por conta dos acordos comerciais e do alto volume de produção - em 2021, quase 3 milhões de veículos leves foram feitos ali.

    A indústria mexicana abastece vários grandes mercados, como os Estados Unidos e o Brasil. De acordo com o Ministério da Economia, o México é o terceiro maior parceiro comercial da indústria automotiva brasileira, atrás apenas de Argentina e dos próprios Estados Unidos.

    No nosso caso, a colaboração é facilitada pelo Acordo de Complementação Econômica nº 55 (ou simplesmente ACE 55), que foi assinado pelo Mercosul em setembro de 2002 para regulamentar o comércio automotivo entre os países do tratado e o México.

    Mercado interno menor

    Automotive Business esteve em solo mexicano para participar do lançamento do Volvo C40 e notou algumas características lembram muito o Brasil, como o clima e o trânsito caótico em metrópoles como Cidade do México e São Paulo. Só que as semelhanças param quando o assunto é a indústria automotiva.

    Como já mencionamos na abertura do texto, o mercado mexicano é menor do que o brasileiro. Segundo dados da Associação Mexicana de Distribuidores de Automóveis (AMDA) e da Associação Mexicana da Indústria Automotiva (AMIA), 1.014.680 veículos leves foram vendidos em 2021. Isso representou um crescimento de 6,8% frente aos números de 2020, quando o mercado mexicano emplacou 950.063 unidades.

    Quanto às exportações, o Instituto Nacional de Estatísticas (INEGI) informa que 2,7 milhões de veículos feitos no México foram destinados a outros países em 2021.

    Para efeito de comparação, a Associação Nacional das Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) divulgou mercado interno de 2,11 milhões de veículos no Brasil no ano passado, representando crescimento de 3% em relação a 2020. Nas exportações é que o mercado brasileiro perde "de lavada" para o mexicano: em 2021, o país comercializou 376,4 mil veículos.

    Nissan é soberana

    
             Versa é o campeão de vendas no mercado mexicano

    Mesmo não estando entre os gigantes quando se trata de mercado interno, o México oferece uma ampla variedade de montadoras, inclusive com marcas que há anos estão longe do Brasil, como Mazda e Seat. Neste cenário, ninguém vende mais carros por lá do que a Nissan.

    No ano passado, a marca japonesa manteve a liderança absoluta de vendas com 20,1% de participação. É dela também o posto de modelo mais vendido do país com o Versa. Além do sedã, a empresa emplacou outros três modelos (Frontier, March e Sentra) entre os 10 mais vendidos. Todos, inclusive, são líderes em suas respectivas categorias.

    “Somos o quarto mercado com maior volume de vendas para a marca no mundo, com mais de seis milhões de unidades vendidas historicamente. Fechamos o ano/calendário de 2021 com 203.918 veículos comercializados, representando cerca de 5% a mais do que o volume obtido em 2020”, afirmou José Román, presidente e diretor geral da Nissan mexicana.

    O reinado japonês já dura 12 anos no país. Atualmente, a Nissan possui 20% de participação de mercado, bem à frente da vice-líder Chevrolet (11,7%) e da Volkswagen (9,7%). 

    “Esse feito tem relação direta com a tradição da empresa no México, que foi o primeiro mercado fora do Japão onde a Nissan se estabeleceu 60 anos atrás. Então existe uma relação muito especial entre os países”, afirma Luciana Herrmann, diretora de comunicação da Nissan do México.

    Potência na exportação

    
             Luciana está há seis anos na filial mexicana da Nissan

    A brasileira está na operação mexicana há seis anos e trabalhou na General Motors por 13 anos antes de ingressar na Nissan. Luciana acumula uma passagem pelo Japão e já trabalhou como diretora global de marketing da Datsun.

    “Falando especificamente da Nissan, nós temos três plantas no país, sendo duas de veículos e uma de motores. Isso nos dá uma capacidade muito grande de abastecer diversos mercados no mundo. Hoje exportamos para 80 mercados no mundo e 60% de todo o volume produzido aqui é voltado para exportação. A maior parte, obviamente, vai para os Estados Unidos, estimo que uns 70% desse volume vai para lá”, revelou.

    Primeira fábrica da Nissan iniciou produção em 1966

    Atualmente, a Nissan Mexicana S.A de C.V (nome oficial da empresa por lá) disponibiliza 14 modelos diferentes, incluindo alguns já descontinuados por aqui (como March e V-Drive), além dos esportivos 370Z e GT-R.

    “Além dos sedãs, o segmento de picapes é bastante forte (no México) com 13% do mercado. A gente tem uma linha de picapes muito extensa, com a Frontier como carro chefe, e hoje ela tem 40% do segmento. Vejo que a renovação da frota de veículos parece ser mais rápida do que o Brasil, talvez por mais acesso à financiamento, leasing e outros programas de acesso a veículos novos”.

    Mercado de luxo tem Volvo ascendente e BMW líder

    
             Volvo está de olho no mercado de luxo de lá

    O segmento de marcas premium tem algumas semelhanças com o Brasil. Segundo Luis Rezende, presidente da Volvo para América Latina, “o mercado é do mesmo tamanho (do Brasil), mas com maior potencial de crescimento”. É por isso que a empresa sueca está de olho nos mexicanos.

    “Estamos crescendo muito no México, onde tínhamos pouco mais de 3% antes de assumirmos as operações e hoje já estamos com 10%. Aqui, as pessoas têm o costume de consumir muito SUV de grande porte, até por conta da influência dos Estados Unidos. Então, espelhando-se em países como o Brasil, nossa expectativa é de vender de 8 a 9 mil carros em um futuro breve”, afirmou Luís.

    
             BMW lidera mercado local com folga

    Assim como no Brasil, a BMW também ocupa o primeiro lugar entre as marcas de luxo no México. No ano passado, o grupo alemão vendeu 12.895 unidades da marca BMW e 4.017 veículos MINI, resultando em aumentos de 13,4% e 7,3%, respectivamente, em relação ao ano de 2020. 

    Somando as vendas das marcas de automóveis com os números da BMW Motorrad, o BMW Group obteve uma participação de mercado de 31,2%.

    O México ocupa o segundo lugar em todos os mercados onde o conglomerado alemão está presente na América Latina, perdendo apenas para o Brasil. Não por acaso, os dois países sediam as únicas fábricas do grupo na região.

    “Temos o compromisso de trazer ao mercado mexicano os lançamentos mais recentes das nossas marcas, juntamente com seu início de vendas mundial”, declarou Maru Escobedo, CEO para o BMW Group México.